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Substituto de Pelé em 62, Amarildo supera câncer e exalta Garrincha: 'Verdadeiro Rei'

Amarildo foi escolhido pelo Botafogo para participar da apresentação de Seedorf Imagem: Satiro Sodre/AGIF

Bernardo Gentile

Do UOL, no Rio de Janeiro

13/08/2013 06h07

O bicampeão mundial Amarildo foi eternizado no Botafogo por fazer parte do melhor ataque do time ao lado de Garrincha, Zagallo, Quarentinha e Didi. O ex-jogador, que substituiu Pelé na Copa do Mundo de 1962, no Chile, disse que o ex-camisa 10 do Santos era inferior ao camisa 7 da equipe de General Severiano, que segundo ele, era o “verdadeiro rei”.

“Para mim ele foi melhor que Pelé. Se tivesse que escolher apenas um, ficaria com o Garrincha. O Mané era muito mais genial, jogava para ele e para os outros. Pelé fazia gol porque recebia as bolas do Garrincha, que fazia tudo funcionar. O risco ficava todo com Garrincha, o verdadeiro rei. Por isso, foi superior a todos os outros na minha opinião. Ele merecia a coroa do Pelé, mas não teve a publicidade que o outro teve”, disse o ex-jogador ao UOL Esporte.

Garrincha morreu em 1983, aos 49 anos, por complicações relacionadas ao alcoolismo. Mas Amarildo defendeu o ex-companheiro. "A vida dele fora de campo não influenciou em nada. Isso é tudo bobagem. Foi falta de reconhecimento pelo o que fez pelo nosso futebol mesmo. Hoje tem gente pior que o Garrincha. Hoje em dia tem muitos jogadores que fazem mais besteira do que ele e não sofrem metade das críticas”, completou.

Com 74 anos, “O Possesso”, como ficou conhecido, vive uma nova vida após se recuperar definitivamente de um câncer na garganta no fim de 2011. “Isso foi outra vitória. Assim como ganhei a Copa dentro de campo, superei essa doença fora dele. Fui protegido por Deus. Hoje em dia faço apenas exames de seis em seis meses para controlar e me sinto bem. São coisas da vida e que passamos. O Botafogo me ajudou muito e sou muito grato por isso”, afirmou.

O ex-jogador viveu em uma época diferente do futebol atual e o dinheiro conquistado enquanto defendia Botafogo, Milan, Roma, entre outros, não o deixou rico. Morador da Tijuca, no Rio de Janeiro, Amarildo não passa necessidade, mas também não vive no luxo. A principal renda vem de alguns pequenos imóveis alugados. Ele conseguiu melhores condições a partir de janeiro de 2013, quando passou a receber um auxílio do Governo Federal, previsto na Lei Geral da Copa, que determina uma verba mensal aos jogadores das seleções campeãs do mundo em 1958, 1962 e 1970.

“Temos que viver como podemos, de acordo com nossas possibilidades. Nunca fui ambicioso para ser milionário. Sou uma pessoa que tem família enorme. Ajudei a todos. Se fosse só para mim estaria milionário. Quero ser é feliz. O resto a gente empurra com a barriga [risos]”, brincou.

Recentemente, Amarildo foi chamado pelo Botafogo para participar da homenagem feita pelo clube a Zagallo, que ganhou uma estátua no Engenhão ao lado de outros craques como Nilton Santos, Garrincha e Jairzinho. Humilde, o ex-jogador não cobra um presente do Alvinegro, mas deixa claro que tal atitude o faria muito feliz.

“Eu nunca fui ambicioso de querer alguma coisa por causa dos outros. Sempre recebi o que mereci. Se ninguém fez uma estatua é porque acham que não mereço. Isso não é problema meu. Fico satisfeito porque o Zagallo merece. Ele é muito simples, um vencedor. Seja como jogador ou treinador. Todos falam de Pelé e esquecem dele. Ele é um pioneiro do futebol. Incentivou o futebol brasileiro a ser conhecido como é hoje. Não teve tanta fama com o Pelé, assim como eu. Eles devem correr atrás de mim, não ao contrário”, bradou.

“Outros ex-atletas não mereciam ter estátuas espalhadas pelo mundo e têm. Eu fui campeão do mundo e não tenho. Fiz meu papel e estou contente pelo o que fiz pelo futebol brasileiro. Nunca exigi nada a ninguém. Nunca pedirei, não preciso disso. Mas se acharem que mereço, tudo bem”, completou.

Amarildo, por fim, comenta a ‘fria’ em que se meteu ao ser escolhido pelo então técnico Aymoré Moreira para substituir Pele na Copa do Mundo de 1962. “Posso dizer que peguei um momento difícil. Foi uma fogueira enorme. Se perdesse nem conseguiria voltar para o Brasil. Substituir o Pelé, a rosa do Brasil. Mas demonstrei minha capacidade e ajudei a seleção. Não sou Pelé, mas fiz minha parte. Fui decisivo. Fiz gols importantes contra a Espanha e também na decisão, o de empate. Ainda dei passe para o gol da vitória, marcado pelo Zito”, relembrou.

Nem mesmo a teoria de que “Garrincha ganhou sozinho a Copa de 1962” o tira do sério. Decisivo ao substituir Pelé, Amarildo disse não se sentir incomodado com a frase. Pelo contrário, é um entusiasta.

“Não me incomodo com isso, pois é verdade. E tem mais. A ausência do Pelé foi benéfica para o Mané e, consequentemente, para o Brasil. O Pelé tirava o espaço do Garrincha em campo. Ele fez o que sabia pela ponta direita, além de desempenhar a função que era do Pelé. Ele foi Garrincha e Pelé ao mesmo tempo. Eu entrei bem no time, mas deixei o Garrincha aflorar, o que o Pelé não fazia. Ele voou. Ele é um dos maiores de todos os tempos. Exaltam uns e esquecem outros”, finalizou.

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