Na Série C, meia diz que 'deixar Kaká no banco' é lenda e sonha com elite
Quando surgiu para o futebol, em 2001, nas categorias de base do São Paulo, Kaká não era o grande nome de sua posição na equipe. O titular e capitão era Harison, considerado a grande promessa do time e que não demoraria a aparecer entre os profissionais.
Hoje, 12 anos depois, as carreiras tomaram rumos diferentes. Kaká permaneceu no São Paulo mais alguns anos e foi negociado em 2003 para o Milan. Passou também pelo Real Madrid e, na última janela, voltou à equipe italiana. Harison, enquanto isso, rodou o mundo. Jogou em 15 clubes diferentes e hoje disputa a Série C do Campeonato Brasileiro pelo Barueri.
Aos 33 anos, o meia, conhecido por “deixar Kaká no banco” no São Paulo, não se incomoda com o rótulo. Mas diz, em entrevista ao UOL Esporte, que este fato é somente uma ‘lenda’.
“Não é verdade [que deixou Kaká no banco]. A gente jogava junto, éramos os dois meias do Pitta, nosso grande mentor. Mas o Kaká sofreu um acidente que o limitou, e ele ficou fora da Taça São Paulo de 2000, quando a gente foi campeão. Em 2001, o Kaká ficava no banco, mas era reserva do Hugo [hoje no Goiás]. E, no decorrer do campeonato, o Vadão precisava de meia no time profissional e me puxou para o Rio-São Paulo. Mas teve jogo que não pude ir, e ele levou o reserva da Taça, que era o Kaká. Fomos vice-campeões, e aí, subimos de vez. O Vadão usava o 3-5-2, com um meia só, e aí sim eu era o titular, mas o Kaká entrava sempre.”
Os estilos de jogo dos dois, afirma Harison, são distintos. “Eram completamente diferentes. A gente se completava. Ele era mais de chegar para finalizar, eu sou armador. Ele é mais rápido, eu mais cadenciado. Não tem como comparar”.
Em conversa no gramado do CT do Barueri, Harison rasgou elogios ao ex-companheiro e disse que não se arrepende em nada do que fez na carreira, apesar de não ter chegado a um grande clube europeu, como Kaká. E, se tem uma única coisa que ele pensaria em mudar, seria o fato de ficar mais tempo no São Paulo quando despontou. Um problema de saúde de seu pai, porém, o ‘obrigou’ a aceitar uma proposta financeiramente muito alta do Japão, em 2001, para ajudá-lo a fazer um transplante de fígado. Ficou três anos na Ásia, voltou para cumprir o ano restante de vínculo com o time paulista, mas foi ‘descartado’ por Cuca, que não o conhecia na época.
Harison relembra tempos em que deixava Kaká no banco
“Estava tudo certo para eu voltar. Cheguei a falar com o Rojas, que era o técnico, ele me queria. Mas quando cheguei aqui, já era o Cuca. Ele não me conhecia, e não quis me usar. Eu não ia voltar para a base. Eu tinha mercado, pô. Eu acertei com o São Paulo, peguei meu passe e fui para o Guarani”, conta.
Agora, na Série C, Harison, que já jogou por Guarani, PontePreta, Santa Cruz, Goiás, ainda planeja voltar à elite do futebol brasileiro. “Tudo é possível, depende do que você mostra em campo. Tive convite para ir para a Série B, tive três propostas, mas não fui, pois tinha um acordo com o presidente. Tenho uma obrigação aqui, fui bem acolhido. Tenho contrato até dezembro, mas estamos conversando para renovar. Tem essa vontade do presidente. Barueri é uma cidade boa, tem infraestrutura de hospitais, educação, a cidade é limpa. Moro perto do CT, chego em dois minutos. Não tem tempo ruim. Minha família adora, está muito bem adaptada aqui. Para sair teria que ser muito bom”, afirma.
E, aos 33 anos, ele não pensa em parar. Usa exemplos de astros, como Seedorf e Rogério Ceni, para seguir em frente. “Ainda tenho mais uns três anos para ajudar em alto nível. Tenho muita coisa a dar ainda, tenho 33 anos só. Tem cara de 37, 38, tem Seedorf, Zé Roberto, Rogério, Alex, que está mostrando que não deve nada para ninguém. É bom para tirar esse negócio de que cara acima dos 30 não pode jogar mais.”, disse.
Ao deixar os gramados, o meia diz que pretende virar treinador. Até estuda para isso. Entre os times da carreira, estão alguns de Portugal e Japão. A experiência fora do Brasil trouxe aprendizados para o paraense.
“Portugal é muito bom de se viver, mas passa por uma crise financeira muito grande. Imposto de Renda era 11%. Aí, virou 35% para nós, atletas. Não estava em contrato e, de repente, teve que colocar. É um país bom de se jogar, fácil para brasileiro, mesma língua, costumes quase iguais. Um país que gostei de morar. O povo tem uma certa restrição, mas é excelente de se morar. Mas o que mais gostei em termos de vivência foi o Japão. Eu fui na época da Copa de 2002, então os estádios eram maravilhosos, infraestrutura, não precisava andar de carro, pegava trem bala. Era muito bom”, conclui.
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