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Agora no Cruzeiro, Raul Plasmann revela que deixou a TV por causa dos baixos salários

Ex-goleiro Raul, coordenador da base celeste, diz que não pretende voltar a ser técnico - Gabriel Duarte/UOL
Ex-goleiro Raul, coordenador da base celeste, diz que não pretende voltar a ser técnico Imagem: Gabriel Duarte/UOL

Gabriel Duarte

Do UOL, em Belo Horizonte

20/06/2012 06h00

Ídolo de flamenguistas e cruzeirenses, o ex-goleiro Raul Plasmann coordena há um ano e meio as categorias de base do clube celeste. É responsável por dar retorno dos R$ 8 milhões investidos pelo clube na revelação de talentos. Recentemente, depois de nove anos, ele teve a chance de ficar à beira do gramado novamente e treinar um time “B” do Cruzeiro, em excursão à Europa. Em entrevista ao UOL Esporte, o ex-comentarista da Globo e Sportv contou por que deixou as transmissões esportivas.

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    Raul: sem chances de defender times paulistas, após sucesso

Os baixos salários é que motivaram a saída do técnico. “Como veio gente nova, esses novos estão abrindo mão do salário para ter uma chance”, observou o ex-goleiro da camisa amarela, como ficou conhecido em seus tempos de Cruzeiro.

Raul compara a situação que viveu em sua carreira com a do goleiro Fábio, que apesar de manter alto nível de atuações, não tem uma chance de mostrar seu futebol na seleção brasileira. “Se você está mais perto da CBF, se está no centro que é Rio de Janeiro e São Paulo, a presença é mais forte. Se o Fábio estivesse jogando nesses lugares, a chance dele seria muito maior”, salientou.

O ex-goleiro, que fez dois jogos pelo São Paulo no início de carreira, quando foi incluído como contrapeso em negociação com o Cruzeiro após sofrer nove gols em dois jogos, conta que depois do sucesso nunca teve proposta para voltar ao futebol paulista.

UOL Esporte: Você teve oportunidade de ser treinador do Juventude, no Campeonato Brasileiro de 2003. Porém, não prosseguiu com a carreira. Depois de comandar o Cruzeiro pela Europa, estuda a possibilidade de voltar à beira do gramado.

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Os títulos não são as coisas que mais me agradam e sim os adversários que tive. Joguei contra Beckenbauer, Platini, Maradona, contra e a favor de Zico e Tostão, e contra o Pelé.

Raul, ex-goleiro do Cruzeiro

Raul: A direção do clube me pediu para viajar com esses jogadores, que não estavam sendo aproveitados e alguns saindo dos juniores, para ter uma visão mais perto do real, do que eles podem realmente apresentar. Eu não pensei em relação a isso. A resposta que vou dar é a mesma: estou muito bem aqui, mas é claro que você não pode dispensar uma oferta espetacular. Eu não tenho assim ideia de voltar, não estou traçando caminho para ter novamente oportunidade de treinar um time no Brasil, mas se vier proposta que a gente não possa recusar, obrigatoriamente eu tenho que pegar. Tem proposta que é irrecusável, mas como tenho quase certeza que não vai aparecer, vou continuar aqui na base do Cruzeiro.

UOL Esporte: Depois de trabalhar por quase sete anos como comentarista, você decidiu sair da televisão e rádio para assumir a coordenação das divisões de base do Cruzeiro. Quais foram os motivos da mudança? Você pensa em retornar para frente das câmeras?

Raul: O Sportv revolucionou isso aí, de trazer ex-jogadores para comentar, mas o salário é muito pequeno. Eu saí mais por duas coisas: fui tentado em vir para cá, porque você fica perto do campo, uma área que gosta de passar experiência para os meninos. Sempre quis fazer isso, mas nunca batalhei para isso. Saí da área da televisão por causa do dinheiro. Meu salário veio abaixando até um ponto. Eu ganhava por jogo também. Como veio gente nova, esses novos estão abrindo mão do salário para ter uma chance, a gente também compreende isso aí. Mas se chegar uma proposta muito boa, eu aceito também.

UOL Esporte: Antes de fazer sucesso em Cruzeiro e Flamengo, você teve uma pequena passagem pelo São Paulo, em 1965, e acabou não tendo sucesso. Por qual razão não aconteceu sua permanência? Depois de ganhar “status”, teve propostas para voltar ao futebol paulista?

Raul: Na minha estreia, perdemos por 5 a 0 para o Palmeiras, esteia horrorosa e eu não falhei em nenhum gol. No segundo jogo, no Torneio Rio-São Paulo, continuei e foi 5 a 4 para o Fluminense. Tomei nove gols em dois jogos. Esse jogo eu falhei em dois gols, era muito novo, tinha 17 para 18 anos e aí eu sai do time e acabaram vendendo-me para cá. Cheguei como contrapeso, mas acabei ficando 13 anos, isso foi bom. Não tive chances, nem oportunidades de voltar para São Paulo, mas tive uma carreira muito boa. Fui nove vezes campeão mineiro, ganhei duas Libertadores, ganhei Campeonato Brasileiro, ganhei cinco vezes o campeonato carioca, e o Mundial com o Flamengo. Os títulos não são as coisas que mais me agradam e sim os adversários que tive. Joguei contra Beckenbauer, Platini, Maradona, contra e a favor de Zico e Tostão, e contra o Pelé.  

  • Washington Alves/Vipcomm

    Raul diz que Fábio vive a mesma situação que ele quando goleiro em relação à seleção brasileira

UOL Esporte: O goleiro Fábio vem fazendo boas temporadas pelo Cruzeiro, mas é pouco convocado para a Seleção Brasileira. Você o considera injustiçado?

Raul: Vivi problema semelhante no Cruzeiro. Cheguei a ser convocado mesmo no Cruzeiro, mas engraçado que, quando fui para o Flamengo, no outro dia estava convocado para a seleção que iria para a Copa do Mundo da Espanha. No Morumbi, de manhã cedo, no dia anterior do jogo contra a Polônia, tive uma distensão muscular e fiquei quatro meses parado e acabei perdendo uma Copa do Mundo. Se você está mais perto da CBF, se está no centro que é Rio de Janeiro e São Paulo, a presença é mais forte. Se o Fábio estivesse jogando nesses lugares, a chance dele seria muito maior. Digo que há uma injustiça por ele não estar presente no grupo da Seleção Brasileira, mas não digo que seja perseguição. Goleiro é uma posição de confiança, cada um tem o seu.

UOL Esporte: Nos dois últimos Mundiais Sub-20, em 2009 e 2011, o Brasil teve como goleiros titulares dois atletas revelados pelo Cruzeiro: Rafael e Gabriel (vendido ao Milan). Qual deve ser o próximo jogador da posição a se despontar?

Raul: Temos um goleiro aqui, de 16 anos, que se chama Georgemy. Há 15 dias, mandei este goleiro, um juvenil, e o Robertinho (preparador de goleiros do profissional) não quer devolver. Ele está lá treinando bem lá. O Ygor foi chamado pela Seleção Sub-20 e não está no profissional. O cruzeiro é um time estrelado na posição. Temos aqui no pré-infantil, um goleiro chamado Lucas. Ele é um menino de 14 anos, ele mede 1,97 e pesa 100 kg e não é gordo, tem percentual de gordura impressionante. E é uma das promessas, ele é um monumento, é cedo para dizer sobre o futuro, mas a tendência é que ele seja mais uma dos grandes goleiros do Cruzeiro.

UOL Esporte: Há um ano e meio no Cruzeiro, você trabalhou no final da gestão Zezé Perrella e continuou com a presidência de Gilvan de Pinho Tavares. Que mudanças ocorreram nesta transição e como você convive com a pressão de revelar jogadores para a equipe profissional?

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    Com 'olho clínico', Raul aponta Georgemy, 16 anos (à esquerda) como goleiro com futuro muito grande

Raul: Teve problema no ano passado, com a base conturbada, mas logo a base se recuperou, com a saída de algumas pessoas, e hoje tem um grupo de profissionais competentes. O doutor Gilvan é de um caráter excepcional, conversei com ele, e o interesse principal dele é essa base aqui. A cobrança dele vai ser grande aqui, ele vai perguntar e a gente vai ter que fornecer. Tivemos problemas com as mudanças de treinadores no profissional. A cada mudança temos que construir um elo entre o profissional. Tomara que o Celso (Roth) continue para ter um bom trabalho. Estou me preparando para o ano que vem, no Campeonato Mineiro, colocar cinco jogadores da base no profissional. Esse é o único caminho, não tem outro jeito. Senão o clube quebra. 

UOL Esporte: Há dois anos, o Cruzeiro foi campeão brasileiro Sub-20. Porém, nenhum dos jogadores que participaram da campanha está sendo aproveitados no time titular. Por qual motivo isso está acontecendo?

Raul: Quando cheguei há um ano e seis meses, conversei com o pessoal do profissional, para encurtar nosso relacionamento. Disseram-me que seria um elo, que deveria ver os meninos da base para passar informações. A gente gasta R$ 8 milhões por ano na base, então isso tem que dar resultado. Não deu para praticar tudo aquilo que a gente tinha combinado, por causa da mudança de treinador. O Cruzeiro foi campeão brasileiro há dois anos, não temos um jogador campeão jogando no profissional. Não é possível que nenhum campeão brasileiro possa dar algo para o profissional. A diretoria iria ficar feliz, mas lá em cima o problema é complicado.

UOL Esporte: Como você analisa o futebol de hoje em relação ao tempo em que era jogador?

Raul: Fico horrorizado hoje, para um time que é bom, não tem jogo fora. Não tem dessa. Se tem bom time, a minha casa é o campo. O que a La Bombonera tem diferente do estádio Independência? Se tivesse torcedor dentro do campo, aí sim. Ganhei título lá fora contra o Santos, com o Flamengo ganhei contra o Grêmio, jogamos em Tóquio com o Flamengo e ganhamos também. Fico bravo quando o cara fala que o jogo é difícil. A gente sabe que é falta de confiança, personalidade do jogador para falar isso. Eu falava que meu Maracanã, Pacaembu era dentro de campo. Então jogador de time que é bom, não tem problema em jogar fora.