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Ricardinho tenta adquirir perfil "boleiro" para se firmar como técnico

Guilherme Costa

Do UOL, em São Paulo

01/11/2013 06h01

Há duas histórias do dia 13 de maio de 2001 que ilustram atributos marcantes na carreira do jogador de futebol Ricardinho. Em primeiro lugar, a eficiência: o então camisa 11 do Corinthians fez, a segundos do apito final, o gol que definiu a vitória por 2 a 1 sobre o Santos e colocou o time da capital na decisão do Campeonato Paulista. A partida também mostrou o quanto ele conhecia sobre a parte tática: o meia foi escolhido pelo técnico Vanderlei Luxemburgo para utilizar um ponto eletrônico e ser a voz do comandante em campo. Eficiente e tático, Ricardinho era o jogador dos sonhos de qualquer treinador, função que ele decidiu exercer após ter deixado os gramados. No entanto, sem alguém que exerça funções parecidas com as que ele fazia, o pentacampeão ainda tenta se firmar no novo mercado e usa um perfil mais "boleiro" para encurtar o caminho.

Ricardinho tornou-se treinador em 2012. Passou por três clubes (Paraná, Ceará e Avaí) e não conseguiu ficar sequer um ano em nenhum deles. Atualmente desempregado, o ex-jogador tem aproveitado o tempo para assistir a jogos, observar atletas e conversar com gente do mercado.

“Tirei esse período para fazer isso e ficar com a família. Assumi o Paraná logo depois de ter parado. Foi tudo muito rápido, e só agora eu estou tendo um tempo para ficar mais com os meus filhos. Procurei esperar o momento e a situação certas para voltar a trabalhar. Espero que isso esteja próximo”, disse Ricardinho ao UOL Esporte.

Entre os trabalhos de Ricardinho como técnico, o mais longevo foi no Paraná (sete meses e 49 jogos). Depois, o ex-jogador trabalhou em 17 partidas do Ceará e em 19 do Avaí. “Independentemente do tempo, foram trabalhos interessantes. Meus números também foram interessantes. Agora é dar continuidade”, ponderou o pentacampeão.

Em pouco tempo na nova função, Ricardinho já conseguiu identificar um problema: a ausência de jogadores que executem funções como as que ele fazia: “A colocação que eu faço é que há poucos atletas com a característica de organizar. O volante marca, compõe e chega à frente, mas é volante; o meia chega, mas tem sido quase um segundo atacante. O armador, que cadencia o jogo e dá velocidade no momento certo, hoje nós temos poucos. Poucos mesmo”.

No entanto, o agora treinador não soube explicar o porquê da escassez nessa função. “Acho que não tem uma justificativa. É uma situação que pode ser da formação. Os times de base podem estar priorizando jogadores mais fortes, velozes e competitivos no sentido de brigar pela bola”, teorizou Ricardinho.

Essa ausência de jogadores com determinado perfil, segundo Ricardinho, explica algumas decisões tomadas por ele como treinador: “Depende do técnico e depende das possibilidades que ele tem. Às vezes, o técnico até pensa, mas o mercado não tem muito a oferecer. Aí ele precisa arrumar uma forma de jogar”.

A formação tática das equipes, contudo, não é o único segmento em que Ricardinho precisou fazer concessões para iniciar carreira como técnico. O ex-jogador sempre teve um linguajar distante do perfil boleiro, por exemplo.

“Você tem de mudar. Não conceitos, porque conceitos eu mantenho, mas algumas situações. O que eu acho que um grupo precisa ter eu já achava como jogador, mas a responsabilidade agora é maior. A função é diferente”, ponderou Ricardinho.

A primeira experiência de Ricardinho com ascendência similar sobre um grupo foi o episódio do ponto eletrônico. Em 2001, o jogador usou o aparelho para se comunicar com Vanderlei Luxemburgo durante o jogo contra o Santos.

“Ele passava a orientação quando a bola estava fora de jogo. Isso acontecia quando a partida parava para uma substituição ou um atendimento. Era fácil porque ali dentro de campo eu acompanhava e passava rapidamente para o resto do time”, contou Ricardinho.

Na época, o Santos chegou a acionar o STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva) para checar a possibilidade de uma punição ao Corinthians. Luxemburgo disse que já tinha usado o aparato em jogos anteriores, mas nunca especificou quais foram.

Voz do treinador naquele episódio, Ricardinho sempre teve um linguajar diferente do padrão entre jogadores de futebol. Contudo, o meia disse que não precisou mudar de perfil ou adaptar o jeito de falar após ter virado técnico.

“No futebol você não pode inventar. Algumas situações eu acho que um grupo precisa ter. Tenho isso como técnico e já tinha como atleta”, finalizou Ricardinho, 37.