Coadjuvante de peso na era Ricardo Teixeira, Marco Polo del Nero se consolida como uma das principais forças da cartolagem do país na gestão de José Maria Marin à frente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol). Além da já conhecida ascendência sobre Marin, o presidente da FPF (Federação Paulista de Futebol) pode se gabar também da ligação com homens fortes da televisão, figuras importantes no jogo de forças dos bastidores. O UOL Esporte apurou que foi justamente o cartola quem intermediou acordo entre Fox Sports e Globo que deve movimentar o mercado de direitos de transmissão até o fim deste ano.
Atualmente, as duas emissoras travam uma disputa por direitos na TV paga. O Fox Sports tem a Copa Libertadores e a Copa Sul-Americana, enquanto a Globo conta com o Campeonato Brasileiro, a Copa do Brasil e uma série de outras competições. O problema é que a matriz americana do Fox Sports também tem outros contratos que ameaçavam o poderio da emissora carioca.
Nos Estados Unidos, a Fox é a maior parceira do UFC. Já na América Latina, é ela quem detém os direitos de transmissão da Fórmula 1 para a maioria dos países. No Brasil, a Globo detém a primazia sobre esses eventos tanto na TV aberta quando na fechada. Em um futuro próximo, no entanto, a empresa americana ameaçava concorrer de maneira agressiva com os brasileiros pelos dois contratos, o que traria um prejuízo considerável à grade do Sportv, que já sofreu neste ano sem a Copa Libertadores.
Nesse cenário, a Globo decidiu buscar uma solução com o concorrente. Para tanto, procurou del Nero e pediu que ele ajudasse no primeiro contato com executivos da Fox. A tarefa do cartola não foi das mais complicadas: além de contar com a força de sua atual posição, ele é muito próximo de Edu Zebini, vice-presidente do Fox Sports e homem mais poderoso da empresa no Brasil.
A partir daí, os executivos começaram a se entender. A negociação começou com a Globo querendo trocar Libertadores e Sul-Americana por Campeonato Brasileiro e Copa do Brasil, mas viu a proposta ser recusada. Para se comprometer a não interferir nos acordos já existentes da rival com UFC e Fórmula 1, a Fox exigiu competições de peso, como Copa do Mundo e Jogos Olímpicos.
Os detalhes ainda estão sendo avaliados entre as partes, mas a conversa está adiantada e já existem minutas de contrato circulando dos dois lados. O ponto que ainda está em discussão é a maneira como as emissoras dividirão os direitos das principais competições envolvidas.
A tendência é que Fox Sports e Sportv tenham preferência na escolha das partidas por rodadas em Libertadores e Brasileirão, respectivamente. O formato, no entanto, não está definido, e os lados veem como avanço o fato de terem acesso jornalístico a todos os vídeos dos torneios. Isso permite que em programas da grade os diversos ângulos e replays possam ser explorados à exaustão, o que valoriza esse tipo de atração.
Independentemente do acordo que sair, Marco Polo del Nero será um dos vencedores. Tradicionalmente, o papel de aliado das TV’s é fundamental no jogo de cartas do futebol. Além dessa influência, o cartola paulista ainda pode se gabar de seu espaço na CBF, onde é o vice imediato de Marin e virtual candidato à sucessão.
Na queda de Mano Menezes, por exemplo, ele mostrou todo seu poderio. Cenário impensável na gestão de Ricardo Teixeira, a demissão do treinador foi decidida em uma reunião na sede da FPF, por exemplo. Dias depois, na Soccerex, feira de futebol que ocorreu no Rio de Janeiro semana passada, Marin falou com a imprensa no estande da federação paulista, apenas passando rapidamente no espaço destinado à própria CBF.
Del Nero também é visto como um dos responsáveis pelo esvaziamento de Andrés Sanchez, seu possível rival na eleição de 2014, dentro da estrutura da entidade. Aos poucos, ele costura acordos para que sua ascensão se torne cada vez mais natural.
Todo este prestígio colocou Del Nero também na condição de alvo. Na última quarta, por exemplo, o ex-secretário-geral da CBF Marco Antônio Teixeira acusou o cartola de tentar um golpe na entidade. Mais que os críticos, o presidente da FPF virou manchete por ser investigado pela Polícia Federal na operação Drukheim, que trata de irregularidades como violações de bancos de dados e também crimes contra o sistema financeiro.
O UOL Esporte procurou o dirigente para comentar o assunto e deixou recados na caixa-postal de seu celular, mas não obteve respostas.