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Muricy vê Santos com mais chance de vencer o Barcelona e descarta lado "paizão" com Neymar

Muricy Ramalho, campeão pelo Santos, chega à premiação dos melhores do Paulista - Leonardo Soares/UOL
Muricy Ramalho, campeão pelo Santos, chega à premiação dos melhores do Paulista Imagem: Leonardo Soares/UOL

Luiz Paulo Montes

Do UOL, em São Paulo

15/05/2012 06h00

Cinco meses se passaram após a goleada sofrida pelo Santos por 4 a 0 para o Barcelona, na decisão do Mundial de Clubes. Neste tempo, os espanhois perderam o Campeonato Espanhol, a Liga dos Campeões da Europa, e viram seu técnico, Pep Guardiola, pedir demissão. Enquanto isso, a equipe paulista deu a volta por cima e faturou o tricampeonato paulista. A admiração de Muricy Ramalho pelos "inimigos" do Japão segue a mesma. Mas, se a partida do dia 18 de dezembro fosse realizada hoje, talvez o resultado fosse outro. Pelo menos na opinião de Muricy, revelada em entrevista exclusiva ao UOL Esporte, nesta segunda-feira.

"O nosso time está melhor fisicamente. Se fosse hoje, ia melhorar muito e as nossas chances seriam bem melhores, com certeza. A gente ia jogar bem melhor. Eles estão em fim de temporada, e é sempre desgastante. É normal, qualquer time sente. Nós, hoje, estamos no começo de tudo e isso conta", afirmou o comandante.

No Santos, o bom ambiente do grupo é outro fator que tem chamado a atenção e sido apontado com um dos grandes motivos do sucesso da equipe. Ciúmes do grupo em relação a Neymar? Muricy garante que, no Santos, não existe vaidade. E, em relação ao camisa 11, artilheiro e um dos responsáveis pelo tricampeonato, o técnico não se vê como um paizão. "O pai dele está sempre presente. Eu sou é parceiro dele", brincou o técnico, de 56 anos.

Confira abaixo a entrevista completa, concedida por telefone.

UOL Esporte: Depois do tricampeonato, dá tempo de ficar feliz com o título ou o pensamento já é na Libertadores?

Muricy Ramalho: A palavra não é nem feliz. Eu acordo aliviado, é isso que um técnico sente. A responsabilidade é muito grande, o  Morumbi tinha 50 mil pessoas e milhões de santistas em casa com esperança do tri. Sou o responsável pela alegria ou tristeza. Quando não acontece (o título), a gente é sempre criticado pelos fracassos. Então, me sinto mesmo é aliviado, pela responsabilidade que tenho com o time.

UOL Esporte: O Neymar é o melhor jogador com quem você já trabalhou nesses anos de carreira?

Muricy Ramalho:  Com certeza é, disparado. Ele é fora de série. É difícil ter um cara assim, e vai demorar muitos anos para se ter outro como ele. Os treinadores que trabalharem com ele vão dizer isso. Temos um dos melhores do mundo aqui. É craque, é gênio.

UOL Esporte:  Você interfere na agenda pessoal do Neymar, com patrocinadores, compromissos, etc? É consultado sobre algo?

Muricy Ramalho: Não sou o tipo de pessoa que me meto na vida de ninguém. Peço aos dirigentes, ao supervisor, que são mais próximos de quem gerencia a carreira do Neymar, para que quando temos um jogo importante, ou sequência de jogos grandes, que sigam nossa programação e deem descanso ao garoto. Ele é uma joia. Eles entendem isso e seguram o menino. Eu não me meto em nada. Nem na agenda dele nem na de ninguém. Eu cobro muito no dia a dia, em campo, nos treinamentos. Fora, não quero saber. Por isso tenho relacionamento bom com todos. Tenho facilidade de fazer bom ambiente nos lugares que eu vou. As pessoas se entrosam comigo.

FÃ ARRANCA BRINCO DE NEYMAR, IRRITA O JOGADOR E É AGREDIDO POR SEGURANÇA

  • LEO BARRILARI/FRAME

    Como de costume, a chegada de Neymar em eventos é bastante tumultuada, com a presença de dezenas de fãs e repórteres. Nesta segunda-feira, no prêmio da FPF (Federação Paulista de Futebol), a história se repetiu, mas acabou com um problema para o craque. Um fã foi tietar o santista e acabou arrancando o brinco do jogador. Assim que percebeu a falta, o camisa 11 ficou bastante nervoso e recuperou a joia graças a seu segurança, que partiu agrediu o garoto.

UOL Esporte:  Como trabalhar o ego dos outros jogadores com  tanto assédio sobre Neymar?

Muricy Ramalho: No Santos essas vaidades não existem. Os jogadores olham os caras que comandam. Eu sou discreto no que eu faço, não sou de querer aparecer. Os dirigentes do Santos também são assim. E isso passa para os jogadores. Ninguém quer aparecer mais do que o outro. Todos sabem que o Neymar é craque, é gênio, é diferente. E todos aceitam numa boa. Todos têm sua força no grupo. O Neymar é fora de série e como pessoa é incrível. Está sempre contente, alegre e é amigo de todo mundo.

UOL Esporte:  No Santos, a imagem que passa é que você tem sido um "paizão" para o Neymar. É isso mesmo?

Muricy Ramalho:  Eu não sou um paizão, mesmo porque o pai dele está sempre presente. Eu sou é parceiro dele, entendo a juventude dele. O que chama a atenção é que eles me entendem, me aceitam. Eu não me meto na vida deles e isso facilita. Respeito tudo que eles gostam. Não implico com manias, como ele se veste, do que ele gosta de fazer. Eu trato ele igual a todos os outros. Não fico o tempo todo em cima dele e não fico bravo com qualquer porcaria. 

UOL Esporte:  Se o Santos jogasse com o Barcelona hoje, a chance de ganhar era maior?

Muricy Ramalho:  O nosso time está melhor fisicamente. Se fosse hoje, ia melhorar muito e as nossas chances seriam bem melhores, com certeza. A gente ia jogar bem melhor. Eles estão em fim de temporada, e é sempre desgastante. É normal, qualquer time sente. Nós, hoje, estamos no começo de tudo e isso conta. Mas os caras jogam muito. No ano passado era muito difícil. A gente estava no fim do ano, cansados, e eles estavam 100%, vindo da pré-temporada. Complica mais ainda.

UOL Esporte:  No Paulista, o Santos foi o segundo melhor time em acerto de passes e o quarto em dribles. A equipe estar tocando mais a bola é uma das lições aprendidas na derrota para o Barcelona?

Muricy Ramalho:  A gente tinha que aprender algo. O Barcelona deu lição e depois desse jogo nós ficamos fãs deles. Chegamos a começar treino mais tarde para ver eles jogarem. É um time que é exemplo para todos. Nós melhores muito nesse sentido de posse de bola depois do jogo contra eles. Ficamos mais com a bola, até porque a qualquer momento o Neymar vai para o gol e decide. Damos poucas chances para o rival quando temos a posse, assim como o Barcelona.

UOL Esporte:  O time deste ano, campeão paulista, é melhor que o time do ano passado, que ganhou a Libertadores?

Muricy Ramalho: O time do ano passado ganhou o Paulista e a Libertadores, por isso é melhor. O outro ganhou muito e isso conta. Este ano a gente tem mais opções do que o ano passado, contratamos bem e isso é importante. Mas não quer dizer que o time é melhor. 

UOL Esporte:  O fato de ter optado por Alan Kardec no time titular nos últimos jogos significa que, hoje, ele é o seu escolhido, deixando o Borges no banco daqui para frente?

Muricy Ramalho: Não. Daqui a pouco o Borges pode entrar e jogar junto. O Kardec já fez a função do Ganso no ano passado. Pode ser que aconteça de novo, já que o Ganso vai para a seleção. Depende do momento. Um dia jogou o Elano, no outro o Ibson, agora o Elano de novo. O Borges tem a minha confiança, é um cara que eu levei para onde fui. Conheço faz tempo e ele sempre correspondeu. Daqui a pouco ele entra, faz gol e pronto. 

UOL Esporte:  Aos 56 anos de idade, você já pensa em aposentadoria?

Muricy Ramalho: Eu não tenho nada definido. Não penso em parar ainda. Quando eu chegar aos 60 anos, talvez eu pare para avaliar como estou. Ser técnico é desgastante demais. É muita viagem, esforço, treino, cansaço. Como eu estou bem de saúde, vou seguindo em frente. Gosto muito do que eu faço. O dia que eu achar que não dá mais, eu vou parar. Por enquanto estou muito bem.

UOL Esporte:  Você pensa em um contrato mais longo com o Santos, até para poder trabalhar com mais segurança? (O atual vínculo vence no fim deste ano)

Muricy Ramalho: Quem queria contrato longo comigo era o Santos. Queriam um contrato de três anos, mas eu não quis. Aí, no fim do ano, se eles não estiverem satisfeitos comigo, podem me dispensar sem ter que pagar multa nenhuma. Para mim, esse contrato seria muito bom, pois seria o meu último contrato da carreira. Mas não penso assim. Eu me sinto bem na cidade, tenho amigos, casa lá e, por mim, ficaria até o fim no Santos. Mas sou realista, sei que para isso eu preciso ganhar, ser campeão. O futebol é assim.