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Rede de intrigas na sucessão da Conmebol envolve até motorista

Nicolás Leoz abraça seu sucessor Eugenio Figuredo ao deixar a Conmebol - Divulgação Conmebol
Nicolás Leoz abraça seu sucessor Eugenio Figuredo ao deixar a Conmebol Imagem: Divulgação Conmebol

Rodrigo Mattos

Do UOL, em São Paulo

01/05/2013 06h00

Vago o cargo de presidente da Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol) com a renúncia de Nicolás Leoz, iniciou-se uma rede de intrigas na disputa pelo poder na confederação. A batalha política começou pouco depois da saída do todo-poderoso e se estenderá até 2015, quando haverá eleições na entidade. Como protagonistas, os brasileiros Marco Polo Del Nero e José Maria Marin, o uruguaio Eugenio Figueiredo e cartolas argentinos como Julio Grondona.

Tudo isso está por trás das fotos de abraços e textos sobre consensos publicados pelo site da Conmebol a repeito da posse de Figueiredo como presidente, realizada nesta terça-feira, em Assunção. Na mesma ocasião, Leoz se despediu da entidade.

Uma pessoa ligada a Figueredo informou ao UOL Esporte que, na última semana, Del Nero tentou articular para realizar novas eleições já neste ano para escolher o substituto imediato do antigo presidente. Seu objetivo era eleger Marin e assumir a CBF (Confederação Brasileira de Futebol). Essa fonte contou que o dirigente da Federação Paulista de Futebol tentou convencer dirigentes de federações nacionais.

Em um carro da Sul-Americana, Del Nero conversou com o dirigente da federação peruana, Manuel Burga, sobre apoiar o seu plano, segundo informou a fonte. O motorista do carro, fiel ao comando da entidade, teria relatado o caso a Figueredo. A articulação causou mal estar entre as partes. Pessoas próximas a Figueredo disseram que ele, consciente da articulação, tomou providências para acabar com o motim.

Ao UOL Esporte, Del Nero negou, com veemência, essa versão: "Quem falou isso é um doente mental. Você sabe da minha sinceridade. Nunca, em nenhuma hipótese, pensamos em mudança na Conmebol. Figueredo é um grande companheiro. Nunca isso passou pela minha cabeça. Quem falou isso é um safado, um mau caráter, um vil que quer fazer fofoca", rebateu.

Se as versões são contraditórias, uma verdade é que a confederação tornou-se alvo de uma disputa de poder. Figueredo não é um cartola político. Quem o conhece vê nele traços de um ditador, sem a característica de conciliador de Leoz. Na terça-feira, ao assumir a entidade, recusou-se a dar uma entrevista coletiva. Fez apenas um pronunciamento. Essa sua personalidade desperta antipatia da maioria das 10 federações que compõem a Conmebol.

É por isso que seus inimigos viram chance de derrubá-lo antes de tomar posse. É por isso que pelo menos duas fontes ligadas a confederação dizem que haverá até dez candidatos para se apresentar para a eleição de 2015 para a presidência da entidade. Será um pleito em que não haverá a influência dos cartolas mais influentes na Conmebol nas últimas décadas: Ricardo Teixeira, Nicolás Leoz e provavelmente Julio Grondona, que promete deixar a AFA (Associação de Futebol Argentino).

Enquanto isso, Figueredo tentou implantar novo estilo na confederação, instalando comissões para analisar mudanças na entidade. A mais importante é a do departamento de competições, em que o paraguaio Juan Angel Napout vai estudar uma revitalização de "todos os torneios" sul-americanos. Uma das ideias é ajudar financeiramente seleções que se classifiquem ao mundial.

Mudanças drásticas na Libertadores, no entanto, ainda estão descartadas, principalmente em relação a sua realização no primeiro semestre. "Nenhuma chance de modificação do período em que ocorrerá a Libertadores. Isso está descartado", afirmou Del Nero, que entende que as comissões darão mais agilidade à confederação.

Leoz saiu, nesta terça, sem dizer uma palavra sobre o relatório da Fifa que comprovou ter ele recebido dinheiro de propina da ISL. Figueredo ainda não disse palavras que pudessem esclarecer o que se pode esperar de sua gestão. Assim, crescem as intrigas em torno de uma entidade, segundo o próprio Leoz, com patrimônio de US$ 180 milhões.