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Narciso mostra mágoa da diretoria do Palmeiras: "Nem animal a gente trata assim"

Narciso ficou oito meses no Palmeiras como treinador de base e auxiliar - Fernando Donasci/UOL
Narciso ficou oito meses no Palmeiras como treinador de base e auxiliar Imagem: Fernando Donasci/UOL

Renan Prates

Do UOL, em São Paulo *

16/03/2013 06h00

A diretoria do Palmeiras fez uma reformulação em seu futebol esta semana ao demitir o treinador das categorias de base, Narciso, e mais sete funcionários do departamento. Em entrevista ao UOL Esporte, o técnico enalteceu o trabalho realizado ao longo de oito meses e foi duro no desabafo contra os dirigentes do clube: “Faltou respeito em todos os setores. Nem animal a gente trata assim”.

“Não sei porque acabou acontecendo, ninguém me deu satisfação. Saí porque fiquei sabendo pela imprensa. Ninguém mais me ligou. Faltou respeito com todos os profissionais que estavam na lista, não é só com o Narciso. Isso não tem nada a ver com o Palmeiras, mas com as pessoas que representam o Palmeiras neste momento”, criticou.

O desabafo é destinado ao presidente do Palmeiras, Paulo Nobre, e ao diretor executivo, José Carlos Brunoro. Narciso disse jamais ter sido procurado pelos dirigentes que, desde o fim de janeiro, estão no comando do Verdão.

“Nós realmente não conversamos com o Narciso. Só que tudo que tenho a dizer é que fizemos levantamentos, e o nosso diagnóstico na base era de troca. Não tenho mais nada para falar sobre o Narciso”, destacou Brunoro.

O Palmeiras ainda não definiu o novo comandante do time de juniores, elogiado por todos no clube na Copa São Paulo deste ano, quando parou na semifinal ao perder para o campeão Santos. O legado deixado por Narciso é grande, mas a mágoa do treinador com o clube parece ser maior a ponto dele não querer conversa com Brunoro e Nobre.

“Preciso pegar as coisas que deixei no armário. Sei que pela quantidade de amigos que deixei lá, serei bem recebido. Não tenho nada pra conversar nesse sentido. Não tem mais sentido para isso. Não tem porque tirar justificativas para a minha saída. Ela já aconteceu”, disse Narciso. 

Confira a entrevista na íntegra:

UOL Esporte: Por que você acha que aconteceu sua saída do Palmeiras?
Narciso: Não sei porque acabou acontecendo. Ninguém me deu satisfação. Saí porque fiquei sabendo pela imprensa. Ninguém mais me ligou. Quem me ligou só foi o Raul, da administração da base, falando que depois teria que passar no departamento pessoal.

Chateado a gente fica porque não estão lidando com animal. Nem com animal a gente trata assim. Você tem que ter respeito com o animal. Quando se fala em profissionalismo, tem que ter em todos os setores. Tem diretores na base, gerente, supervisor, pessoas que tem esse poder de chamar você e comunicar. Faltou respeito com todos os profissionais que estavam na lista, não é só com o Narciso. Isso não tem nada a ver com o Palmeiras, mas com as pessoas que representam o Palmeiras neste momento.

PALMEIRAS ALEGA REESTRUTURAÇÃO E DEMITE NARCISO E MAIS SETE

  • O Palmeiras demitiu o treinador das categorias de base, Narciso, na tarde desta segunda-feira. O clube comunicou que tomou a decisão por um processo de reestruturação no setor. Outros sete profissionais que trabalhavam na área também foram demitidos.

UOL Esporte: Você conquistou resultados expressivos com Santos, Corinthians e Palmeiras, mas acabou saindo dos três clubes. A velha máxima de que resultados seguram treinadores não vale para a base?
Narciso: Na base não vale muito porque é mais de política, isso acaba complicando. O treinador na base não tem multa, então pode entrar diretor que não gosta de você e prometer cargo para outra pessoa. Então independe da capacidade do profissional.

UOL Esporte: Hoje você encontra explicações para a sua saída desses três clubes?
Narciso: Não tenho nada para falar do Santos. É difícil falar de um lugar onde fiquei 17 anos. Não tenho nada para falar contra, nada, nenhuma vírgula. Mesmo saindo do Santos. Talvez não goste de algumas pessoas, mas se falar mal do Santos, estarei falando mal de mim mesmo. No Santos, acabou acumulando o desgaste durante um ano de trabalho. No ano seguinte não tinha mais os mesmos pensamentos. Existia um desgaste, até porque eu estava lidando com pessoas que não eram do ramo de futebol. Aí fica mais difícil.

UOL Esporte: Em entrevista à rádio Bandeirantes você falou que foi coagido a escalar jogadores no Santos e no Corinthians. No Palmeiras isso também aconteceu?
Narciso: Nunca aconteceu isso, nem no Santos, nem no Corinthians. O que aconteceu no Corinthians é que tinha problema externo que acabava atrapalhando. Não de dentro do Corinthians, não das pessoas. O problema era externo. Mas não citei nomes, nem nada. Da estrutura do Corinthians eu não tinha nada para reclamar.

PALMEIRAS APRESENTA NOVO DIRIGENTE NA BASE

  • O Palmeiras alegou reestruturação para demitir o treinador Narciso e mais sete funcionários das categorias de base, e na manhã desta terça-feira apresentou um novo coordenador para o setor. O escolhido foi Erasmo Damiani, com passagens pela base do Figueirense, Avaí, Joinville, e Atlético-PR. E o objetivo prioritário do novo dirigente é fechar as portas para empresários no clube.

UOL Esporte: O que ficou do seu trabalho para o seu sucessor no Palmeiras?
Narciso: Alguns jogadores subiram comigo, alguns continuam lá e tem qualidade boa. Não só os (19)94 como os (19)95, caso do Juninho Sabiá, do Chico, tem o Fabiano que é um volante de qualidade. O Kleina tem aproveitado bastante nesse sentido. Se olhar direito, hoje cada posição no profissional tem um atleta que veio da base. Tem o Luis Gustavo, Dybal, Diego, Edilson, Vinicius, Patrick, Emerson, João Denoni. Então alguma coisa de bom a base teve. Espero que possam dar sequência no trabalho.

Vi entrevista do novo coordenador da base que falou que o Palmeiras tem que revelar ou algo nesse sentido. Se tem que revelar, não sei para que teve mudança. Porque revelar mais atletas que revelamos não é possível.

NARCISO NA BRONCA

Chateado a gente fica porque não estão lidando com animal. Nem com animal a gente trata assim. Você tem que ter respeito com o animal

UOL Esporte: Vai voltar ao Palmeiras para resolver sua saída? Pretende falar com os dirigentes?
Narciso: Tenho que ir lá fazer isso, a homologação. Não tem como não voltar. Preciso pegar as coisas que deixei no armário. Sei que pela quantidade de amigos que deixei lá, serei  bem recebido.

Não tenho nada pra conversar nesse sentido. Tenho que pegar meu material. Não tem mais sentido para isso. Não tem porque tirar justificativas para a minha saída. Ela já aconteceu. 

UOL Esporte: Quais são os planos para o futuro? Pretende seguir nas categorias de base ou quer alçar voos mais altos no profissional?
Narciso: Até pelo trabalho que a gente já fez nos grandes clubes, tenho credibilidade, e sempre aparece algo. Já me ligaram, mas primeiro vou acertar minha situação no Palmeiras. A partir da semana que vem vou pensar no que vou fazer.

Tive sondagens no profissional e na base. De clubes da A-1 no profissional, e de fora de São Paulo na base.

UOL Esporte: A experiência como treinador no Palmeiras te motiva a seguir no profissional?
Narciso: A gente fica sempre mais tentado a dar continuidade nesse trabalho no profissional. Foi muito legal a experiência com o Kleina e todos os auxiliares dele. Aprendi bastante. A gente sempre aprende algo no futebol. É totalmente diferente da base. Já tinha comandado o Santos sub-23 também, mas acrescentei mais na carreira.

* Colaborou João Henrique Marques