Roberio de Ogum revela trabalhos com Luxa e diz que cravou 30 mil previsões
Ao longo da história, crença e futebol sempre andaram lado a lado, principalmente no Brasil. E poucos personagens caracterizam tão bem esta característica quanto Roberio de Ogum. Espécie de “guru” de diversas celebridades, o vidente paulista ficou conhecido no mundo do esporte por conta de suas previsões, orientações e amizade com o técnico Vanderlei Luxemburgo. Além disso, o guia espiritual afirma que já acertou mais de 30 mil profecias somando todas as áreas em que atua.
O nome de Roberio entrou de vez no mundo do esporte em 1993, quando ele previu o título do Palmeiras no Campeonato Paulista, que colocou fim ao jejum de 16 anos sem uma conquista de expressão do clube alviverde. Convidado no programa de Juarez Soares na TV Bandeirantes, o vidente cravou que o time comandado por Luxa venceria o Corinthians por 3 a 0 no tempo normal e conquistaria o título com um gol de Edmundo na prorrogação. Além disso, ele adiantou que a equipe do Parque São Jorge teria três jogadores expulsos.
Taxado de louco em um primeiro momento, ele passou a ser respeitado quando acertou quase que completamente a previsão, errando apenas o autor do último gol palmeirense, marcado por Evair após pênalti sofrido por Edmundo. Mas, de acordo com o “guru”, nada daquilo foi algo racional, mas sim obra do Senhor Ogum.
“Fui convidado para ir ao programa do Juarez Soares na Band. Eles ficaram me pressionando para falar quem seria o campeão e eu disse que o Palmeiras venceria por 3 a 0, o Corinthians teria três expulsos e o Palmeiras ia ganhar na prorrogação com um gol do Edmundo. Quando terminou o programa, o Eli Coimbra me chamou de louco. Eu não tinha percebido que falei aquilo. Foi o Senhor Ogum que veio a mim e falou”, diz Roberio em entrevista ao UOL Esporte.
Para ajudar o amigo Vanderlei a conquistar o título, Robério ainda orientou o Palmeiras a atuar de meiões brancos e camisas de manga longa. Tudo para que o time obtivesse mais energias positivas.
“Eu pedi para o Palmeiras jogar de meias brancas. Já tinha benzido os uniformes, pedi para substituir as meias. A camisa eu queria a listrada verde de manga longa e também não tinha. O Antônio Carlos jogou com uma camisa com um furo embaixo do braço. O roupeiro ficou louco para achar tudo. O time estava no hotel e de repente eu apareci com o pedido para jogar de meia branca”, comenta.
Fato é que o Palmeiras quebrou o jejum e o título fortaleceu o laço de Roberio com Luxemburgo. Amigos desde os tempos de Bragantino, quando o treinador passou a contar com os conselhos do guia espiritual, ambos passaram a trabalhar juntos em diversos clubes. A identificação é tão grande, que o “guru”, hoje com 59 anos, sempre usa um categórico “nós” ao se referir aos times por onde ajudou Luxa, como se realmente formasse dupla com o comandante.
“No Carioca de 95, perdemos com gol de barriga do Renato Gaúcho. Eu torci o pé e sai da concentração meio-dia. Liguei para o Vanderlei e disse: “vamos perder”. Era muita carga contra nós, um trabalho muito forte”, lembra.
Após 12 anos de trabalhos bem sucedidos, a “dupla” se separou em 1998, quando Vanderlei era treinador do Corinthians. Roberio não quis mais trabalhar com Luxa enquanto o auxiliar Oswaldo de Oliveira, hoje técnico do Botafogo, permanecesse na comissão técnica. De acordo com o guia espiritual, Oswaldo atrapalhava a carreira do amigo.
“Trabalhamos juntos durante 12 anos, meu caminho era leva-lo até a seleção. Em 98, ele estava no Corinthians. Tivemos uma conversa eu disse: ‘Enquanto o Oswaldo de Oliveira estiver com você, eu estou fora. O Oswaldo tem a pretensão de ser você e isso atrapalha o seu caminho.’ Era decisão do Paulista contra o São Paulo e nós perdemos. O Oswaldo permaneceu e eu sai”, revela.
“Um dia o Vanderlei ligou e disse: ‘Vou para a seleção e o Oswaldo vai ficar no Corinthians. Vamos trabalhar, eu preciso de você’. Aí eu neguei porque ele desconfiou de mim naquela época”, conta.
Guia e treinador ficaram sem conversar durante quase 12 anos. A “dupla” só voltou a trabalhar junta novamente em 2010, quando Luxemburgo estava no Atlético-MG. Desde então, Roberio tem ajudado o amigo em todos os clubes e afirma que previu o mau momento vivido por Luxa em 2013, que acabou demitido de Grêmio e Fluminense.
“Ele foi campeão invicto no Flamengo, não é fácil. Ele é um p... treinador. Ele foi para um Estado complicado de trabalhar, que é o Rio Grande do Sul. Eu disse que ele ia se arrebentar. O extracampo é muito mais forte. Os técnicos gaúchos dominam e são muito de mãos dadas. Ele se meteu em uma cumbuca. Ele veio para o Rio e ao invés de ficar quieto, se meteu em um time que Abel Braga e Muricy Ramalho já sugaram, no bom sentido, o que tinha de bom. É um grupo velho. O Vanderlei é turrão, paga para ver. Jamais pediria demissão. Mas disse a ele que se ficasse no Flu, não seria rebaixado. Estava escrito”, crava.
Fato curioso é que apenas Roberio fala abertamente sobre seu laço com Luxemburgo. Procurado pela reportagem do UOL Esporte, a assessoria do técnico disse que jamais viu Luxa com o guia espiritual e desconhece qualquer relacionamento.
Banho de rosas em Gilmar Fubá?
Ao longo dos anos, a “tabelinha” Ogum/Luxemburgo se tornou algo até mesmo folclórico no futebol nacional e gerou uma série de mitos sobre os trabalhos orientados pelo guia espiritual. Um dos mais exóticos aconteceu no primeiro jogo da final do Campeonato Brasileiro de1998, entre Corinthians e Cruzeiro. A mando de Roberio, Luxa teria chamado o volante Gilmar Fubá ao seu quarto. Ao chegar, o jogador foi surpreendido com o pedido para tomar um banho de banheira com rosas, alfazema e sal grosso. Tudo para “livrar os caminhos” para atuar como titular e marcar o cruzeirense Müller.
Com ótimo humor, o vidente nega que tenha ordenado qualquer banho ao jogador e diz que tudo não passa de uma grande invenção do ex-volante Vampeta.
“Isso que o Vampeta fala não é verdadeiro, não é o caminho do trabalho. Eu trabalhei com um monte de treinador. Eu nunca trabalhei com jogador, nunca mandei um jogador tomar um banho. O caminho é chegar no treinador e ele falar o time. Então eu rezo pelo time. Vou rezar para que esse treinador tenha mais espírito, possa fazer uma bela preleção. Eu não entendo nada de futebol, eu sei rezar e pedir”, conta.
“Se você pegar os 23 jogadores de um elenco e tentar um trabalho espiritual, não dá. Eu sempre trabalhei com o comandante. Se você reza por ele, ele vai ter fé, intuição e vai passar isso para o jogador. Se você trabalhar com o jogador, você cria uma carga muito grande no grupo, você atrapalha”, completa.
De acordo com Roberio, que garante conversar naturalmente com as entidades, sua função é rezar e pedir luz aos seres superiores. Além disso, ele dá dicas sobre como conseguir aproveitar melhor a energia espiritual.
“Pedir muito, ficar rezando muito. Quem vai te dar luz são os seres superiores. Quem nos dá luz é Deus e os Orixás. Buscar Deus e ele permitir que o senhor Ogum me fale. Converso com as entidades assim como converso com você. Nenhum dia é igual ao outro. Tem um dia que o plano espiritual fica mais ao seu lado. É o momento de usar uma roupa especial, tomar um banho. Depende do dia. Hoje (quinta-feira, 21 de novembro) quem está regendo é Xangô, o Deus da Justiça. Então é bom pedir no campo dele, buscar a cor dele, o axé”, revela.
Personalidades, previsões e erros
Muito se engana quem pensa que o relacionamento de Roberio com o esporte ficou limitado a amizade com Vanderlei. Com um vasto currículo, o guia espiritual já trabalhou com Bragantino, Portuguesa, Corinthians e até mesmo com a seleção brasileira de vôlei.
“Muitas pessoas me procuram. Jogadores, presidentes, técnicos. Nas Olimpíadas dos EUA, em 96, eu falei várias vezes com o Zé Roberto Guimarães, técnico da seleção masculina de vôlei”, conta.
Já em 2007, ano do rebaixamento do Corinthians, o vidente revela que foi consultado por Andrés Sanchez para saber se deveria ou não ser candidato à presidência do Corinthians.
“Fiz a previsão de que o time passaria por um momento ruim. No meio de toda a crise que aconteceu, o Andrés me procurou. Ele foi à minha casa e eu disse: ‘Você tem que ser o presidente mesmo com o rebaixamento porque está no seu destino, no seu caminho. Você será o grande homem do Corinthians, que vai colocar o time no topo do mundo.’ Ele saiu da minha casa para ser o candidato que não queria mais ser”, afirma.
É claro que em meio a tantos anos de carreira, Roberio acumula erros em suas previsões. No entanto, ele vê tudo com extrema naturalidade e usa o “saldo positivo” para justificar as falhas.
“Lógico que me cobram. Eu errei e vou continuar errando. As pessoas têm livre arbítrio e Deus. Se eu ver algo ruim em você, você pode rezar e mudar isso. Você não pode errar em excesso. Acertei mais de 30 mil (entre todas as áreas) e não tenho 100 erros”, confia.
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