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Primeiro ministro britânico pede desculpas por atitude da polícia em desastre de Hillsborough

Em 2009, quando a tragédia de Hillsborough completou 20 anos, torcedores penduraram camisas e cachecóis no portão do estádio - Phil Noble/Reuters
Em 2009, quando a tragédia de Hillsborough completou 20 anos, torcedores penduraram camisas e cachecóis no portão do estádio Imagem: Phil Noble/Reuters

Das agências internacionais

Em Londres

12/09/2012 11h30

O primeiro ministro do Reino Unido, David Cameron, pediu desculpas na manhã desta quarta-feira pelo erro de avaliação do governo cometido no desastre ocorrido no estádio Hillsborough em 1989. Na ocasião, torcedores do Liverpool ficaram esmagados em uma arquibancada, vitimando 96 pessoas. Na época, a polícia britânica culpou os próprios fãs pelo acidente.

Cameron apresentou um relatório independente que indicou que a polícia da época culpou os torcedores para encobrir as próprias falhas no processo e tirar a responsabilidade das suas costas pelas mortes – por terem permitido a entrada de fãs em excesso nas dependências do estádio Hillsborough.

Na ocasião, o Nottingham Forest, time da casa, e o Liverpool faziam a semifinal da Copa da Inglaterra. O incidente se deu na parte destinada à torcida visitante. A arquibancada, superlotada, fez com que fãs ficassem esmagados, e muitos deles vieram a falecer ao ficar presos entre as ferragens do estádio. Outros chegaram até a cair no gramado.

A investigação, que durou cerca de dois anos após a tragédia, apontou que a polícia qualificou os torcedores dos Reds como “agressivos”, “bêbados e sem ingresso”, e “empenhados em invadir o estádio já lotado”. A polícia, ainda, trabalhou junto a alguns jornais para publicar notas em que reafirmava a culpa dos fãs no caso.

“Essa tragédia nunca deveria ter acontecido”, afirmaram os autores do relatório, em comunicado. “Existiram claras falhas operacionais que motivaram o desastre e eles foram enérgicos ao desviar a culpa para os fãs”.

O relatório afirmou, ainda, não ver razão no pedido do coronel responsável para tirar amostras de sangue de todos os torcedores à procura de álcool, inclusive das crianças. E que, apesar do plano de gestão da polícia ter sido “prever a desordem”, o necessário para a ocasião era cuidar da entrada de torcedores no estádio, que não estava dentro das normas de segurança para receber um público tão grande.

“Foi um dos maiores desastres do último século”, afirmou Cameron. “É um erro que as famílias tenham tido que esperar tanto tempo – e lutado tanto – apenas para saber da verdade. E foi errado como a polícia alterou a avaliação de como aquilo aconteceu, tentando culpar os fãs”, lamentou.

Alguns torcedores de Liverpool ainda boicotam os jornais que no passado os acusaram de condutas como roubar aqueles que morreram na tragédia, urinar nos policiais e espancar até a morte um dos oficiais. Os executivos dos periódicos chegaram a pedir desculpas oficialmente pelas manchetes publicadas.

Steven Gerrard, capitão do Liverpool, se pronunciou sobre o caso. Um de seus primos morreu na tragédia. Em comunicado oficial no site do clube, ele comemorou a retratação das autoridades no caso após a exibição do relatório nesta quarta-feira.

"A coragem e dignidade mostrada pelos familiares de Hillsborough e seus sobreviventes são um exemplo para todos nós. Por 23 anos elas lutaram por verdade e justiça para as vítimas e sobreviventes desta terrível tragédia. Vítimas e sobreviventes sofreram não só no dia 15 de abril de 1989, mas ao longo de mais de duas décadas pelas vergonhosas calúnias sobre as ações deles pelas pessoas que abusaram do seu poder e de sua posição".

"Falando como alguém cuja família sofreu diretamente, eu sei o sofrimento e a dor que ficaram. Mesmo assim, espero que o relatório de hoje traga algum conforto agora que todos sabem o que aconteceu naquele dia".