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Irreverente, Souza diz que futebol está "muito sério" e revela motivo de rusga com Roth

Souza diz que atualmente qualquer brincadeira vira motivação para o adversário - Washington Alves/Vipcomm
Souza diz que atualmente qualquer brincadeira vira motivação para o adversário Imagem: Washington Alves/Vipcomm

Gabriel Duarte

Do UOL, em Belo Horizonte

25/11/2012 06h01

Souza é um dos poucos jogadores do atual futebol brasileiro que sai do discurso comum e fala com sinceridade sobre assuntos que o envolvem. Irreverente por causa das brincadeiras que marcam sua carreira, o armador do Cruzeiro crê que o futebol está ficando “muito sério”. “Tudo o que você fala eles acham que é provocação e não veem pelo lado da brincadeira”, lamentou.

Quando atuava pelo São Paulo, Souza conta que era blindado pelo clube para não motivar o adversário, porém não resistia a uma troca de provocações com o ex-volante Vampeta, que defendia o Corinthians. “Era blindado no começo da semana para não falar nada diferente e eles acharem motivação, mas sempre a gente trocava algumas provocações, sempre de forma sadia”, afirmou.

Em entrevista exclusiva ao UOL Esporte, Souza comenta sobre sua personalidade e revela o motivo da “rusga” que teve com o técnico Celso Roth há três semanas, que o tirou da partida contra o Santos. Ele conta que o treinador comandava uma atividade na Toca da Raposa, mas o tempo de trabalho se excedeu e ele tentou intervir.

SOUZA ALEGA QUE MAL-ENTENDIDO CAUSOU O PROBLEMA COM TREINADOR

  • Washington Alves/Vipcomm

    Souza (e) explica desentendimento com o técnico Celso Roth, que o barrou durante o Campeonato Brasileiro: "Chegou diferente para ele, ou ele entendeu de maneira errada, e aí aconteceu tudo o que aconteceu. Mas, como disso, deito no meu travesseiro e durmo tranquilo, sabendo que não fiz nada de errado. Todos os treinadores que trabalhei gostam muito de mim e até me ligam hoje em dia".

“Cheguei para um dos nossos preparadores e pedi para chegar e conversar com o Celso para ter um pouco de bom senso, porque estávamos cansados. Chegou diferente para ele, ou ele entendeu de maneira errada, e aí aconteceu tudo o que aconteceu”, disse o jogador.

Aos 33 anos, Souza relembra bons momentos no São Paulo e afirma que, em 2013, vai mostrar que não é um jogador em fim de carreira. Com um pré-contrato com o Cruzeiro para o próximo ano, ele espera permanecer na Toca da Raposa e já planejou atividades durante as férias para, segundo ele, voltar “voando” na próxima temporada e mostrar que o “velhinho”, como ele se referiu, ainda pode “dar trabalho” aos adversários.

UOL Esporte: Você costuma fazer brincadeiras na Toca da Raposa, colocar apelidos nos companheiros do Cruzeiro, entre outras coisas. Como isso é encarado pelos profissionais?

Souza: Onde joguei isso sempre foi visto como um lado positivo. Essas brincadeiras são boas para descontrair no começo e fim do treinamento, porque durante você tem que ser sério. E nas concentrações também, onde a tensão é muito grande. Alguns treinadores até gostam de ter jogadores com esse perfil no elenco para ajudar a descontrair o grupo. A maioria não gosta nem de olhar para mim, porque já começa a rir e lembrar as brincadeiras. Agora, com o pessoal do Fluminense (último domingo, no Engenhão), os jogadores me reverenciaram, fui ao vestiário, fizemos brincadeiras e tudo mais.

UOL Esporte: O profissionalismo e até a seriedade têm sido cobrados cada vez mais às pessoas envolvidas aqui no Brasil. O Souza é um dos últimos irreverentes do futebol nacional?

Souza: O futebol está ficando muito sério e tudo o que você fala eles acham que é provocação e não veem pelo lado da brincadeira. Todo mundo comenta que o futebol brasileiro é alegria, descontração. Mas a partir de certo tempo as pessoas pegam tudo como motivação. Hoje em dia temos muitos heróis no futebol, muitos “sábios”. Todo mundo quer aparecer, falar mal. As pessoas interpretam como querem. Às vezes, você dá uma declaração, aí o cara fala que vai dar porrada no jogo. Eu não sou um cara de briga, não gosto de confusão, faço o meu trabalho da melhor forma possível, mas hoje em dia o futebol está ficando mais difícil.

UOL Esporte: Essa irreverência sempre o acompanhou na carreira. Como os clubes que você passou trataram essa situação? Já teve algum problema por causa disso?

Souza: Sempre todo mundo gostou do meu jeito, tenho muitos amigos no futebol e acho que sou muito querido por jogadores e técnicos. No São Paulo (entre 2003 e 2008), sempre tomavam cuidado quando era clássico com o Corinthians, por causa do Vampeta, que me pegava para a cruz e eu também. Já era blindado no começo da semana, para não falar nada diferente e eles acharem motivação, mas sempre a gente trocava algumas provocações, sempre de forma sadia. Nunca fui de fugir do que acho sobre o futebol e as pessoas. Minha história de vida, em que passei muitas dificuldades na infância, ensinou-me a não fugir do pau. Mas sobre algum problema, quase tive um em 2005, que quase ficou fora do Mundial de Clubes. Dei uma declaração de brincadeira sobre o Mundial, não me lembro mais o que foi. Falei em tom de brincadeira, divertimento. Mas alguns viram por outro lado e quase isso me custou minha ida.

UOL Esporte: Por ter esse lado irreverente, você possui muitas inimizades no futebol?

Souza: Não, deito todo o dia no meu travesseiro com a cabeça tranquila, que não tenho problemas com ninguém. Eu brinco com todo mundo. Eu não sou o Ronaldo, que é o cara da superação. Mas todos gostam de ficar do meu lado. Brinco com meus companheiros, mas só com quem brinca comigo. Os que não gostam, eu respeito. Sou muito feliz na minha vida, sou uma unanimidade entre os jogadores. Comigo não tem sacanagem, fofoca. Não sou de panela. Tenho muitas amizades. Vou levá-las para a vida inteira: presidente, jogador, treinador, motorista, cozinheiro, todos gostam de mim.

Na despedida de Roth da torcida, Cruzeiro recebe Coritiba, que busca ponto do alívio

  • Arte/UOL

    Contra o Coritiba, que ainda precisa de um ponto para se livrar de vez do risco de queda, o Cruzeiro se despede do seu torcedor, no Independência, sonhando com sua casa nova, o Mineirão, e com um ano melhor do que o atual. Na última rodada, o time celeste será visitante contra o Atlético-MG

UOL Esporte: Você falou sobre sacanagem, fofoca e panela no futebol. Há três semanas, você teve um mal-entendido com o técnico Celso Roth e ficou fora da partida contra o Santos. O que aconteceu para ficar fora?

Souza: Foi uma coisa muito tranquila, mas que acabou virando uma bola de neve e até falaram que sou um cara que desagrega grupo. Mas o Celso estava dando um treino e o tempo do treinamento se excedeu um pouco daquilo que a gente tinha combinado. Estávamos um pouco cansados, já por causa da maratona de jogos. Como um dos porta-vozes do grupo, cheguei para um dos nossos preparadores, o Flavinho (Flavio de Oliveira), e pedi para chegar e conversar com o Celso para ter um pouco de bom senso, porque estávamos cansados. Chegou diferente para ele, ou ele entendeu de maneira errada, e aí aconteceu tudo o que aconteceu. Mas, como disso, deito no meu travesseiro e durmo tranquilo, sabendo que não fiz nada de errado. Todos os treinadores que trabalhei gostam muito de mim e até me ligam hoje em dia.

UOL Esporte: Você ficou sentido com tudo o que aconteceu com você no Cruzeiro?

Souza: Fiquei muito sentido sim. Mas é do futebol. É um velho ditado: o mundo dá voltas. Daqui a pouco, tudo pode mudar. A pior coisa para o ser humano é quando ele olha para trás e fica arrependido. Fiquei triste, sim. Tenho um grande defeito, sou emotivo, as coisas me decepcionam muito rápido e guardo isso por um longo tempo. Mas já superei isso e quero continuar meu trabalho no Cruzeiro

UOL Esporte: O Cruzeiro tem um pré-contrato com você para o próximo ano. Você não teve muitas oportunidades na temporada, mas já disse ter pretensões de ficar no Cruzeiro em 2013. O próximo ano será diferente para o Souza?

Souza: Será um desafio. Mas vai ser diferente para mim e para o Cruzeiro. Não adianta. Não digo que sou uma Ferrari, longe disso. Mas não adianta você ter uma Ferrari na sua garagem e não usá-la. É igual no futebol. Bons jogadores têm que estar jogando. No jogo passado (contra o Bahia) entrei, mas contra o Fluminense o joão-de-barro (apelido do jovem meia Alisson) entrou no meu lugar. É o meu pensamento de ter mais oportunidades no próximo ano. Eu entrava como titular, fazia um primeiro tempo razoável e logo saía. Joguei pouco tempo. Já tenho uma programação para as férias de preparação como até os fisiologistas do Cruzeiro porque quero voltar voando para o próximo ano. Estou traçando metas para a temporada. Quero mostrar que o velhinho ainda consegue jogar bola e pode dar trabalho.

UOL Esporte: Com 33 anos, você já planeja pendurar as chuteiras?

Souza: Não é uma coisa que estou pensando ainda na minha carreira. Sei que está próximo isso, mas ainda não sei quando. Mas eu provavelmente devo encerrar minha carreira no CSA-AL, que foi onde tudo começou comigo e onde aprendi a maioria das coisas. Acho que seria justo para o clube, igual o que o Aloísio está fazendo pelo CRB. Mas, realmente, ainda não sei quando vou parar.