Ricardinho tenta adquirir perfil "boleiro" para se firmar como técnico
Há duas histórias do dia 13 de maio de 2001 que ilustram atributos marcantes na carreira do jogador de futebol Ricardinho. Em primeiro lugar, a eficiência: o então camisa 11 do Corinthians fez, a segundos do apito final, o gol que definiu a vitória por 2 a 1 sobre o Santos e colocou o time da capital na decisão do Campeonato Paulista. A partida também mostrou o quanto ele conhecia sobre a parte tática: o meia foi escolhido pelo técnico Vanderlei Luxemburgo para utilizar um ponto eletrônico e ser a voz do comandante em campo. Eficiente e tático, Ricardinho era o jogador dos sonhos de qualquer treinador, função que ele decidiu exercer após ter deixado os gramados. No entanto, sem alguém que exerça funções parecidas com as que ele fazia, o pentacampeão ainda tenta se firmar no novo mercado e usa um perfil mais "boleiro" para encurtar o caminho.
Ricardinho tornou-se treinador em 2012. Passou por três clubes (Paraná, Ceará e Avaí) e não conseguiu ficar sequer um ano em nenhum deles. Atualmente desempregado, o ex-jogador tem aproveitado o tempo para assistir a jogos, observar atletas e conversar com gente do mercado.
“Tirei esse período para fazer isso e ficar com a família. Assumi o Paraná logo depois de ter parado. Foi tudo muito rápido, e só agora eu estou tendo um tempo para ficar mais com os meus filhos. Procurei esperar o momento e a situação certas para voltar a trabalhar. Espero que isso esteja próximo”, disse Ricardinho ao UOL Esporte.
Entre os trabalhos de Ricardinho como técnico, o mais longevo foi no Paraná (sete meses e 49 jogos). Depois, o ex-jogador trabalhou em 17 partidas do Ceará e em 19 do Avaí. “Independentemente do tempo, foram trabalhos interessantes. Meus números também foram interessantes. Agora é dar continuidade”, ponderou o pentacampeão.
Em pouco tempo na nova função, Ricardinho já conseguiu identificar um problema: a ausência de jogadores que executem funções como as que ele fazia: “A colocação que eu faço é que há poucos atletas com a característica de organizar. O volante marca, compõe e chega à frente, mas é volante; o meia chega, mas tem sido quase um segundo atacante. O armador, que cadencia o jogo e dá velocidade no momento certo, hoje nós temos poucos. Poucos mesmo”.
No entanto, o agora treinador não soube explicar o porquê da escassez nessa função. “Acho que não tem uma justificativa. É uma situação que pode ser da formação. Os times de base podem estar priorizando jogadores mais fortes, velozes e competitivos no sentido de brigar pela bola”, teorizou Ricardinho.
Essa ausência de jogadores com determinado perfil, segundo Ricardinho, explica algumas decisões tomadas por ele como treinador: “Depende do técnico e depende das possibilidades que ele tem. Às vezes, o técnico até pensa, mas o mercado não tem muito a oferecer. Aí ele precisa arrumar uma forma de jogar”.
A formação tática das equipes, contudo, não é o único segmento em que Ricardinho precisou fazer concessões para iniciar carreira como técnico. O ex-jogador sempre teve um linguajar distante do perfil boleiro, por exemplo.
“Você tem de mudar. Não conceitos, porque conceitos eu mantenho, mas algumas situações. O que eu acho que um grupo precisa ter eu já achava como jogador, mas a responsabilidade agora é maior. A função é diferente”, ponderou Ricardinho.
A primeira experiência de Ricardinho com ascendência similar sobre um grupo foi o episódio do ponto eletrônico. Em 2001, o jogador usou o aparelho para se comunicar com Vanderlei Luxemburgo durante o jogo contra o Santos.
“Ele passava a orientação quando a bola estava fora de jogo. Isso acontecia quando a partida parava para uma substituição ou um atendimento. Era fácil porque ali dentro de campo eu acompanhava e passava rapidamente para o resto do time”, contou Ricardinho.
Na época, o Santos chegou a acionar o STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva) para checar a possibilidade de uma punição ao Corinthians. Luxemburgo disse que já tinha usado o aparato em jogos anteriores, mas nunca especificou quais foram.
Voz do treinador naquele episódio, Ricardinho sempre teve um linguajar diferente do padrão entre jogadores de futebol. Contudo, o meia disse que não precisou mudar de perfil ou adaptar o jeito de falar após ter virado técnico.
“No futebol você não pode inventar. Algumas situações eu acho que um grupo precisa ter. Tenho isso como técnico e já tinha como atleta”, finalizou Ricardinho, 37.
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