Sepultado de frente para o Olímpico, idealizador do estádio 'zela' pelo Grêmio há 39 anos
O maior estádio particular do país no início da década de 50 nasceu na cabeça e no coração de um homem: Saturnino Vanzelotti. Presidente do Grêmio entre 1949 e 1954, foi com ele que o Olímpico surgiu. E o personagem fundamental nesta história que se encerra no próximo domingo - com o último jogo oficial do estádio gremista - antes de morrer, fez um pedido: queria ser sepultado de onde pudesse observar o estádio e por consequência o Grêmio, para eternidade. Foi atendido. Até hoje repousa no alto do Cemitério João XXIII, e certamente, de onde estiver, derramará as mesmas lágrimas de um mortal, apaixonado pelo Imortal.
Olímpico refletido na lápide de seu criador
Saturnino Vanzelotti, mentor do estádio Olímpico
Arquibancadas de antigo estádio viram cemitério
Vanzelotti não tem só no Olímpico sua marca na história do Grêmio. Foi ele a quebrar a barreira do racismo no clube, contratando o primeiro negro a vestir azul, branco e preto: Tesourinha. Mas dos feitos, o que mais trazia orgulho ao mandatário, que assumiu o clube quando tinha 41 anos, era o estádio.
O Olímpico foi inaugurado no dia 19 de setembro de 1954. Último ano de gestão de Vanzelotti. O presidente acompanhou, antes, a escolha do projeto, o início das obras, a compra do terreno, tudo em uma época em que construções grandiosas não eram tão simples quanto hoje em dia. Um passo que fez do Grêmio maior, o início do caminho para glórias que seguiram.
Mas Saturnino não viu tanto quanto poderia. Já com 64 anos, ainda vivendo de amor ao Grêmio, ele veio a falecer. Quando? Exatamente um dia antes do estádio Olímpico completar 19 anos. No dia 18 de setembro de 1973. O enterro coincidiu com a data de aniversário do estádio; Sua obra. Seu legado. Seu filho.
A família atendeu o anseio, o último pedido do presidente Vanzelotti. E até aí o destino o reservou lugar entre os desportistas. O Cemitério João XXIII havia sido construído no local onde antes estava o Estádio da Montanha, de posse do Cruzeiro-RS. No pátio do cemitério até hoje seguem as arquibancadas da casa cruzeirista. Próximo a uma delas, no bloco 2 do setor 1, terceiro andar, repousa Vanzelotti, virado em direção ao Olímpico, que nos dias de sol faz questão de refletir em sua lápide.
Enfeitado por flores azuis, o local também recebe a esposa, falecida 15 anos mais tarde. E não é visitado frequentemente. "Alguns familiares comparecem, mas é raro. Não tem muita gente procurando ele não. Quem sabe agora com o fim do Olímpico", diz o diretor de atendimento ao público do cemitério, Carlos Augusto Rodrigues da Silva.
ARQUIBANCADA DO ANTIGO ESTÁDIO DA MONTANHA EM CEMITÉRIO GAÚCHO
E do alto da 'geral' do João XXIII, o presidente está cercado de outros gremistas. "É área nobre. Muitos pedem para ser enterrados virados ao estádio", disse Carlos, que revelou preço de R$ 17 mil para um jazigo perpétuo no local.
Os gremistas até então não reverenciaram o homem que os deu onde torcer, vibrar, cantar, viver as maiores emoções da vida. Do alto de um morro, com vista perfeita do que fez pelo futebol, Saturnino Vanzelotti, o espírito, certamente se prepara para uma punhalada, algo que doeria muito em um mortal: ver sua construção ser demolida.
O Olímpico ainda não tem data para implosão. Mas será entregue à OAS - empresa que construiu a Arena - e dará lugar a um empreendimento imobiliário já em 2013. Antes da tristeza, porém, a alegria do último jogo. Observado do alto pelo responsável por tudo isso, o duelo derradeiro será o clássico Gre-Nal que encerra o Brasileirão. O jogo ocorre às 17h do próximo domingo.
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