Topo

Vasco deve R$ 425 mil a clube de Garrincha por não pagar aluguel desde 2008

Vinicius Castro

Do UOL, no Rio de Janeiro

16/10/2013 06h10

Enquanto luta para escapar do rebaixamento no Campeonato Brasileiro, o Vasco coleciona ações judiciais como consequência de disputas políticas e do recente bloqueio de receitas. A mais nova batalha nos tribunais envolve uma agremiação modesta e responsável pelos primeiros passos de Garrincha no futebol. Trata-se do Esporte Clube Pau Grande, que cobra pouco mais de R$ 425 mil ao clube de São Januário por um contrato de locação assinado na gestão Eurico Miranda e ignorado pela administração Roberto Dinamite.

O acordo foi firmado entre as partes em fevereiro de 2007. José Renato Pontes Teixeira e Eurico Miranda, então presidentes de Pau Grande e Vasco, respectivamente, assinaram o documento com duração inicial de cinco anos para a locação do espaço pertencente ao clube mageense. O Cruzmaltino definiu o uso do campo de futebol e vestiários para treinos das categorias de base, peneiras e fins comerciais.

O valor mensal do aluguel foi estipulado da seguinte forma: R$ 2.050,00 no primeiro ano; R$ 4.100,00 no segundo ano; R$ 4.600,00 no terceiro ano. Nos dois últimos períodos, o valor seria reajustado conforme o IGPM (Índice Geral de Preços do Mercado) ou outro semelhante para substitui-lo. Porém, o Vasco não rescindiu o compromisso, deixou de utilizar as dependências do clube e ignorou os pagamentos a partir de maio de 2008.

A data coincide com a entrada de Roberto Dinamite na presidência do Cruzmaltino. O atual mandatário foi eleito pelo Conselho Deliberativo em 28 de junho de 2008. A reportagem do UOL Esporte teve acesso ao processo e constatou que o presidente, citado no documento como representante do Vasco, não foi encontrado pela Justiça nas quatro vezes em que recebeu visitas na sede de São Januário (veja partes do processo abaixo).

O Vasco vai conseguir se livrar do rebaixamento?

Resultado parcial

Total de 2327 votos
40,83%
59,17%

“O caso está entregue aos nossos advogados e sabemos da execução. Mas há seis meses não recebemos novidades sobre o assunto. Do jeito que a Justiça funciona no Brasil ainda pode perdurar por muitos anos. É importante encontrar o Roberto Dinamite para que o mesmo seja notificado. Ele sempre está na televisão nos jogos do Vasco, mas dizem que não o acham”, afirmou o presidente do Esporte Clube Pau Grande, Edson José de Barros.

  • Diulgação

    Parte do processo no qual consta o contrato firmado entre Vasco e E. C. Pau Grande

A última atualização do processo, que corre na Comarca de Magé, ocorreu em 30 de abril de 2013. O valor da execução corrigida é de R$ 425.586,13. No entanto, o Pau Grande estima que o montante esteja próximo dos R$ 500 mil com os acréscimos de valores e multas até o mês atual em razão de o contrato estar teoricamente vigente, já que as partes não se manifestaram em fevereiro de 2012, quando o compromisso assinado pelos clubes seria encerrado.

O montante é considerado fundamental para a reestruturação da sede do clube de Magé. Apesar do gramado em bom estado, o local conta apenas com um memorial em homenagem ao ídolo Garrincha - construído com o apoio da Danone (R$ 70 mil) e de uma ONG. O portão com as iniciais está apagado e os muros necessitam de pintura emergencial.

O Esporte Clube Pau Grande contesta que apenas o presidente Dinamite seja escolhido como representante do Vasco para receber a notificação do pagamento da dívida em até três dias após a entrega do documento e aguarda a confecção de nova carta precatória para ter acesso a quantia. O Cruzmaltino pode sofrer penhoras online em suas contas para quitar o passivo caso não cumpra o novo prazo judicial.

  • Divulgação

    Parte do processo mostra que o presidente Dinamite não foi encontrado no Vasco pela Justiça

“O Vasco abandonou o local, não fizeram a rescisão e a dívida cresce a cada mês. Não podemos sequer locar para outra empresa em razão disso, pois o clube não deu baixa em absolutamente nada. É uma execução direta e precisa ser paga. O valor está bem próximo de meio milhão de reais. O que o Vasco pode discutir é o excesso de valores e possíveis penhoras. O prazo vai sair em uma nova carta precatória e o clube terá que tomar uma decisão. Diretores e até funcionários ligados ao presidente do Vasco podem receber a intimação normalmente”, explicou o advogado do Esporte Clube Pau Grande, Julio Cesar Lemos.

Procurado pela reportagem, o ex-presidente Eurico Miranda confirmou a intenção do contrato e acusou Roberto Dinamite de contrair nova dívida para o Vasco apesar de o vínculo com o Esporte Clube Pau Grande ter sido assinado por um período superior a gestão do antigo mandatário cruzmaltino.

“O contrato foi assinado na minha época. Pagamos e utilizamos o espaço para as categorias de base até mudar a gestão. Saí da presidência, o Vasco simplesmente abandonou as dependências do clube Pau Grande e os pagamentos. Acontece que essas atitudes existem aos montes e cada vez se descobre um processo novo contraído pela gestão atual. O Vasco tem a obrigação de pagar o que deve. É apenas mais uma dívida que eles não quitaram e só cresce”, encerrou Miranda.

Na última terça-feira, o departamento jurídico cruzmaltino esteve envolvido em reuniões para discutir as dívidas dos clubes em Brasília. O Vasco informou, via assessoria de imprensa, que estuda o caso e planeja se pronunciar sobre a polêmica com o clube Pau Grande ainda nesta quarta-feira.

  • Divulgação

    Memória de débito com o valor devido pelo Vasco da Gama em 30 de abril de 2013