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Rojas tem doença silenciosa e aguarda "fila" para transplante; saiba mais sobre a hepatite C

Rojas (dir.) ao lado de Rogério Ceni, em 2011; doença foi contraída há cerca de 15 anos - Jorge Araújo/Folhapress
Rojas (dir.) ao lado de Rogério Ceni, em 2011; doença foi contraída há cerca de 15 anos Imagem: Jorge Araújo/Folhapress

José Ricardo Leite

Do UOL, em São Paulo

21/02/2013 06h00

Responsável pela necessidade de um transplante no ex-goleiro Rojas, a hepatite C é uma doença que atinge o fígado de uma pessoa e pode provocar fortes inflamações. Ela é viral (vírus VHC) e adquirida, na grande maioria dos casos, por contato com sangue ou transfusões, possibilidade esta apontada pelo chileno - ele realizou uma operação de vesícula há cerca de 15 anos e acredita ter sido esse o momento de contágio.

Os métodos mais comuns de transmissão são pelo compartilhamento de equipamentos para uso de drogas, uso de objetos pessoais de outra pessoa (como escova de dente, lâmina de barbear), confecção de tatuagens ou transplante de órgãos infectados.

"A transfusão de sangue era o principal motivo até o começo da década de 90. De lá pra cá ela passou por contato com o sangue, por material cortante ou perfurante, ou de uso coletivo compartilhado com mais pessoas, como injeções, tatuagem contaminada, piercing”, Roberto Foccatia, coordenador do grupo de hepatites do instituto de infectologia Emílio Ribas.

“Relação sexual não transmite, isso é muito questionado”, alerta Paulo Olzon, infectologista e clínico da Escola Paulista de Medicina.


Um dos fatos marcantes da doença é ela não gerar sintomas em muitas pessoas e por isso até ser conhecida como “Epidemia Silenciosa”. Sintomas mais fortes da doença só vão aparecer no estágio final, quando chega-se ao ponto de cirrose hepática ou até um câncer de fígado.

“Essa hepatite, do ponto de vista de agressão ao fígado, é pouco agressiva. A hepatite C muitas vezes é diagnosticada por acaso. Muitas pessoas passam a vida inteira com esse vírus e morrem de outras causas”, falou o médico  Roberto. “O que se pode fazer é em exame de rotina fazer pesquisa do vírus e enzima hepáticas. Se deu alterada é fazer sorologia pra hepatite C”, continuou.

"O que se recomenda é que pessoas de risco, como presidiários ou pessoas que usam drogas, especialmente. É recomendado que façam periodicamente um sorologia", endossou Roberto Foccatia.

De acordo com números de 2012, há no Brasil cerca de 1,5 milhão de infectados pelo vírus do tipo C. Por ano, são notificados mais de 33 mil novos casos de hepatites virais.

“Muitas pessoas não sabem que contraíram. Ela é uma doença muito silenciosa e que deveria ser mais divulgada para as pessoas. Se você conseguir descobrir antes, o tratamento é mais efetivo. Esse caso pode ser uma boa oportunidade para as pessoas se informarem”, falou Viviane, mulher de Rojas.

Transplante varia conforme prioridade

Na última quarta-feira Rojas era o número 257 de uma lista de 5 mil no estado para poder fazer a operação. A numeração da pessoa varia conforme o grau de urgência do transplante. O número e ordem são controlados pela Secretaria Estadual de Saúde, e não pelo hospital onde a pessoa infectada escolhe para ser atendida.

Como o que dita o ritmo do momento do transplante é a gravidade do caso, é comum que uma pessoa ocupe um número em uma semana e na outra esteja até mais atrás do anterior. O procedimento é conhecido como escala MELD (Modelo para Doença Hepática Terminal).

“O transplante de fígado é selecionado pela gravidade. Se, por exemplo, ele está em número 257, é que pela gravidade existem 256 e na frente dele. Se o quadro dele ficar mais grave, ele avança. É um critério conhecido como MELD. Pode ser que em outra semana ele esteja até em 280”, explicou José Medina Pestana, presidente da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos.

 “O que varia para o transplante do fígado é só por tipo de sangue, que tem que ser compatível, e pelo tamanho. Se é um fígado grande que não cabe em uma pessoa, vai pra uma pessoa maior”, continuou.

De acordo com a mulher do ex-jogador, Viviane, o casal tem que ficar o tempo todo preparado, pois a qualquer momento pode acontecer o chamado. "Temos que ficar sempre no telefone ligado, 24 horas por dia pra ligação e tem caso da compatibilidade sanguínea. O hospital liga e fala que tem que se apresentar. É rápido e tem que estar preparado”, falou a mulher do jogador.

Enquanto isso, Rojas faz tratamento em casa a base de alguns remédios, diuréticos e com alimentação sem sal.

HEPATITE C TEM ALTOS ÍNDICES DE INFECÇÃO ENTRE EX-ATLETAS

  • José Patrício/Folha Imagem

    Uma pesquisa realizada pelo Departamento de Medicina Social da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP mostrou, em 2010, que entre ex-atletas, profissionais ou amadores, que atuaram nas décadas de 1950, 1960, e 1970, existe uma alta prevalência de infecção do vírus da hepatite C. De acordo com o professor Afonso Dinis Costa Passos, que coordenou o estudo, isso se deve principalmente à aplicação de drogas injetáveis e ao compartilhamento de seringas. “Naqueles tempos era mais comum a aplicação de vitaminas e estimulantes nos atletas. As seringas eram de vidro e para a desinfecção passavam por um processo de fervura”, conta. A pesquisa envolveu 208 pessoas, todos ex-atletas profissionais ou amadores, de futebol e basquete, de Ribeirão Preto e de outras quatro cidades próximas. O trabalho de coleta de sangue foi realizado entre os anos de 2004 e 2007. Leia Mais.