Fase ruim do Atlético-MG não tira sorriso de Ronaldinho, que encontra em Minas paz perdida no Rio

Há quatro meses no Atlético-MG, Ronaldinho Gaúcho não vive o seu melhor momento dentro de campo, em função da queda de rendimento de toda a equipe, que viu o Fluminense abrir seis pontos na liderança do Brasileiro. Essa situação, no entanto, não é suficiente para tirar a alegria do experiente jogador, que demonstra no comportamento do dia a dia e em suas declarações viver a fase mais feliz desde a volta ao Brasil, em 2011.

Longe das câmaras dos paparazzis, o que não acontecia no Rio de Janeiro, nos tempos de Flamengo, Ronaldinho Gaúcho tem motivos dentro e fora do campo para tanta felicidade. Tem canal de comunicação aberto e permanente com a diretoria atleticana, que cumpre com suas obrigações contratuais, e liberdade total da comissão técnica para criar jogadas. Assim, se firmou como protagonista do time e referência para os companheiros mais jovens, como o meia-atacante Bernard.

“Ele vive o melhor momento desde a sua volta ao Brasil, está feliz, adaptado a Belo Horizonte, ao Atlético, tem tudo o que precisa para jogar futebol. Eu também estou feliz pelo momento dele, retomou a felicidade e isso a gente vê em campo, nos treinamentos”, afirmou Roberto Assis, empresário e irmão do craque, ao UOL Esporte.

Em Minas, Ronaldinho, cujo contrato com o Atlético-MG se encerra em dezembro próximo, vive com discrição. Ele se comportou bem durante o período de concentração antecipada – dois dias antes de cada jogo –, que se encerrou oficialmente nesta semana, quando o grupo de atletas se concentra apenas nesta sexta-feira, para enfrentar o Figueirense, no dia seguinte, no Independência, às 18h30.

Depois de morar algum tempo no Ouro Minas, hotel cinco estrelas, Ronaldinho mudou-se para uma bela casa no condomínio fechado Estâncias das Amendoeiras, na agradável cidade de Lagoa Santa, vizinha ao Aeroporto Internacional de Confins, à Cidade do Galo, o centro de treinamento atleticano e perto do conforto e da modernidade oferecida por Belo Horizonte. Nessa residência, o jogador encontrou a privacidade que buscava.

Durante quatro dias da semana, Ronaldinho tem a companhia de Assis, que se divide entre Lagoas Santa e Porto Alegre. Na casa alugada no condomínio de alto luxo, o jogador atleticano não tem vizinhos próximos. Muitos moradores da Estâncias das Amendoeiras nunca o viram por lá. “Sei que ele alugou uma casa aqui, por causa dos comentários, mas nunca o vi”, disse uma moradora do local.

Segundo funcionários do condomínio, Ronaldinho sai pouco da sua residência, quando não está treinando, jogando ou viajando, sendo pouco visto pelas largas e arborizadas ruas. Em outro indicativo de uma vida bem mais tranquila em Minas, Ronaldinho deixou de lado os seguranças particulares que o rodeavam à época do Rio de Janeiro e anda pela capital mineira apenas com motorista, já que ele não gosta de dirigir.

Comida boa e mulheres bonitas

Em seus três primeiros meses de Atlético-MG, Ronaldinho foi reencontrando gradualmente o seu melhor futebol, enquanto ajudava de forma direta o time treinado por Cuca a assumir a liderança. O mês de setembro foi muito ruim para o alvinegro mineiro, que não vence há quatro jogos e enfrenta a desconfiança geral sobre as possibilidades de ainda conquistar o título.

Mas, o camisa 49 continua sorrindo, brincando com os companheiros nos treinos, atendendo com paciência e educação torcedores e fãs, de todas as idades, que o procuram para uma foto ou autógrafo. “Ele segue confiante que o título pode acontecer, não vai desistir e está focado nesta conquista que é muito importante para a carreira dele”, observou Assis.

Funcionários do Atlético-MG, que convivem diariamente com o ídolo, também atestam esse comportamento. “O Ronaldo está contente, ele é um jogador humilde, uma grande pessoa, com todo assédio que tem, está sempre de bom humor, é educado e atencioso. Ele não esconde para ninguém que está feliz com o time e com o futebol, já me falou isso várias vezes inclusive”, contou um dos seguranças do clube atleticano, encarregado de protegê-lo, quando está em horário de trabalho.

A culinária mineira também conquistou o camisa 49. Ronaldinho não esconde que o famoso pão de queijo, iguaria típica mineira e as comidas da região, como frango, feijão e o quiabo o “conquistaram”. “Pão de queijo é todo dia, bolo, a comida mineira é maravilhosa, não tem como não gostar, você come muito bem aqui”, salientou.

Belo Horizonte é conhecida por ter mais mulheres que homens e as belas mulheres também chamam atenção do jogador. “Sem dúvida, por onde você passa, vindo treinar, andando em Belo Horizonte, você vê que a cidade tem muita mulher bonita”, afirmou Ronaldinho, que não rende esse assunto. Logo ele destaca como foi bem recebido de uma forma geral. “Todos na rua me agradam, dizem estar felizes com o meu futebol, pedem para eu continuar. Isso me motiva”, enfatizou.

Sem regalias

Ao contrário dos tempos de Flamengo, Ronaldinho Gaúcho não tem regalias no Atlético-MG, onde teve de se adequar às normas. Concede entrevistas semanalmente e, nesses quatro meses, não faltou a nenhum treinamento. Passou pelo departamento médico apenas três vezes, sendo duas por causa de dores musculares e uma por gripe, mas só desfalcou a equipe contra o Bahia, no returno, por suspensão pelo terceiro amarelo.

Na próxima terça-feira, ele será julgado por causa de um chute no peito de Kleber, no empate com o Grêmio, por 0 a 0, no Independência. Mesmo sem ter sido expulso ou mesmo advertido com amarelo, foi denunciado por “jogada violenta”, pela Procuradoria do STJD, a partir de imagens de televisão, e pode ser suspenso entre um e seis jogos.

Do técnico Cuca, ele recebe cuidados especiais somente nas quatro linhas, já que não tem obrigação de marcar. Apesar de já ter tomado cinco cartões amarelos no Atlético, atuando centralizado, o atleta precisa apenas dar combate, sem ter de se desgastar para tomar a bola dos adversários.

Além disso, é a referência do time em campo, é quem chama jogo e a responsabilidade para si. É o “dono” do meio de campo atleticano. “Quando ele chegou, eu falei que ele seria a referência, a cabeça pensante do meu time e é isso que ele vem sendo, atuando como armador”, observou Cuca.

Fisicamente, Ronaldinho tem atenção da comissão técnica, que o enquadrou na carga de trabalhos que atletas da sua posição e da mesma idade realizam, mas também sem regalias. “Ele não tem nenhum trabalho diferenciado, faz o que todo atleta faz, o bom momento é todo mérito do jogador”, explicou Carlinhos Neves.

Diferentemente da época do Flamengo, quando foi contratado como o grande reforço do futebol brasileiro em 2011, mas com altos e baixos acabou perdendo o protagonismo com companheiros, no Atlético o jogador é a referência do clube. O camisa 49 tem transito aberto com todos os atletas e a comissão técnica, sempre sendo tratado como a estrela da companhia, fato que acontece também com os atletas da base.

“É fácil trabalhar com ele, ele está muito focado em jogar futebol, quer voltar para a seleção e sabe que pode ser o grande nome do Brasileiro. Não tivemos nenhum problema com o Ronaldo, que é referência para todos em campo”, disse um integrante da comissão técnica atleticana.

Ronaldinho Gaúcho é idolatrado pelos jogadores da base do time mineiro e tem contato direto com eles, principalmente durante os dias na Cidade do Galo. “Eu não perco oportunidade de assistir aos treinos do Ronaldo. Já conversei com ele, peguei autógrafo, tirei foto, ele é minha referência no Atlético”, afirmou João Paulo, atleta do time infantil alvinegro.