Topo

Com Martino, Barça repete estratégia que usou para Maradona na década de 80

Diego Maradona e Lionel Messi em treino da seleção da Argentina, em 2010 - Cezare de Luca/EFE
Diego Maradona e Lionel Messi em treino da seleção da Argentina, em 2010 Imagem: Cezare de Luca/EFE

Paulo Passos

Do UOL, em São Paulo

24/07/2013 06h00

Técnico e craque falando a mesma língua e com o mesmo sotaque.  A estratégia adotada pelo Barcelona na escolha de Gerardo Martino, que será apresentado no clube na próxima sexta-feira, para substituir Tito Vilanova não é uma novidade. No início da década de 1980, quando Diego Maradona era o principal craque do time , o clube catalão contratou o ex-comandante da seleção argentina César Menotti, por coincidência, também nascido em Rosário, terra de Messi e Martino.

Assim como aconteceu agora, a escolha do técnico do Barcelona em 1983 teve influência do craque da vez. A chegada de Menotti foi um pedido de Maradona ao então presidente do clube catalão, José Luis Nuñez. Foi com o técnico que o ídolo argentino estreou na seleção, ainda na década de 70. Com ele também, Maradona acabou ficando fora da Copa de 1978.

A ausência na lista para o Mundial, porém, não abalou a relação dos dois. Além do futebol, o estilo de vida os unia. Boêmio e assumidamente rebelde, Menotti resolveu alguns problemas para Maradona no Barça. Uma das primeiras medidas do técnico na chegada ao clube em 1983 foi mudar os horários dos treinamentos. Com seu antecessor, o alemão Udo Lattek, os trabalhos aconteciam de manha. Menotti trocou para o turno da tarde.

Após uma primeira temporada instável no Barcelona, Maradona viveu num ano com o compatriota melhor e o pior da sua estada na Catalunha. Venceu a Copa do Rei, seu único título com a camisa azul grená, sofreu a pior lesão na carreira e se envolveu numa briga que gerou a sua saída do clube.

Após a derrota para a Athletic Bilbao, na final da Copa do Rei de 1984, Maradona enfrentou os jogadores do clube basco, numa batalha campal com chutes, socos e voadoras em pleno Santiago Bernabeu. Nas tribunas, o então presidente do clube viu a briga constrangido ao lado do rei da Espanha Juan Carlos. O jogo foi o último de Maradona no Barça. O de Menotti também. 

DISCÍPULO DE BIELSA, ARGENTINO 'TATA' MARTINO É APOSTA DO BARCELONA

  • À frente de um dos clubes mais ricos e estruturados do mundo, Martino viverá uma realidade completamente distinta do que teve na sua carreira. Até agora o sucesso do técnico sempre apareceu na adversidade. “Tata”, apelido que recebeu na infância e jura não saber explicar o porquê, é fã de outro argentino de Rosário. Ex-jogador de Marcelo Bielsa no Newell´s, não esconde sua admiração pelo antigo chefe.

Técnico e craques com perfis diferentes
Nem mesmo o novo técnico do Barcelona esconde a influência de Messi - mais precisamente o pai do craque Jorge Messi – na sua contratação. “Não tenho dúvidas de que Jorge e Leo Messi falaram com os dirigentes do clube e deram uma opinião. As porcentagens sobre a incidência das suas opiniões na decisão eu desconheço”, disse o treinador.

O perfil do craque e do técnico de hoje são completamente diferentes dos argentinos da década de 80. Com genialidade semelhante em campo, Messi e Maradona se distinguem no comportamento fora dele. Nada do boquirroto e rebelde Diego remetem ao discreto e calado Lionel, que parece falar apenas com as pernas.

O mesmo acontece com os técnicos. Boêmio e com fama de revolucionário, Menotti quis implementar seu estilo e filosofia na curta passagem pelo Barcelona. No discurso, Martino já deixou claro que pretende fazer diferente.

“Há uma instituição com uma forma de trabalho futebolístico há muito tempo e somos nós que vamos nós adaptar a esse mundo”, decretou o treinador.

“TATA” SERÁ O QUARTO ARGENTINO A COMANDAR O BARCELONA NA HISTÓRIA

  • Além de Gerardo Martino e César Menotti (FOTO) outros dois argentinos já foram técnicos do Barça. Helenio Herrera teve duas passagens pelo clube catalão (entre 1958-60 e entre 1980-81). Nascido em Buenos Aires, mas com cidadania francesa, o treinador trabalhou na França e na Itália, além da Espanha. É tido como o criador do Catenaccio, sistema de jogo defensivo que virou padrão na Itália. Roque Olsen, ex-jogador natural de Sauce de Luna, no nordeste da Argentina, também comandou o Barça, entre 1965-67.