Na terra do Papai Noel, time natalino aposta na força do Bom Velhinho para ficar famoso

É véspera de Natal e o FC Santa Claus, da Finlândia, não tem nada o que comemorar. Os jogadores da equipe não se comportaram bem durante o ano e terminaram a temporada na oitava colocação entre os nove times que integram a terceira divisão do país. Resultado: nada do acesso à Segundona, presente mais esperado por todos. Apesar de tudo, a equipe sabe que sempre poderá contar com seu torcedor mais fanático: ele mesmo, o Papai Noel.

Fundado na cidade de Rovaniemi, na região da Lapônia (norte do país), conhecida por ser a “casa” do Bom Velhinho, o FC Santa Claus tem Papai Noel como seu patrono e símbolo. A figura do homem barbudo de roupa vermelha aparece no escudo do time, no merchandising oficial e até no campo de jogo, onde a figura natalina faz um bico como mascote. Uma lenda diz, inclusive, que a equipe foi fundada pelo próprio Papai Noel.

“Dizem que o FC Santa Claus foi fundado há centenas de anos pelo Papai Noel. De acordo com a lenda, os duendes gostavam de jogar futebol em seus momentos de folga, o que deu a ele a ideia de montar seu próprio time”, brinca Jukka Markkanen, meio-campista e assessor de imprensa do clube, antes de explicar ao UOL Esporte a verdade por trás da curiosa equipe.

“O time foi fundado em 1992, e jogou uma partida oficial pela primeira vez em 1993. Ele nasceu a partir da fusão entre duas equipes de Rovaniemi, e foi batizado de Santa Claus em homenagem ao habitante mais importante da nossa região”, conta o atleta, sobre a equipe que está comemorando sua segunda década de vida.

Santa Claus é o nome dado ao Papai Noel nos países de língua inglesa. Em Finlandês, o nome da lendária figura é Joulupukki. Sua casa, a “Santa Claus Village”, fica a oito quilômetros de Rovaniemi, dentro do Círculo Polar Ártico, e é um dos pontos turísticos mais visitados da Finlândia.

Atualmente, além da equipe de futebol, o time alvirrubro tem também um time de futsal, esporte que faz sucesso por poder ser jogado em ambiente fechado. Na Lapônia, as nevascas são constantes, o que impede a realização do futebol de campo durante todo o inverno.

Todos os jogadores do FC Santa Claus, aliás, são amadores, dividindo o tempo de treino e jogo com trabalhos como vendedor, pescador e bancário e também estudos.

“Nosso objetivo é dar ao pessoal da cidade uma oportunidade para jogar futebol aqui mesmo em Rovaniemi. Confiamos no pessoal daqui e queremos subir de divisão usando apenas atletas e treinadores locais”, diz Markkanen, que, além de jogar no meio-campo e atuar como assessor de imprensa do time, ainda trabalha como carteiro na cidade de 60 mil habitantes.

MARKETING E CARIDADE

A escolha do Papai Noel como patrono de time tem dois motivos. A primeira é que o Bom Velhinho ajuda nas principais jogadas de marketing do time, ajudando a espalhar o nome do FC Santa Claus pelo mundo. Essa, porém, não é a razão principal. Segundo a equipe, a meta é fazer caridade através de projetos sociais e espalhar o espírito de Natal através do clube e dos jogadores.

“O time usa a imagem de Rovaniemi como cidade do Papai Noel como estratégia de marketing. Queremos combinar o esporte mais famoso do mundo, o futebol, com uma das pessoas mais famosas do planeta, o Papai Noel. Com isso, conseguimos ficar famosos fora da Finlândia, e aparecemos em jornais como Gazzetta dello Sport (Itália) e Marca (Espanha) , comemora Jukka Markkanen.

“Além disso, é claro que temos os mesmos valores que o Papai Noel. Amor ao próximo e boa vontade são coisas que respeitamos e defendemos. Nosso time é conhecido como um dos melhores da Finlândia, e além disso contribuímos para manifestar esses valores, na esperança de que possamos ajudar os outros a fazerem o mesmo”, continua Juha Eteläinen, presidente do FC Santa Claus.

A história de projetos sociais do time já teve até parceria com a Unicef, o órgão da ONU para infância e juventude. Foi em 2010, quando a equipe doava 10 euros para cada camisa oficial vendida. O time também ajudou a levar água potável ao Sri Lanka, em um projeto conhecido como “Water Run”, entre outros projetos.

Atualmente, o clube tem seu próprio fundo de caridade, que é alimentado de diversas formas. A principal são as aulas de futebol na neve dadas aos turistas durante o inverno, mas o time também organiza partidas beneficentes de futebol e futsal e tem sua própria loja no Mercado do Papai Noel, uma das grande atrações de Rovaniemi durante o Natal.

“Nossa equipe visa criar um amanhã melhor, e é até um dever do time que leva o nome do Papai Noel ajudar as crianças por todo o mundo. Temos diversas ações de caridade e vamos procurar ajudar cada vez mais, de toda forma que pudermos”, afirma Jukka Markkanen, que, assim como seus colegas de equipe, se veste como os duendes do Bom Velhinho para dar aulas de futebol na neve aos turistas que visitam a Lapônia.

UM ANO PRA ENTERRAR NA NEVE

Se os projetos sociais do FC Santa Claus vão de vento em popa, o mesmo não se pode dizer do time em campo. A equipe vem de uma temporada sofrível, terminando na penúltima colocação de seu grupo na terceira divisão. Foram seis vitórias, seis empates e 12 derrotas durante o campeonato.

O bem-humorado presidente Juha Eteläinen, porém, parece não se importar com a má fase e prefere brincar ao ser perguntando sobre a temporada desastrosa: “Maus resultados? Não sei do que você está falando”, diz o finlandês. O clube alvirrubro só não foi rebaixado porque o HauPa terminou na última colocação da chave, sendo degolado.

“O Papai Noel acredita em fair play e sabe que, às vezes você ganha e às vezes você perde. Vencer não é a coisa mais importante para ele”, completa Jukka Markkanen.

O melhor ano da equipe foi em 2010, quando o FC Santa Claus terminou na liderança de seu grupo da Terceirona e precisava apenas vencer o HIFK no playoff para conseguir o acesso à segunda divisão. Uma derrota por 1 a 0, porém, colocou fim ao sonho e deixou o Natal dos jogadores mais triste.

“O acesso esteve muito próximo, mas nosso oponente acabou achando o gol da vitória perto do fim”, lamenta Markkanen, que esteve presente no fatídico jogo.

Dependendo da fase do time, o time do Bom Velhinho leva de 400 a 800 torcedores ao estádio Saarenkylän Ttekonurmi, com capacidade para 2 mil pessoas. A terceira divisão da Finlândia é disputada de abril a outubro, já que, no final do ano, a neve faz o torneio ser paralisado. Durante esta pausa, os atletas aproveitam para se dedicar com tudo ao trabalho e ao estudo, além de ajudarem nos projetos sociais da equipe.

AMOR AO BRASIL E PEDIDOS DE NATAL

O espírito natalino é a grande marca do FC Santa Claus. Na chegada do dia 25, a equipe aproveita até para fazer dois pedidos aos fãs de futebol ao redor do mundo.

“Os valores do Papai Noel estão em falta no mundo. Acho que todos deveriam parar por um segundo neste Natal e pensar no que eles podem fazer para ajudar os próximos”, pede o presidente Juha Eteläinen.

“E não podemos esquecer nunca dos jovens. Toda criança deve crescer em um ambiente saudável e ter a chance de brincar muito e aproveitar sua infância”, completa o dirigente, que é fanático pelo Brasil.

“Eu gosto muito do Brasil e também dos brasileiros. Estive aí (no Brasil) muitas vezes entre 2003 e 2005”, diz Eteläinen, que gosta de buscar refúgio nas belas praias do país quando as nevascas apertam de vez na Lapônia.

E, falando no Brasil, tanto jogadores quanto dirigentes admitem que gostariam de pedir ao Papai Noel uma vaga para a Finlândia na Copa 2014. Apesar disso, eles sabem que, apesar de residir na Lapônia, o Bom Velhinho é um torcedor de todos os países do mundo.

“Papai Noel com certeza vai manter os dedos cruzados pela Finlândia na busca pela vaga no Mundial de 2014. Sabemos, porém, que ele não pode torcer por nenhum país em especial, pois é um ícone de todo mundo”, diz Jukka Markkanen.

A Finlândia é a atual lanterna do grupo I (o mesmo de Espanha e França) das eliminatórias europeias para a Copa, com um empate e uma derrota até agora. Caso consiga uma classificação para a Copa 2014, ficará provado que, de fato, Papai Noel existe.