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Anderson diz que foi perseguido no Barça e ficou triste em duelo com Brasil

Vanderlei Lima

Do UOL, em São Paulo

29/11/2013 06h00

“Novo Jairzinho”. Foi com esse rótulo que o goiano Anderson da Silva iniciava sua carreira no futebol, ao subir para o time profissional do Vasco no final da década de 80. E o adjetivo não foi dado por qualquer um. Saiu da boca do então técnico do time cruzmaltino na época, Zagallo. Mas o atacante se transformaria em uma homem de referência na área e depois viraria “Sonny Anderson”, com passagens por clubes como Barcelona, Olympique de Marselha, Lyon, Mônaco, Villarreal e seleção brasileira.

“Quando iniciei no Vasco, tinha 19 anos e o Zagallo foi meu treinador e me colocou pela esquerda. E pôs o Roberto Dinamite de centroavante. Depois ele me posicionou na direita e falou que eu seria o novo Jairzinho pela velocidade que eu tinha na época. Mas virei um homem de área, não era ponta e sim centroavante”, falou em entrevista ao UOL Esporte.

O apelido foi por conta de sua velocidade em campo e assim foi comparado a “Sonic”, personagem de videogame da década de 90 famoso por seus sprints em alta velocidade.

Depois de encerrar a carreira no Qatar em 2006, Anderson voltou para a França, país onde fez mais sucesso na Europa e ganhou títulos do Campeonato Francês, Supercopa da França e Copa da Liga Francesa, por Lyon e Monaco.

Chegou a ser um dos treinadores assistentes do time profissional do Lyon e representante do clube no exterior. Mas agora é comentarista do Canal + local. “Faço jogos da Liga dos Campeões e partidas de campeonatos do Brasil. Também comento partidas da seleção brasileira e outras competições internacionais”, explicou.

Os times pelos quais o brasileiro mais ganhou títulos em sua carreira foram Lyon ,com quatro, e Barcelona, com três. No primeiro, iniciou uma geração que depois seria liderada por Juninho Pernambucano e se tornaria um dos times mais vitoriosos da história da França.  

“Quando cheguei, o  Lyon estava em baixa e era um clube normal. Não tinha nenhum título e tinha que ganhar, então a base foi feita em volta do que eu gostaria que fosse feito em termos de objetivo para o clube. Conseguimos o primeiro título, o segundo, e depois eu saí. Foi muito bom. Lá tinha o Caçapa, o Juninho, Cris, depois veio o Fred o Edmílson, a minha chegada foi o que impulsionou a vinda de outros brasileiros pra ganhar títulos.”


Já no Barcelona, apesar das conquistas, Anderson não guarda somente boas lembranças. Passou por alguns episódios difíceis, a começar pela pressão por ter que substituir o ídolo Ronaldo, que fora vendido para a Inter de Milão. Mas, o pior foi sofrer com o que chama de perseguição do técnico holandês Louis Van Gaal, conhecido por ser carrasco de jogadores brasileiros.

O treinador tem uma galeria de atletas do país que reclamam de seus métodos e perseguição, como Giovanni, Lucio, Rivaldo, Zé Roberto e o próprio Anderson. “Pelo menos de mim ele não gostava não, me perseguiu. Teve uma vez que ele me colocou pra jogar no meio-campo e marcar o Mendieta, do Valencia. Fiz três jogos como volante e fui criticado. Ele não me apoiou, ficava dizendo que a culpa da má fase era minha porque eu tinha que me adaptar a função e jogador profissional tem que atuar em qualquer posição”, relembrou.

“Me perseguiu muito. Fiquei uns dois meses só treinando, sem jogar. E quando eu voltei, ele só me colocava cinco ou dez minutos por jogo. Eu entrava, marcava gol e ele não me dizia nem parabéns por ter ido bem. Dizia apenas que eu tive sorte. Com ele não tinha diálogo. As pessoas podia me elogiar, mas pra ele tudo o que eu fazia era errado”, recordou.

Outro episódio que Sonny não gosta de se lembrar é o fato de ter enfrentado sua pátria e seus companheiros de clube. Isso ocorreu em um amistoso entre a seleção brasileira e o Barcelona, em 1999, que acabou em 2 a 2, na Catalunha. Anderson não foi convocado pelo então técnico do time brasileiro, Vanderlei Luxemburgo, mas viu os companheiros de clube Rivaldo e Giovanni ganharem uma chance. Teve que entrar em campo para defender o Barça.

“Fiquei abatido e magoado por jogar contra a seleção e Giovanni e Rivaldo. Eu estava muito tenso, e não vinha jogando pelo Barcelona. Mas o Van Gaal falou que se precisasse, iria me colocar. Eis que tive que entrar e até marquei um gol que o juiz não validou. Eu fiquei abatido. Dei também um passe para o Figo marcar. Foi difícil jogar contra a minha seleção, me abati por jogar contra o meu país. Fiquei muito triste”, falou.

Sonny Anderson teve oportunidades em sete partidas com a camisa amarela e marcou um gol. Sua última chance foi na Copa das Confederações de 2001, sob o comando do técnico Emerson Leão, demitido depois da campanha ruim que culminou em um quarto lugar.

“Foi um período difícil da seleção, de muitas mudanças. Mas não acho que fiquei marcado (pelo time ter ido mal no torneio). Todos sonhavam em defender a seleção brasileira. Mas tive muitos problemas de contusão em alguns momentos da carreira e isso atrapalhou”, concluiu.