Fã-clubes femininos usam até estilete por paixão a boleiros 'fora de moda'
Neymar tem milhões de fãs espalhadas pelo Brasil, assim como Fred. Mas o assédio de meninas enlouquecidas por uma foto, um autógrafo ou apenas um segundo com o ídolo não são privilégio de craques desse quilate. Boleiros já ‘fora de moda’ também têm fã-clubes que botam no chinelo a neymarzete mais convicta.
Nada de David Beckham ou Cristiano Ronaldo, o objeto de desejo dessas adolescentes são atletas de pouca expressão como Ciro, do Atlético-PR, ou o desconhecido Renatinho, do Santa Cruz. Até quem hoje atua longe de grandes centros, como Nilmar, e o aposentado Tcheco destroem corações.
As ‘ciretes’ são as torcedoras assíduas que acompanham toda a vida de Ciro. Elas fuçam sites o dia inteiro, querem saber o desempenho do atacante no jogo, se foi elogiado ou criticado e até se a grafia do nome do atleta saiu correta no jornal.
A presidente do Ciro Cibernéticas é Ketyllyn K, de 16 anos. A jovem ainda tem as marcas de sua maior loucura, quando cortou o próprio corpo com estilete em nome de sua paixão.
Com apenas 14 anos na época, ela não tinha permissão para fazer uma tatuagem. Foi aí que veio a ideia de fazer uma ‘tatuagem caseira’. Com o auxílio de um estilete, ela escreveu a palavra Ciro nas duas coxas e no antebraço. “Não me arrependo de nada. O amor é muito maior que qualquer loucura”, disse, ao UOL Esporte.
Para manter sua idolatria, Ketyllyn se rebela contra os pais e os antigos namorados. Já terminou alguns relacionamentos porque o parceiro não aceitava a situação. Ela não esconde a chateação por não contar com o apoio das pessoas próximas.
“As pessoas são muito negativas. Nunca querem que você realize seu sonho, eles falam que ele não está nem aí para mim, que ele não é ninguém. É muito complicado conviver com isso”.
Moradora de Recife e torcedora do Sport, Ketyllyn se tornou fã quando o atacante ainda defendia o time pernambucano. A transferência para o Fluminense, em 2011, foi o momento mais difícil. “Eu chorava o dia inteiro. Estava entrando depressão. Foi uma facada no peito”.
Hoje, ela lida melhor com a distância e tenta explicar o motivo da adoração. “Ele é um guerreiro, saiu do nada, perdeu o pai e nunca desistiu. Hoje está aí com tantas coisas conquistadas. Se ele tivesse ganhado mais oportunidades nos clubes, estaria no mesmo patamar de Neymar”.
Kamila Mayara, de 19 anos, não é muito diferente da conterrânea. Mas seu objeto de idolatria é o desconhecido Renatinho, do Santa Cruz. “Ele é muito lindo, bonito, simpático, humilde, carismático, tem um jeito tímido que eu adoro. Amo demais ele”, se declara.
Em 2011, ela criou ainda no Orkut o fã-clube ‘Fanáticas por Renatinho’, que hoje tem um perfil no Facebook e conta com 40 membros. Uma vez por mês as seguidoras vão até o estádio Arruda acompanhar o treino do atacante que já foi presentado com faixas, camisetas, sandálias com sua foto e um bolo em seu aniversário.
Kamy Pink, como é conhecida, também já fez loucuras mais perigosas. Certa vez, subiu no alambrado para comemorar um gol e ver melhor o jogador. ‘Me machuquei e meus dois joelhos ficaram em carne viva’.
Apesar dos excessos, ela garante não ter ciúmes da mulher do jogador. “É um amor de fã, não é de namorado. Das outras meninas eu tenho ciúmes, não gosto que ele fique abraçando muito”, conta.
O vínculo entre fã-clube e esposa de atleta é comum. Laura, mulher do atacante Nilmar, ajuda a gaúcha e colorada Ana Luisa Corrêa a abastecer o blog e o perfil no Facebook N9.
Mesmo com o atleta atuando no distante Al-Rayyan, do Qatar, ela faz questão de acompanhar de perto. Sua idolatria começou em 2003 ao fazer um trabalho de escola que precisava de um personagem que passou por momentos difíceis. Nilmar, que havia se lesionado, foi o escolhido. Dez anos depois, o fã-clube tem dez mil associados espalhados por todo o mundo.
Ana Luisa tem uma tatuagem com as iniciais N9 no punho, que ela nem considera ser uma loucura. “O maior vínculo é porque ele é lindo, todas as meninas querem casar, mas sou diferente. Com o Nilmar é coisa de irmão mais velho ou mais novo, de querer cuidar, quero estar por perto, quero que ele faça parte da minha vida e eu da dele”, diz.
Assistente administrativa de uma transportadora, ela confessa que o amor pelo jogador já atrapalhou sua carreira. Em dias de jogos, ela não agenda reuniões e até troca seus horários de trabalho para vê-lo em campo.
Também no Rio Grande do Sul, Chaiene M., de 17 anos, criou o Tcheco4ever , em 2009, quando Tcheco atuava pelo Grêmio. Mesmo após a aposentadoria do jogador que hoje é técnico do Coritiba, o fã-clube mantém os cerca de 200 seguidores no Twitter e mais de mil no Facebook.
“As loucuras variam desde faltar aulas para assistir aos jogos, ficar hospedada no mesmo hotel, e ir a todos os treinos possíveis para vê-lo. Uma que chama a atenção é quando o Coritiba veio jogar contra o Grêmio em Porto Alegre. Eu entrei em campo com os jogadores do Grêmio, quando o Tcheco entrou com a camisa do Coritiba, eu atravessei o gramado correndo para abraçá-lo, isso com a camiseta gremista. Fiquei com medo, mas valeu a pena”.
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