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Jogadores do Atibaia usam hipnose e andam sobre cacos de vidro e brasa

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    Jogadores do Atibaia entortam uma barra de ferro que está apoiada no pescoço

Luiza Oliveira

Do UOL, em São Paulo

30/08/2013 06h02

Ian é mais um entre milhares de jovens jogadores que sonham defender um time grande e se tornar um jogador de futebol consagrado. O goleiro do Atibaia, clube da quarta divisão do futebol paulista, sempre soube que o caminho é árduo. Mas ele não imaginava ter que andar sobre cacos de vidro, brasas e até entortar uma barra de ferro com o pescoço para atingir suas metas e ajudar o time a conseguir a vaga na série A3.

Na última terça-feira, após o jantar em um hotel de Atibaia, ele se reuniu com seus colegas de grupo para mais uma sessão de hipnose. Ian já havia arriscado seus mais valiosos instrumentos de trabalho, os pés, sobre cacos de vidro e brasas, e já previa que um novo desafio está por vir.

Ele sabe que as surpresas são constantes quando o educador físico e treinador motivacional Olimar Tesser aparece para dar palestras. As brincadeiras com os colegas dão lugar a um semblante sério. É preciso concentração para ouvir os ensinamentos do treinador que não são sobre tática ou estratégias de jogo.

Ian tenta assimilar a importância do companheirismo e espírito de grupo, mentaliza seus medos e pensa que só com coragem é capaz de superá-los. As palavras de Tesser ecoam como um mantra na sala silenciosa.

É com esse pensamento que ele e um colega aceitam apoiar uma barra de ferro no pescoço - na região da traqueia por onde são feitas as traqueostomias. Eles caminham em direção ao outro para dar um abraço, usam o peso do corpo e a barra fica totalmente torta.

“Quando a gente pensou que não podia piorar, ele chega com essa barra de ferro para entortar. Depois que ele falou que é a região mais sensível do corpo, piorou. Fiquei com medo, mas ele nos mostrou que podemos superar qualquer coisa. É mais um ato de coragem”, disse, orgulhoso.

Alguns colegas de Ian ainda teriam novas batalhas. Eles teriam que andar em um caminho formado por inúmeros cacos de vidro. Tesser espalha os pedaços pontiagudos e alerta para os riscos, contando que já presenciou atletas que cortaram os pés.

Os novatos até tentam se esconder, mas logo são dedurados pelos outros e não há como fugir. É uma espécie de batizado. Eles escutam atentamente as dicas do tutor para não olhar para baixo, andar devagar, colocar todo o peso do corpo sobre o pé apoiado e nunca arrastá-los.

O medo do início da caminhada dá lugar ao alívio quando a esposa de Tesser limpa dos pés de cada um ao final do procedimento, e eles são abraçados pelos colegas com gritos de comemoração. 

Tesser já fez trabalho com atletas consagrados como a nadadora de maratona aquática Poliana Okimoto e ficou conhecido no futebol quando salvou o Paulista de Jundiaí do rebaixamento no campeonato estadual de 2010.

Ele diz que os atletas sentem medo e se sentem receosos no início do projeto, mas logo passam a confiar de olhos fechados.  Segundo ele, a superação dos desafios apresentados aumenta a confiança de todos eles.

“Se eles passam em cima de caco de vidro e de brasa e entortam ferro na garganta, eles se sentem capazes de enfrentar situações muito mais difíceis. Não só no esporte, como também na vida. Aqui é um período passageiro, eles não querem passar o resto da carreira na segunda divisão, mas o mais importante é formar o caráter desses jovens”, disse, sobre o time que ocupa a terceira colocação do grupo 16 da segunda divisão do Campeonato Paulista, com três pontos em dois jogos. O líder é o Águia Santa com seis pontos.

Outra teoria defendida por Tesser é que os treinamentos são melhores assimilados se os atletas estiveram sob o estado de hipnose. “O cérebro do atleta já trabalha no estado de hipnose. Cientificamente falando, hipnose é um estado alterado de consciência. Quando eles estão fazendo esporte, as ondas cerebrais já estão alteradas. Se eles treinarem dois minutos em hipnose, eles interiorizam o que foi passado do mesmo jeito que se eles tivessem feito 20 minutos de treinos”, conta.