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Atlético campeão e Cruzeiro líder transformam BH em 'capital do futebol'

Torcedores de Atlético e Cruzeiro têm motivos diferentes para comemorações em BH - Sylvio Coutinho/Divulgação Mineirão
Torcedores de Atlético e Cruzeiro têm motivos diferentes para comemorações em BH Imagem: Sylvio Coutinho/Divulgação Mineirão

Bernardo Lacerda e Dionizio Oliveira

Do UOL, em Belo Horizonte

30/07/2013 06h00

O futebol mineiro em 2013 tem sido o assunto preferido nas conversas de torcedores de Atlético-MG e Cruzeiro nas ruas. Os dois rivais vivem momentos de alta, apesar de um só ter comemorado títulos na temporada, e, aos poucos, transformam BH na capital do futebol brasileiro, situação bem diferente dos últimos anos, quando os clubes revezaram em momentos, ou estiveram em baixa juntos.

Com a conquista da Libertadores atleticana e a liderança celeste do Brasileirão, os dois rivais atraem os olhares do futebol brasileiro e vivem um ótimo relacionamento com a torcida. “Sou todo felicidade, o Atlético vive há dois anos um momento de êxtase quase, vice-campeão Brasileiro, com Ronaldinho Gaúcho, campeão da Libertadores, convocações para a seleção brasileira, título, invencibilidade, só tenho motivos para rir”, destacou Bruno Mendes, 32 anos, torcedor alvinegro.

Já o cruzeirense Marcelo José, de 47 anos, satisfeito com o desempenho da equipe foi ao treino, na Toca da Raposa II, na segunda-feira, um dia após a vitória por goleada no clássico, por 4 a 1, para prestigiar os jogadores cruzeirenses. “Com certeza esse ano vai brigar pelo título. Estou confiante, cruzeirense não desanima não. O time está bem, com um elenco bom. A torcida está feliz. Pelo que estou informado, no meu comércio os cruzeirenses que o frequentam, estão todos satisfeitos com o time”, disse o comerciante.

Ex-jogador de Atlético e Cruzeiro, Paulo Isidoro ressalta que o futebol mineiro volta a viver uma fase de alegria. “O torcedor vai vendo que o futebol mineiro está forte, com Ronaldinho, revelando Bernard, com Julio Baptista, revelando Vinícius Araújo. É uma mescla interessante que vai dando resultados e não à toa os dois times estão bem”, analisou.

O alto investimento feito pelos dois clubes mineiros pode explicar o bom momento das equipes. O Atlético manteve seus grandes jogadores, como Victor, Ronaldinho Gaúcho, conseguiu segurar em toda a Libertadores a revelação Bernard, rejeitando propostas altas para a sua venda e ainda pagou alto para repatriar o ídolo Diego Tardelli, que chegou por quatro milhões de euros. A folha salarial do time, que gira em torno de R$ 4 milhões mostra o alto investimento.

 “Nós montamos um elenco para ser campeão da Libertadores e fomos. Tivemos críticas, que o elenco não era bom, que o Guilherme tinha de ser vendido, o Guilherme recuperou o prestigio, foi fundamental. O elenco é bom, prova disso que foi campeão, temos jogadores como Bernard, Ronaldinho, Tardelli, Réver, Jô, Victor, Pierre, que todo clube gostaria de ter”, disse o diretor de futebol alvinegro Eduardo Maluf.

  • Dionízio Oliveira/UOL

    Comerciante Marcelo José, 47 anos, manifesta confiança na conquista do título brasileiro

Do lado celeste, a diretoria não poupou esforços. Dedé foi a principal contração, custando R$ 14 milhões por 45% dos direitos econômicos. O jogador chegou e foi apresentado como mito, apelido dado pela torcida vascaína, em um supermercado em Belo Horizonte.

A diretoria investiu ainda nas aquisições de Everton Ribeiro, por R$ 3 milhões pagos ao Coritiba, e Dagoberto, por R$ 7 milhões pagos de forma parcelada ao Internacional, que inflacionaram os cofres e ainda optou em manter um elenco numeroso e, segundo Marcelo Oliveira, de “grande qualidade”, com muitas opções, tendo assim uma folha considerada elevada.

A última grande aquisição foi o meia Julio Baptista, contratado sem custo junto ao Málaga, mas que chega com um dos salários mais altos do elenco. Nova esperança de se tornar ídolo da torcida, o jogador foi apresentado oficialmente no último domingo, no clássico contra o Atlético-MG, em um carro forte, simbolizando uma peça preciosa adquirida pelo clube celeste.

O ex-jogador Procópio Cardoso, que atuou nos dois clubes e também dirigiu as duas equipes, exaltou a força do elenco estrelado, que perdeu alguns atletas por contusão nas últimas partidas, mas manteve o bom nível de atuações, já que o time vem de uma sequência de cinco vitórias consecutivas.

“O Cruzeiro está montando um grande time. Jogadores fundamentais como Borges e Dagoberto estão sem jogar e o clube está conseguindo resultados positivos. É bom salientar que quando o Marcelo foi para ser técnico, os cruzeirenses reclamaram, disseram que não queria. E nós que conhecíamos sabíamos que ele tinha condições, muito mais que a maioria dos técnicos”, comentou.

O perfil parecido dos técnicos dos dois rivais pode ajudar a explicar o momento. Cuca, que conquistou na quarta-feira seu principal título da carreira, está no clube há quase dois anos e mostra seu jeito tranquilo, educado, supersticioso, religioso, que foi conquistando a torcida atleticana e principalmente jogadores, funcionários e os dirigentes.

O comandante chegou ao Atlético em 2011 vivendo momento de alta na carreira, situação que se mantém. Cuca foi duas vezes vice-campeão brasileiro e agora campeão da Libertadores. O técnico acumula boas formações de elencos e se mostra revelador de talentos. No time mineiro, vem tendo tempo para trabalhar e caminha para a segunda renovação contratual.

Marcelo Oliveira adota a tática mineira, tranquilo, sem precisar gritar muito, usar palavrões, o treinador vai conseguindo se impor e ganhando a confiança da torcida celeste, que teve grande rejeição na sua contratação. O comandante chegou após quase dois anos de alta no Coritiba, quando foi vice-campeão duas vezes da Copa do Brasil e se mostra procurando seu espaço no futebol brasileiro. 

Apesar do pouco tempo no clube se comparado ao técnico do rival, Marcelo Oliveira já ganhou a confiança dos jogadores. “É um treinador que está crescendo para o futebol, tem uma personalidade forte, cobra muito dos jogadores para o resultado vim”, disse Ricardo Goulart. “O ambiente é bom, ele tem um grupo qualificado nas mãos, em que todos respeitam a vontade dele e ele está à vontade para fazer o trabalho dele aqui no Cruzeiro”, acrescentou o meia-atacante.

Um ponto de divergência entre os clubes, mas que ambos obtiveram sucessos são as escolhas dos dirigentes de futebol. O Atlético aposta em Eduardo Maluf, experiente no futebol e que fez grandes campanhas pelo Cruzeiro. O diretor já está no clube há três anos. “A gente mostrou que sabe montar elenco, fazer contratações, o torcedor pode confiar na gente, o trabalho foi bem feito, meu, do presidente, do Cuca”, disse. Já o Cruzeiro apostou no novo, ao contratar Alexandre Mattos, que teve experiência no América, mas surpreende com bom trabalho nos bastidores.

Cada rival com sua casa

A volta para casa também fortaleceu os dois times. O Atlético faz valer o fator Independência, onde está invicto há mais de um ano e não perde há mais de 50 jogos como mandante. Só no Horto, são 38 jogos de invencibilidade. No Mineirão, casa celeste, o alvinegro mineiro foi campeão das duas finais que disputou, mostrando ter sorte no novo estádio. “O Atlético é forte em casa, não perde, ganha no Independência, é campeão no Mineirão. A torcida apoia, o time joga diferente em casa, difícil alguém conseguir vencer o Galo diante do seu torcedor”, reconhece Victor.

  • Marcus Desimoni/UOL

    Torcida atleticana comemoru com intensidade a conquista do iédito título da Libertadores

Já o Cruzeiro mostra futebol diferente quando atua no “Gigante da Pampulha”. O time de Marcelo Oliveira não perde no estádio desde a sua reinauguração em fevereiro deste ano, quando venceu o Atlético-MG por 2 a 1. No período, foram doze vitórias consecutivas e 100% de aproveitamento, o que mostra a força do time ao lado do seu torcedor, que vive momento de animação.

Para o goleiro Fábio, o projeto do clube em 2013 e a volta do Mineirão foram fatores fundamentais para o bom momento do time na temporada. “A diferença desse ano é que a equipe foi planejada, foi totalmente colocada aí da melhor forma possível em termos de contratação. Tanto do nosso treinador antes de começar a competição para que ele pudesse escolher os jogadores a serem contratados e o esforço da diretoria, do presidente, para fazer as contratações. E isso tudo aliado à volta do Mineirão torna a equipe cada vez mais consistente e sólida”, analisou.

Outro ponto positivo para a dupla na volta dos estádios foi a impulsão do programa sócio torcedor. O Cruzeiro remodelou o Sócio do Futebol, com grande ações de Marketing e acabou de bater a marca de 30 mil associados, ficando na sexta posição do ranking nacional. Já o rival Atlético-MG lançou o ‘Galo na Veia’ com carga inicial de 5 mil cotas. Neste ano, porém, o clube lançou uma nova modalidade, o Galo na Veia Prata, e já tem mais de 21 mil sócios que contribuem mensalmente, o que o deixa na oitava colocação entre os clubes brasileiros.

Essa receita alternativa permite aos clubes bancarem folhas salariais cada vez maiores e contratar melhores jogadores.  No Cruzeiro, Gilvan credita a mobilização da torcida pelo forte grupo montado para a temporada. “Essas contratações, esse plantel que formamos só foi possível devido a adesão em massa da torcida do Cruzeiro ao nosso programa, nosso projeto, de Sócio do Futebol”, afirmou o dirigente.