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Após dar golpe em Amaral e Clebão, chileno deixa times do interior na mão

Cléber, o Clebão, será o treinador do Poços de Caldas, e Amaral o principal jogador (10/1/2013) - Blog do Vulcão/Rodrigo Fonseca
Cléber, o Clebão, será o treinador do Poços de Caldas, e Amaral o principal jogador (10/1/2013) Imagem: Blog do Vulcão/Rodrigo Fonseca

Francisco De Laurentiis e Mauricio Duarte

Do UOL, em São Paulo

14/03/2013 11h00

No início deste ano, um misterioso empresário chileno chamado Celestino Zapata ganhou notoriedade no meio do futebol por conta de um golpe dado na equipe do Poços de Caldas e no volante Amaral. Ele tentou repetir o esquema em outros clubes do interior do país, como a Desportiva Guarujá e a Independente de Limeira. Dirigentes dos clubes reclamam que Zapata está sumido e que foram enganados.

O UOL Esporte conseguiu o cartão de visitas de Celestino Del Carmen Villa Zapata, assim como seus telefones, para esclarecer a situação. Ele chegou a atender em uma ocasião, mas quando foi informado sobre qual seria o assunto, desligou e não atendeu mais. Foi deixado um recado em sua secretária eletrônica, mas não houve retorno.


O Poços de Caldas começou o ano de 2013 como uma das sensações do futebol no interior de Minas Gerais. Anunciou um grande investimento no clube, contratou o volante Amaral, o atacante Finazzi e o técnico Cleber, ex-zagueiro do Palmeiras. Em menos de três meses, os reforços abandonaram o time por falta de dinheiro, a equipe teve que encerrar suas atividades e, para completar, até uma parente do presidente teve sua coleção de camisas roubada. Tudo, segundo o clube, devido a um golpe de Zapata.

De acordo com Giovane Gaspar, presidente do Poços de Caldas, o suposto investidor roubou uma coleção de camisas pertencente a sua sobrinha. “Tenho uma sobrinha que tem uma bela coleção de camisas do time. Camisas de jogo, de torcida. Ele pediu emprestada para levar para São Paulo e nunca mais devolveu. E agora está sumido, não consigo contato”, reclama.

Marcos Bruno, hoje gerente de futebol do Independente de Limeira, também chegou a ser abordado por Zapata quando trabalhava na Desportiva Guarujá. O chileno se apresentou dizendo que queria investir cerca de R$ 125 mil para montar um time B e excursionar para fora do país. Fizeram três reuniões num hotel em São Paulo. Zapata queria fazer um contrato cuja primeira parcela do pagamento seria feita após 60 dias. O gerente desconfiou e não aceitou o acordo.

“Quando a esmola é muita, o santo desconfia. O investimento era muito alto. Não podia deixá-lo trabalhar 60 dias em nome do clube sem a gente ter recebido nada”, disse ao UOL Esporte. Segundo Marcos, o chileno é uma “pessoa muito vaga” e procura apagar os rastros que deixa. “Quando ele quer que você o entenda, fala muito bem português. Quando não, enrola a língua. Ninguém sabe qual é sua profissão, nem se sabe de onde ele veio”, afirmou.

Após desse episódio, Zapata voltou a procurar Marcos, quando este já estava em Limeira. O gerente de futebol logo descartou a nova investida de parceria, mas contou ao chileno que algumas equipes do interior do país estavam procurando investidores, entre elas o Poços de Caldas. “Fui até meio grosso com ele, mas acabei indicando”, lembra.


Depois de um certo tempo, Marcos foi para Poços de Caldas para marcar um amistoso entre a equipe de Minas e o Independente de Limeira. Foi então que descobriu que Zapata havia entrado em contato com o clube. “Estava conversando com o técnico, que era o Clebão, e ele me contou. Até me espantei, porque o Zapata disse que não tinha interesse quando falei com ele da última vez”, conta. O gerente diz que nunca mais teve contato com o chileno desde então.

Fred Faria, empresário de jogadores em Belo Horizonte, ajudou a montar o time do Poços de Caldas na temporada passada. Este ano, novamente o clube lhe pediu ajuda para formar o elenco. Ele afirma que Celestino se apresentou como investidor e propôs a parceria. Então, foi apresentado para o presidente do clube. Depois de descoberto o calote, ele também não achou mais o chileno.

“Nunca mais falei com ele depois do que aconteceu, depois que vimos que ele era só papo-furado. Fiquei sabendo até que ele ligou para o Amaral, pedindo para não falar mal dele”, conta. O volante Amaral era o principal nome do time que seria montado pelo chileno, mas também abandonou o barco após perceber que não riria receber o prometido.

“Fomos enganados. Eu, a imprensa, a comissão técnica, os jogadores e também a diretoria. Enganaram o bobo na casca do ovo. Essa pessoa (Celestino Zapata) me procurou, me ofereceu um salário muito bom, com benefícios de primeira divisão, hotel cinco estrelas e um projeto bastante interessante. Fui conversar com ele em São Paulo, em um escritório chique e assinei um pré-contrato. Mas a figura sumiu, deixando na mão a todos, inclusive a diretoria”, desabafou à época ao UOL Esporte.

Em janeiro deste ano, Celestino se ofereceu para comprar o clube por R$ 600 mil e implementar um projeto ambicioso. Deu ao presidente Giovane três cheques de R$ 200 mil, com datas para os meses seguintes. O UOL Esporte apurou que, enquanto os cheques não eram descontados e ainda não se sabia que eram sem fundo, ele tentava revender o clube para outros empresários. O volante Amaral e o técnico Clebão serviam como chamariz.

O UOL Esporte teve acesso aos e-mails trocados entre o presidente do Poços de Caldas e o suposto empresário. Zapata alega que está com problemas de saúde e pede um tempo para resolver as pendências. Diante da insistência do presidente, dizendo que precisa dar uma satisfação aos jogadores e que também quer a coleção de camisas de volta, as discussões na troca de mensagens se tornam ríspidas e terminam com o chileno ameaçando ir à polícia por conta das cobranças. O presidente do Poços de Caldas não fez nenhuma denúncia formal na polícia por enquanto e ainda estuda que medidas legais tomar.

Celestino costumava marcar encontros em São Paulo em locais diferentes do endereço que estava marcado em seu cartão de visitas. Geralmente em hotéis, ou em escritórios que de fato não eram seus, como revelaram as pessoas que se encontraram com o chileno para negociar na capital paulista.

Depois da confusão, o Poços de Caldas oficializou, em documento à Federação Mineira de Futebol, o fim de suas atividades no fim de fevereiro. O Vulcão, como era conhecido, abandonou a disputa do Módulo II do Campeonato Mineiro.