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Clubes condicionam fair play financeiro a acordo sobre dívidas com governo

Renan Rodrigues e Vinicius Konchinski

Do UOL, no Rio de Janeiro

29/10/2013 06h00

Uma das principais reivindicações do movimento de jogadores Bom Senso FC parece longe de ser implantada. A aplicação do fair play financeiro, que puniria esportivamente clubes com dívidas e salários atrasados, foi condicionada por dirigentes a um acordo com o governo federal sobre os passivos das agremiações. A ideia é que um parcelamento especial seja instituído para quitar os débitos times num longo prazo.

Representantes de clubes que estiveram na sede da CBF na segunda-feira chegaram a informar que a confederação criou um grupo de trabalho para estudar modelos diferentes do fair play financeiro pelo mundo. A comissão fará um relatório destinado a times e federações. Nenhuma medida efetiva, porém, será aplicada para a próxima temporada.

“A questão do fair play financeiro é o governo que definirá. Não queremos o perdão da dívida ou descontos gigantescos. Mas será preciso definir uma forma de pagarmos sem matar o funcionamento do futebol”, disse o presidente do Atlético-MG, Alexandre Kalil, que foi porta-voz dos clubes após o encontro de três horas com jogadores do Bom Senso FC.

Além de punições dentro de campo, a utilização do fair play também pode ter um efeito colateral aos próprios atletas. Para não atrasar salários, contratações milionárias devem ser reduzidas e a responsabilidade no planejamento dos clubes tende a aumentar. Mesmo assim, os jogadores representantes do Bom Senso FC se mostraram empenhados na mudança, mas seguiram a linha dos clubes pedindo entendimento com o governo.

“Há uma dívida absurda dos clubes e sabemos que o fair play só valerá quando isso for resolvido. Só ai os jogadores poderão ter tranquilidade de terem seus salários em dia. Os clubes não querem esquecer a divida deles, querem pagar, mas com um prazo maior”, disse o lateral direito Alessandro, do Corinthians.

O jogo de empurra, porém, não atinge apenas a União. Se as equipes querem renegociar o pagamento dos débitos com o governo, a própria CBF emitiu um comunicado dizendo que, sem ações efetivas, os próprios clubes podem inviabilizar a criação do fair play no Brasil.

“Como é de conhecimento geral, a CBF vem se empenhando junto aos poderes da República no sentido de ser regularizado o passivo tributário dos clubes brasileiros. Isso será muito dificultado e talvez inviabilizado se os clubes não mostrarem terem implantado estritas  normas de responsabilidade fiscal, que possam inspirar confiança aos gestores públicos”, disse a nota da entidade máxima do futebol brasileiro.

O governo federal, por meio do Ministério do Esporte, já declarou estar empenhado em dar uma solução para as dívidas dos clubes. O secretário nacional de Futebol, Antônio Nascimento, declarou ao UOL Esporte neste mês que a pasta está estudando uma espécie de programa de refinanciamento das dívidas dos clubes com a União.

O fair play financeiro adotado pela Uefa em 2009, mas os clubes tiveram um período de carência para se adaptar. Em junho deste ano, a entidade comandada pelo francês Michel Platini excluiu o Málaga, da Espanha, da Liga Europa. O clube adquiriu dívidas maiores que o permitido pela legislação durante uma temporada.

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