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Aloísio Chulapa volta a jogar por R$ 10 mil e leva time à elite em Alagoas

Luiz Augusto Simon

Do UOL, em São Paulo

20/11/2013 06h00

“Não é pelos dez mil reais”, Aloísio Chulapa repete várias vezes. Ele faz questão de dizer que vive uma boa situação financeira e que o salário recebido no Santa Rita, que ajudou a vencer a segunda divisão de Alagoas, é apenas um complemento. O exemplo é simples e didático. “Tenho dois filhos, a Ana Luiza, de 15 anos e o Aloísio Romário, de dez. Não falta nada para eles: escola, arroz, feijão, farinha e bife. O salário é para comprar danoninho, dar uma melhorada, mas nem precisava, não”.

O nome do filho não é coincidência. A admiração pelo craque Romário é eterna. “Foi o maior jogador que eu já vi, se eu tivesse um pouquinho da frieza dele para decidir um jogo, tinha ficado milionário. E agora, você vê o que ele está fazendo como deputado? É o melhor que tem, sem dúvida. Denuncia as coisas erradas na Copa e ainda faz projeto para ajudar as crianças com problemas como a filhinha dele”. Ivy, filha de Romário, é portadora da síndrome de Down.

Para Aloísio, Romário deve seguir na política. Até o fim. “Até ser presidente. Ele ia ser muito bom para o país. Ele e o Patrão”. Patrão é Rogério Ceni, outro jogador de quem é fã. “Tudo o que o cara fazia era certo lá no São Paulo. Agora, ele está com outros jogadores nesse projeto do Bom Senso. Se o Rogério apoia é porque é bom. Vai ajudar os jogadores que não tem mídia como eles”.

Rogério faz parte da memória afetiva de Aloísio. Ele não se esquece da preleção dada pelo capitão do São Paulo antes da decisão contra o Liverpool em 2005. “O Autuori explicou que a gente deveria tomar cuidado na defesa e que se a gente conseguisse isso, o título ia ser nosso. Aí, o Rogério pediu a palavra e explicou que eles tinham fama de invencíveis, mas que iam perder para a gente. E perderam mesmo”.

A vitória veio com um gol que ficará marcado na história do São Paulo. Um chute de Fabão, o domínio de Aloísio e o passe para Mineiro. Chulapa ri muito ao se lembrar. “O lance do Fabão não foi sorte, não. A gente treinava isso. Ficava fechado lá atrás e ele, deslocado um pouco pela direita, dava aquele chutão. O resto é que foi sorte, né?”

O resto a que Aloísio se refere é o passe com três dedos, perfeito para a infiltração de Mineiro. “Ah, já tentei fazer aquilo umas cem vezes e não consigo. Aquele dia eu dei uma de R10, de Ronaldinho Gaúcho. Do Paraguai, mas deu certo, né?”

As lembranças do passado chegam com facilidade. Ele pergunta de companheiros do tempo do São Paulo, pergunta de jornalistas da época. A saudade dos velhos tempos, o ritual de voltar a um vestiário, fazer o aquecimento, tudo isso foi o que fez o velho artilheiro, com 38 anos, adiar a aposentadoria. Mesmo sabendo que pouca gente o verá em campo – na final da segunda divisão do Alagoano contra o Coruripe, o estádio comportava apenas 2002 torcedores.

“Quem já jogou futebol sabe como é gostoso estar em um campo. Não é fácil parar não, a saudade da bola é grande”.

A namorada Luiza, de 24 anos, foi quem deu o aval para que ele voltasse. “Ela falou que não queria me ver todo domingo fazendo churrasco com os amigos e que eu devia voltar. Acho que ela percebeu que eu estava um pouco triste. Aceitei correndo a ideia dela”.

Quando veio o convite do prefeito de Boca da Mata, cidade a 75 quilômetros de Maceió, Aloísio não vacilou. “Vi que dava para ajudar o time e fui jogar. Fomos muito bem e ganhamos o título. É gostoso, a torcida respeita a gente, não tem aquela violência de cidade grande. Os adversários pedem para tirar foto, é um negócio bem bacana mesmo”.

A ajuda de Aloísio não foi tão grande. Ficou na reserva e fez apenas um gol no campeonato. Agora, prepara de vez a aposentadoria. “Vou disputar o Paulistão pelo São Bernardo e depois vou jogar no Sport de Atalaia, minha cidade. É uma promessa que fiz e quero cumprir”.

Em Atalaia, também no estado de Alagoas, ele está construindo o Chulapão, estádio que terá capacidade para 4 mil torcedores. “A grama já está lá, lindona. Agora, vamos fazer a arquibancada. Vai ser o estádio do Vila Nova, meu time de pelada”.

Então, ao lado da namorada e da filha – Aloísio Romário está no Rio, jogando no CFZ de Zico – Chulapa vai curtir a aposentadoria. “Acho que a saudade não vai me pegar mais. Vou me esbaldar no churrasco e cuidar da filha. Acho que ela já está namorando, mas eu dou conselho. Falo para passar longe de pagodeiro e de jogador. Nem todos são legais como o pai dela”.