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Paulo Nunes diz que faz seu 'dia de beleza' e relembra apalpadas das fãs: "Aproveitei muito"

Paulo Nunes comemora gol pelo Palmeiras vestindo uma máscara de porco - Evelson de Freitas/Folhapress
Paulo Nunes comemora gol pelo Palmeiras vestindo uma máscara de porco Imagem: Evelson de Freitas/Folhapress

Luiza Oliveira

Do UOL, em São Paulo

28/09/2012 06h02

Paulo Nunes jamais foi considerado padrão de beleza entre os boleiros. Mas mesmo não tendo sido nenhum Cristiano Ronaldo ou Kaká, que colecionam gritos histéricos por onde passam, o ex-atacante e ídolo de Grêmio e Palmeiras jura que provocava furor nas mulheres, a ponto de ser "apalpado".

Vaidoso e autoconfiante, o aposentado Diabo Loiro cuida melhor do corpo agora do que na época de jogador quando se deixou seduzir pelas delícias do Rio de Janeiro no início da carreira. Em Goiânia, malha firme, modera na bebida e tem um 'dia de beleza' por semana. Tudo isso o ajuda a defender sua tese de que pode não ser lindo, mas é um "homem completo" para as mulheres.

“Tenho um corpo bonito, sou atraente, legal. Me visto bem. Sou bem sucedido, sei me comunicar bem. Juntando tudo (risos)... tem caras lindos que se tornam feios e ridículos e existem os caras bons que se tornam lindos.Me encaixo aí”.

Em entrevista exclusiva ao UOL Esporte, ele relembra histórias da época de jogador e valoriza seu estilo provocador e irreverente, escasso no futebol atual. Também fala sobre a vida de empresário e dá opiniões sobre assuntos atuais como a crise do Palmeiras e seleção brasileira.

EX-ATACANTE RELEMBRA PROVOCAÇÕES ENTRE RIVAIS: "FUTEBOL ERA IGUAL UFC"

  • Paulo Nunes ficou marcado pelas provocações aos rivais. Antes dos jogos dava declarações polêmicas que estampavam as capas dos jornais. Nas comemorações dos gols, usava máscaras como de porco, Mister M, Feiticeira e Tiazinha. O jogador defende a irreverência daquela época e diz: “Futebol era igual UFC”.

    “Na época, eu jogava com as máscaras guardadas no calção... de porco, de saci contra o Inter, da Tiazinha. Provocava Edilson e Marcelinho antes mesmo do jogo. Era igual ao UFC hoje. Todo mundo se provocava, vendia capa de jornal e de revista”.

    Hoje, o Diabo Loiro vê com tristeza a rigidez da arbitragem ao punir os jogadores nas comemorações dos gols. Um dos exemplos recentes mais emblemáticos é Romarinho, que levou o cartão amarelo no clássico contra o Palmeiras por celebrar o gol do Corinthians perto da torcida rival. Na visão do ex-jogador, as provocações são saudáveis.

    “Nós, atacantes, sofremos pressão por todos os lados. No momento em que você faz o gol fica em êxtase, expõe a alegria que fica à flor da pele. Imagina você com um estádio lotado não poder comemorar? Isso é um absurdo. Sou a favor de fazer dancinha, provocar, imitar o símbolo rival. O Romarinho fez o gol do lado da torcida do Palmeiras e simplesmente comemorou. Ele teria que correr 100m até o outro lado? Ele estava cansado. Isso não existe! Se eu jogasse hoje pararia e pediria para todo mundo fazer silêncio”.

Sua carreira terminou aos 32 anos quando defendia o Mogi Mirim. Como foi esse período para você? Chegou a fazer terapia?

Quando os médicos disseram que meu joelho estava passando do ponto, eu comecei a trabalhar também a parte psicológica. Fiz bem a transição e entrei num mercado totalmente diferente. Fiz terapia por seis, sete anos. Sempre me preocupei com isso por ser muito caçado em campo, visado. Foi válido. Vejo jogadores que pararam e ainda buscam a fama. Eu não tenho isso. Não tenho aquela loucura que tinha na minha vida e não gosto de ir a estádio. Fiz história em vários clubes, tive assédio, fui capa de revista, entrei em polêmica, mas acho que vivi o que tinha para viver.

Como está sua vida hoje?

Hoje vivo em Goiânia, onde não joguei e não tem assédio como tinha. Tenho vários pedidos de entrevista e até para ser comentarista de TV em São Paulo. Mas eu tento evitar porque me expus muito no futebol. Minha vida é tranquila e vou ao escritório todos os dias cuidar dos negócios. Tenho uma empresa de produtos de limpeza, sou sócio-investidor de uma construtora de condomínios, sou dono da fazenda Recanto do Sabiá que tem criação de gado e plantação de feijão, principalmente. Também tenho um centro esportivo com quadras de futebol com campos sintéticos onde alugamos as quadras.

Você foi ídolo no Palmeiras e conquistou títulos importantes com a Libertadores de 1999. Hoje, o time está seriamente ameaçado pelo rebaixamento. Como vê a atual fase da equipe?

A sorte do Palmeiras é que existem times piores, uns cinco ou seis. A saída do Felipão complica, era a única pessoa que tinha forças. O time é fraco, o Palmeiras não tem grandes jogadores, mas se uniram pelo Felipão. Ainda tenho esperanças em função dos times piores. Vejo um percentual de 60%. Mas ficou muito difícil e estou preocupado. A torcida cobra muito, tanto que a delegação foi para Itu fugir da torcida. Vai depender da força e da coragem dos atletas. Para jogar nessa situação tem que ter personalidade.

Você trabalhou com o Felipão no Grêmio e no Palmeiras. Como viu a última passagem dele no time alviverde?

Ele fez milagre para conquistar a Copa do Brasil. É verdade que a Copa do Brasil já não é mais tão difícil porque as equipes que disputam a Libertadores não participam. Só aí você tira seis equipes fortíssimas. Mas ele ganhou com uma equipe totalmente limitada, mascarou a equipe que tinha para o Brasileiro. Todo mundo via que esse time não podia seguir no Brasileiro e ele tirou água de pedra.

Você já declarou que o Felipão se preocupava com a vida fora de campo dos jogadores. Ele te deu muitos toques?

Ele foi meu segundo pai. Tem cara de bravo e quando tem que pegar no pé, pega. Mas se preocupa com a sua mãe, pensa na sua esposa, se você precisa de dinheiro, às vezes tira do bolso dele. Uma pessoa extremamente capaz e fora de série. Quando vou a São Paulo, a primeira pessoa que procuro é ele. Quando eu errava, ele puxava minha orelha. Eu gostava de dar uma saidinha. Tive professores fortes como Gaúcho e Renato Gaúcho (risos). Tinha o dia de dar uma saidinha, tomar minha cerveja. Ele falava ‘pode fazer, mas no momento certo’.


O Neymar é a única coisa que tem de bom no nosso futebol hoje. As pessoas falam que ele é cai cai, isso é bobagem. Eu não sou santista, mas vejo. O jeito de pegar na bola, de bater, tudo é diferente. Temos que cuidar dele se quisermos ganhar em 2014. Sem ele, não chegamos nem nas quartas. Mas acho que ele tem que sair do país. Se ficar, pode desanimar.

Paulo Nunes, sobre Neymar

Você se iludiu com a fama em algum momento?

Me iludi na época dos meus 18, 19, 20 anos. Eu vim de uma cidade do interior, chamada Pontalina-GO, de 14 mil habitantes. Cheguei ao Rio e fui campeão carioca com o Flamengo. Aproveitei muito, chegava atrasado ao treino e saí muito para a noite. O Rio é uma cidade muito sedutora. Achava que era o cara. Em 1992, 1993, senti o baque e tive uma contusão com 20 anos. Sei que foi pelos descuidos e excessos, por não fazer musculação correta e não treinar forte.

Você nunca foi um padrão de beleza, mas sempre teve fama de galã. Se envolveu com muitas mulheres mesmo?

Aproveitei muito, aproveitei bem. Como saía muito e gostava de música, me arrumavam várias affairs. Falavam da Suzana e da Joana (Suzana Alves e Joana Prado interpretavam as personagens Tiazinha e Feiticeira e faziam muito sucesso com o público masculino) que hoje são minhas amigas, são grandes pessoas. Sou até amigo do Vitor (Belfort, lutado de MMA e marido da Joana) e o admiro muito.

Fui casado por oito anos. Me casei com 17, 18 anos, tive filho com 18 e a mãe dele tinha 14, 15 anos. Ela não aguentou e nos separamos, mas reconheci que estava errado e somos amigos. O assédio era grande em todos os lugares, restaurante, balada. As mulheres atacavam mesmo, davam aperto na bunda, era uma confusão. Até hoje continua quando passo nas ruas. Acho que na época era maior porque eu era famoso, era ídolo do time delas. Hoje tenho noção que não sou lindo, mas sou completo (risos).

Completo em que sentido?

Tenho um corpo bonito, sou atraente, legal. Me visto bem. Sou bem sucedido, sei me comunicar bem. Juntando tudo (risos)... tem caras lindos que se tornam feios e ridículos e existem os caras bons que se tornam lindos. Me encaixo aí.

Você ainda gosta de balada?

Amo música eletrônica e continuo saindo para a balada, mas estou namorando. Até fui dono de uma balada em Goiânia, a ‘Deck Lounge’, mas vi que não era a minha porque queriam que eu estivesse lá direto. Não consigo ir dois dias seguidos, o corpo não aguenta mais. Me preocupo muito com malhação e de segunda a sexta não consumo bebida alcoólica. Só sábado e domingo. Também tenho que vir para o meu escritório todo dia.

Você disse que malha muito. Você é muito vaidoso?

A saúde vem em primeiro lugar. Hoje meu corpo é melhor do que quando eu jogava, malho bem e preparei pela saúde, mas também pela estética. Sou muito vaidoso, passo cremes e faço luzes no cabelo. Não chego ser a metrossexual, mas tenho meu dia de príncipe toda quarta-feira. Não faço unha porque me dá nervoso, mas tiro a sobrancelha porque a minha é muito grossa. Também faço massagem e hidratação.

Claro que vou torcer para o Corinthians contra o Chelsea. Tenho amigos lá, sou muito querido. Desde a presidência até o supervisor, massagista. Como posso torcer contra?

Ex-atacante diz que vai torcer para o Corinthians no Mundial de Clubes

É verdade que seu filho Luan tentou ser jogador de futebol e chegou a atuar no Flamengo? E o mais novo, Arilson Filho, fez oficina de atores da Globo? Você os incentivava?

O meu filho tentou e chegou a jogar no juvenil do Flamengo. Mas se apaixonou por uma menina e voltou para Goiânia. Mostrei para ele várias vezes que não era o melhor caminho. Tanto que depois terminou com a menina e não dava mais tempo para ser jogador. Mas torci para que não fosse. É uma profissão muito ingrata e acho que ele não tem esse jeito de jogador, essa malandragem. Hoje está muito feliz e faz Engenharia. O outro queria ser ator. Ele até participou da oficina da Globo, mas também descobriu que não era aquilo que queria. Hoje vai fazer Medicina e está estudando muito. Espero que passe no vestibular porque é um menino muito inteligente.

Você atuou em dois jogos pela seleção brasileira em 1997 e teve que disputar vaga com Ronaldo, Romário e Edmundo. Como foi sua passagem pela seleção?

Eu e o Edmundo pegamos a época do Romário e Ronaldo em melhores fases, e eles não queriam sair dos jogos, até faziam aposta de gol. Eu tenho orgulho de ter sido reserva dos dois. Foram os melhores do mundo que eu vi, fenômenos mesmo. O Zagallo disse que se eu não fosse para a Europa, eu tinha 98% de chances de ir para a Copa. Mas o aspecto financeiro pesou muito e eu tive que ir para o Benfica.

Como você vê a seleção hoje?

Hoje o nível é muito fraco. O atleta faz dois jogos no Campeonato Brasileiro e está na seleção. Eu tive que ganhar dois Brasileiros, duas Copas do Brasil, uma Libertadores e ser artilheiro de três competições para ser lembrado. Hoje, nós que somos do ramo não conhecemos os jogadores e está muito fácil ser vendido. O time não tem cara de seleção, parece um combinado para jogar em Tomazinho (bairro do município de São João de Meriti-RJ que tem um time local). Tirando dois craques, o resto é tudo japonês. Eu fui jogador e acompanho muito, mas não sei qual a escalação da seleção. Às vezes estou vendo jogo e mudou o canal porque não consigo. E não acho que seja culpa do treinador. Nem o Felipão daria jeito. O Mano está tentando refazer a seleção.

OS CLUBES DE PAULO NUNES

1990/1994

1995/1997

1997/1998

1998/1999

2000

2001

2002

2002/2003

2003
Flamengo

Grêmio

Benfica-Por

Palmeiras

Grêmio

Corinthians

Gama

Al-Nassr-ARA

Mogi Mirim

Após sua saída do Grêmio, em 1997, você foi jogar no Benfica. Mas sua passagem pela Europa durou apenas seis meses. O que aconteceu?

O Benfica não tinha dinheiro para me contratar. O presidente sofreu impeachment porque gastou um dinheiro que não tinha. Cinco meses após a minha chegada eles queriam abaixar meu salário e eu não aceitei. Até porque não envolvia só a mim, mas também empresário e clube. Por isso voltei. Mas achei a instituição maravilhosa, estrutura, comida, povo, tudo. Eu queria passar duas temporadas lá e ir para um clube grande da Europa. Nesse período, também sofri uma lesão no menisco e tinha um jogador que não foi com a minha cara (o atacante João Pinto). Falava mal de mim na imprensa e quando eu ia cobrá-lo ele dizia que não havia falado. Mas depois a gente se acertou e as famílias até jantavam juntas.

Depois de ser ídolo no Palmeiras, você enfrentou a pressão de jogar no Corinthians em 2001. Como foi sua relação com a torcida?

O Grêmio tinha me contratado e queria fazer o time dos sonhos, mas quebrou depois que fez a parceria com a ISL. Eles não tinham dinheiro para me pagar. Tive sondagens do La Coruña-ESP e do Flamengo, mas a única proposta oficial que chegou foi do Corinthians. Eu não sou um jogador de fugir de pressão, de torcida. Vi como mais um desafio na minha vida, depois de ser um dos caras mais odiados do clube. No início fui muito bem, deixava o Luizão na cara do gol e saí como o artilheiro do Brasileiro. Fomos campeões paulista. Depois, machuquei o joelho e fiz uma cirurgia.

Mas eu fazia gol e a torcida virava de costas e me xingava todos os dias. Eu ia para o treino com três, quatro seguranças para não ser agredido. Recebia ameaça por telefone e mensagens. Fiz boletim de ocorrência, mas vi que não daria em nada e percebi que não estavam mexendo só comigo, mas com a minha família também. Não tinha medo por mim, mas não queria expor meus filhos. Deixei o clube com sete meses de salário para receber e não quis R$ 1. Assinei a rescisão e abri mão de todos os meus salários porque não achava correto. Mas tenho o maior orgulho de ter vestido essa camisa.

Você se preocupou em ir para o Corinthians após ter uma passagem tão marcante pelo Palmeiras?

Me preocupei, porém era profissional. E não dependia só de mim, depende de clube, empresário, várias pessoas. Mas no fim só sobra para o jogador que é chamado de ‘mercenário’. Sei que sou idolatrado em alguns lugares, ganhei títulos inéditos, deixei um legado, fiz amizades e ganhei respeito. E também sou odiado em outros. Para mim, o ódio é o reconhecimento daquilo que fiz bem em outro clube. Se tivesse feito mal, ninguém lembraria de mim, como tem muitos por aí. Se sou lembrado, é porque fui diferente. E eu sempre busquei isso.

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