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Ramon faz 40, não projeta fim e culpa base pela quase extinção do meia pensador

O meia Ramon, que atua no Joinville, viveu seus melhores momentos no Vasco - André Arruda/ Agência O Globo
O meia Ramon, que atua no Joinville, viveu seus melhores momentos no Vasco Imagem: André Arruda/ Agência O Globo

Fernando Stella

Do UOL, em São Paulo

30/06/2012 06h00

Basta conversar poucos minutos com Ramon para perceber um atleta tranquilo sobre seu futuro no futebol. O meia do Joinville completa 40 anos neste sábado e ainda não pensa em parar. Se tiver que se aposentar, admite estar totalmente preparado e com o ‘dever cumprido’. Só tem um detalhe que o deixa um pouco incomodado. A escassez no futebol brasileiro daquele ‘meia pensador’, que ergue a cabeça e deixa o companheiro na cara do gol, algo que marcou parte de sua carreira.

Ramon sempre foi lembrado pela eficiência nas cobranças de falta e pelo toque refinado no meio campo. Hoje, encontra dificuldades para até lembrar nomes de jogadores com esse estilo tão desejado pelo próprio técnico Mano Menezes à seleção brasileira.

AUGE NO VASCO, 'REIZINHO' NO VITÓRIA E QUASE VINDA PARA O CORINTHIANS

O currículo de Ramon é extenso. Passou por Cruzeiro, Atlético-MG, Vasco, Fluminense, Atlético-MG, Bayer Leverkusen e Vitória, onde foi homenageado como ‘Reizinho da Toca” (foto). Aliás, o Vasco foi seu auge. Conquistou quase tudo. Libertadores, Brasileiro, Carioca e Rio-São Paulo. Lá, pensou que poderia ir à seleção. Não acabou sendo lembrado. Só foi quando jogava pelo Fluminense --disputou a Copa das Confederações de 2001.

Também não atuou no futebol paulista. Esteve perto de jogar pelo Corinthians. Só não veio por causa de uma ligação do então presidente do Fluminense, Eduardo Fischer, em 2001. “Estava no aeroporto aguardando uma definição com o Corinthians. Mas o Fluminense foi mais rápido”, recorda.

“Ganso [Santos], Oscar [Internacional] e Coutinho, que passou pelo Vasco, Internazionale. Gosto do futebol dele”, lembrou ao UOL Esporte. E só. Pensa, pensa e não se recorda de mais ninguém. E tem a reposta na ponta língua ao ser questionado de quem é a culpa pela quase extinção desse tipo de jogador: das categorias de base.

“O problema é a base do time. Antigamente, treinava-se no esquema 4-4-2. Descobria-se muitos meias. Hoje, as equipes treinam com três volantes e até três zagueiros. Assim, fica muito complicado encontrar algum meia. É muito difícil. As categorias de base também são cobradas por resultados. Isso não deveria acontecer”, acrescentou.

Durante boa parte de sua carreira, Ramon conviveu com muitos desses ‘meias que jogam com a cabeça erguida’. De Felipe e Juninho Pernambucano, que ainda jogam pelo Vasco, a Djalminha e Rivaldo. “Infelizmente, o futebol mudou muito. A força física e a velocidade viraram prioridades nos dias de hoje. Falta qualidade técnica”, destaca.

Continuar ou parar? Só no final do ano

Ramon chega ao seleto grupo de atletas com 40 anos em atividade. Apenas ele e o goleiro Harlei, do Goiás, têm essa idade nos clubes que disputam a Série A e a Série B do Brasileiro. Um privilégio para o meia, que ainda não pensa em parar. Mas isso depende muito do que vai ocorrer nesses próximos seis meses pelo Joinville.

“Estou voltando de lesão. E os constantes problemas musculares podem atrapalhar. Preciso de uma sequência de jogos. Quero estar bem e saber que posso ajudar o clube. Isso é fundamental para saber se continuo ou não. Ainda vejo meu futuro como uma interrogação”, disse.

No futebol, ainda são vários jogadores considerados ‘veteranos’ em atividade. Rogério Ceni, Paulo Baier, Zé Roberto, Iarley, Índio (Internacional). O mais novo integrante dessa ‘classe’ é Dida, que, após dois anos longe do futebol, fez sua estreia pela Portuguesa. “É muito legal vê-lo voltar ao futebol e mostrar que ainda pode ajudar”, finalizou Ramon, que ainda espera ajudar o futebol brasileiro. Seja dentro ou fora dos gramados.