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Sepultado de frente para o Olímpico, idealizador do estádio 'zela' pelo Grêmio há 39 anos

Túmulo de Saturnino Vanzelotti, idealizador do Olímpico e ex-presidente do Grêmio - Marinho Saldanha/UOL Esporte
Túmulo de Saturnino Vanzelotti, idealizador do Olímpico e ex-presidente do Grêmio Imagem: Marinho Saldanha/UOL Esporte

Marinho Saldanha

Do UOL, em Porto Alegre

28/11/2012 06h00

O maior estádio particular do país no início da década de 50 nasceu na cabeça e no coração de um homem: Saturnino Vanzelotti. Presidente do Grêmio entre 1949 e 1954, foi com ele que o Olímpico surgiu. E o personagem fundamental nesta história que se encerra no próximo domingo - com o último jogo oficial do estádio gremista -  antes de morrer, fez um pedido: queria ser sepultado de onde pudesse observar o estádio e por consequência o Grêmio, para eternidade. Foi atendido. Até hoje repousa no alto do Cemitério João XXIII, e certamente, de onde estiver, derramará as mesmas lágrimas de um mortal, apaixonado pelo Imortal.

Olímpico refletido na lápide de seu criador

  • Saturnino Vanzelotti, mentor do estádio Olímpico

  • Arquibancadas de antigo estádio viram cemitério

Vanzelotti não tem só no Olímpico sua marca na história do Grêmio. Foi ele a quebrar a barreira do racismo no clube, contratando o primeiro negro a vestir azul, branco e preto: Tesourinha. Mas dos feitos, o que mais trazia orgulho ao mandatário, que assumiu o clube quando tinha 41 anos, era o estádio.

O Olímpico foi inaugurado no dia 19 de setembro de 1954. Último ano de gestão de Vanzelotti. O presidente acompanhou, antes, a escolha do projeto, o início das obras, a compra do terreno, tudo em uma época em que construções grandiosas não eram tão simples quanto hoje em dia. Um passo que fez do Grêmio maior, o início do caminho para glórias que seguiram.

Mas Saturnino não viu tanto quanto poderia. Já com 64 anos, ainda vivendo de amor ao Grêmio, ele veio a falecer. Quando? Exatamente um dia antes do estádio Olímpico completar 19 anos. No dia 18 de setembro de 1973. O enterro coincidiu com a data de aniversário do estádio; Sua obra. Seu legado. Seu filho.

A família atendeu o anseio, o último pedido do presidente Vanzelotti. E até aí o destino o reservou lugar entre os desportistas. O Cemitério João XXIII havia sido construído no local onde antes estava o Estádio da Montanha, de posse do Cruzeiro-RS. No pátio do cemitério até hoje seguem as arquibancadas da casa cruzeirista. Próximo a uma delas, no bloco 2 do setor 1, terceiro andar, repousa Vanzelotti, virado em direção ao Olímpico, que nos dias de sol faz questão de refletir em sua lápide.

Enfeitado por flores azuis, o local também recebe a esposa, falecida 15 anos mais tarde. E não é visitado frequentemente. "Alguns familiares comparecem, mas é raro. Não tem muita gente procurando ele não. Quem sabe agora com o fim do Olímpico", diz o diretor de atendimento ao público do cemitério, Carlos Augusto Rodrigues da Silva.

ARQUIBANCADA DO ANTIGO ESTÁDIO DA MONTANHA EM CEMITÉRIO GAÚCHO


E do alto da 'geral' do João XXIII, o presidente está cercado de outros gremistas. "É área nobre. Muitos pedem para ser enterrados virados ao estádio", disse Carlos, que revelou preço de R$ 17 mil para um jazigo perpétuo no local.

Os gremistas até então não reverenciaram o homem que os deu onde torcer, vibrar, cantar, viver as maiores emoções da vida. Do alto de um morro, com vista perfeita do que fez pelo futebol, Saturnino Vanzelotti, o espírito, certamente se prepara para uma punhalada, algo que doeria muito em um mortal: ver sua construção ser demolida.

O Olímpico ainda não tem data para implosão. Mas será entregue à OAS - empresa que construiu a Arena - e dará lugar a um empreendimento imobiliário já em 2013. Antes da tristeza, porém, a alegria do último jogo. Observado do alto pelo responsável por tudo isso, o duelo derradeiro será o clássico Gre-Nal que encerra o Brasileirão. O jogo ocorre às 17h do próximo domingo.

DETALHE DO REFLEXO DO OLÍMPICO NA LÁPIDE DE SATURNINO VANZELOTTI