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Wladimir diz que Leão foi oportunista ao ser contra a Democracia Corintiana

Wladimir, ex-jogador do Corinthians, criticou Leão sobre o período da Democracia  - Edson Silva/Folhapress
Wladimir, ex-jogador do Corinthians, criticou Leão sobre o período da Democracia Imagem: Edson Silva/Folhapress

Renan Prates

Do UOL, em São Paulo

03/08/2013 06h00

Wladimir foi ao lado de Sócrates e Casagrande um dos principais representantes da Democracia Corintiana, maior movimento ideológico da história do futebol brasileiro que aconteceu na década de 80. O ex-lateral esquerdo não teve dúvidas em elencar Émerson Leão como um dos maiores opositores da ação. Na sua visão, o atual técnico foi oportunista ao adotar esta postura.

LEÃO: "JOGADOR TREINAVA BÊBADO NA DEMOCRACIA"

Folhapress
Onde estava a democracia deles? Era a democracia que “você pode fazer tudo, desde que eu permita”. E não via a democracia, via a anarquia. Era cara bebendo na sala do treinador, outro dormindo na maca porque ficou na farra na noite anterior. Jogador treinando bêbado. Tinha dia que o treino estava marcado para 8 horas da manhã. Chegava lá e perguntava: ‘Cadê o pessoal do treino?’ E respondiam: ‘Não tem treino agora, foi transferido para o período da tarde’. ‘Por quê?’ ‘Teve uma festa ontem à noite e passaram para tarde’. Aí é pesado, não é?!

“Ele foi uma oposição sistemática contra aquele movimento, na medida em que não concordava que seu voto valesse o mesmo que o do terceiro reserva. Ele fez oposição sistemática, não sei se por ser goleiro, que geralmente é muito individualista nas situações de jogo. Mas ele foi muito oportunista”, falou ao UOL.

Mas Wladimir salientou que Leão não tinha força para sabotar o movimento, pela natureza democrática do mesmo. Todas as decisões do grupo, como concentração antes dos jogos e pagamento de bichos, eram decididas pela maioria dos votos.

“O movimento não tinha como estremecer, porque a gente decidia através do voto. Todas as decisões, os atletas votavam. Lógico que muitos sugestionados por ele acabavam votando contra, mas o voto da maioria, em uma democracia soberana, era o que ficava”, relembrou o ex-lateral, que citou um exemplo que ilustra como Leão tentava boicotar a Democracia.

“Ele entendeu quando a gente aboliu a concentração para os casados porque a maioria dos votantes decidiu por isso. Ele, que era casado, ia concentrar porque era do perfil dele concentrar. É óbvio que ele acabou arrebanhando parte do grupo com as suas propostas, porque ele realmente é um líder que consegue se expor. Mas foi algo decidido através do voto”.

Leão concedeu entrevista ao UOL onde falou sobre a sua passagem pelo Corinthians em 1983, na época da Democracia Corintiana. O treinador fez diversas críticas ao movimento capitaneado por Sócrates, Wladimir e companhia.

“Era a democracia que “você pode fazer tudo, desde que eu permita”. E não via a democracia, via a anarquia. Era cara bebendo na sala do treinador, outro dormindo na maca porque ficou na farra na noite anterior. Jogador treinando bêbado. Tinha dia que o treino estava marcado para 8 horas da manhã. Chegava lá e perguntava: ‘Cadê o pessoal do treino?’ E respondiam: ‘Não tem treino agora, foi transferido para o período da tarde’. ‘Por quê?’ ‘Teve uma festa ontem à noite e passaram para tarde’. Aí é pesado, não é?!”

Questionado sobre as acusações de Leão, Wladimir nem confirmou, nem desmentiu. “Acho um equívoco. Os preparadores físicos podem te responder. Isso não dá para estabelecer. No futebol acontece esse equivoco. Se estabelecem regras para todo mundo. Isso no futebol não cabe”.

Wladimir acredita que o movimento como a Democracia Corintiana nunca mais vai haver no futebol brasileiro. Na visão do ex-lateral, Não vai existir nenhum outro jogador com o idealismo que tinha o Sócrates.

“Provavelmente até tenha no futebol alguns atletas com esse perfil, mas como tempos são outros, tem muito dinheiro envolvido, eles são abafados por conta de toda essa estrutura”.

PRECONCEITO CONTINUA IGUAL NO FUTEBOL ATUAL, DIZ WLADIMIR

  • JOÃO QUESADO/Divulgação

    Na visão de Wladimir, o preconceito no futebol nacional continua igual ao da década de 80, quando ele jogava. “Quantos treinadores negros você conhece no Brasil? Ou que estão atuando no Brasil? Isso é sintoma de uma pseudo democracia racial do universo do futebol”, que disse ter passado por vários “episódios indelicados” relacionados a racismo. “Passei não só no futebol. Por isso digo que o preconceito esta arraigado na personalidade das pessoas e se manifesta em um momento de disputa. Essa é a nossa realidade”.