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Ex-técnico da seleção feminina vira auxiliar do Sport e dispara: "política venceu o esporte"

Kleiton Lima com a seleção no Pan de 2011; técnico decidiu apostar no futebol masculino - Divulgação
Kleiton Lima com a seleção no Pan de 2011; técnico decidiu apostar no futebol masculino Imagem: Divulgação

Gustavo Franceschini

Do UOL, em São Paulo

20/10/2012 14h00

O homem que comandava a seleção feminina de futebol e o maior time do país perdeu, em um ano, os dois empregos. Hoje, é auxiliar-técnico do Sport, que luta contra o rebaixamento para a Série B do Campeonato Brasileiro. Crítico com relação ao futuro da modalidade, Kleiton Lima fala sobre a instabilidade emocional de Marta e companhia e diz que a “política venceu o esporte” no episódio em que foi demitido do Santos.

“Desde o começo eles [diretores do Santos] olharam para a modalidade como um inimigo. A primeira grande coisa era me tirar para o projeto perder força. E aí aconteceu o que eu falei que ia acontecer quando eu saí”, disse Kleiton Lima ao UOL Esporte, referindo-se ao encerramento das atividades da equipe que existia desde 2007 e somou diversos títulos estaduais, o bi da Copa do Brasil e o bi da Copa Libertadores.

A estrutura do futebol feminino no Santos era um dos trunfos políticos de Marcelo Teixeira, que faz oposição à atual administração. Na época da demissão de Kleiton Lima, no fim de 2010, o Santos alegou que não poderia dividi-lo com a seleção brasileira. Murilo Barletta, à época diretor de futebol feminino do clube e hoje apenas conselheiro, rebate as acusações e aponta outros defeitos do ex-funcionário.

“Isso aí é história da carochinha. Ele saiu principalmente pela seleção. Ele se achava o Luxemburgo do futebol feminino. Queria mandar em diretor. Mas esse tipo de divergência eu administrei bem”, disse Barletta. O conselheiro afirma que o encerramento das atividades do futebol feminino, que aconteceria no fim de 2011, ocorreu apenas pela falta de patrocínios.

A despeito da briga com o Santos, Kleiton mantinha em 2011 o comando da seleção. Marta e companhia foram ao Mundial da Alemanha e perderam de maneira dramática, com direito a gol no último minuto da prorrogação. No Pan de Guadalajara, nova queda dramática, desta vez na final, e a demissão que veio poucos meses depois. O técnico viu “má vontade” da CBF quando ele tentou levar todas as jogadoras ao México, reclamou e não resistiu à pressão.

“O problema na época foi com a direção da seleção. A gente não tinha diretor desde que o Américo Faria saiu [em 2010]. Teve o Paulo Dutra, que cuidava da supervisão, administração e da direção. Não dava conta. Foi bem desgastante”, disse Kleiton.

Nos três anos em que esteve na CBF, ele só viu seu time ser derrotado uma vez (as eliminações no Mundial e no Pan aconteceram nos pênaltis). Kleiton identifica, no entanto, um padrão de eliminações traumáticas com Marta e companhia em campo.

“Elas precisam trabalhar esse equilíbrio emocional. Lá fora, quando uma jogadora chega na seleção adulta ela está preparada, também no aspecto emocional, e não sente tanto uma decisão”, resume o treinador, que faz coro com suas ex-atletas sobre a falta de condições de trabalho adequadas no futebol feminino.

O próprio Kleiton é uma prova do abismo entre os gêneros. Em sua incursão no futebol masculino, ele decidiu ser auxiliar-técnico de Sérgio Guedes, que ele conhecia da Baixada Santista. Juntos, os dois passaram por Red Bull, São Caetano e XV de Piracicaba antes de assumirem o Sport na semana passada. Para ele, a diferença é enorme.

“É muito mais fácil, em todos os aspectos. O trabalho é profissional, tem uma estrutura muito maior que no futebol feminino, com jogadores maturados. Os problemas de relacionamento são muito menores. Mulher verbaliza mais, se agrupa mais. Homem não, cada um tem sua vida”, disse Kleiton.