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Arena do Grêmio completa um ano sem lotar e sob desconfiança da torcida

Marinho Saldanha

Do UOL, em Porto Alegre

08/12/2013 06h00

Há exatamente um ano, Porto Alegre ganhou seu estádio mais moderno. A Arena do Grêmio foi inaugurada com grande show, festa e amistoso histórico diante do Hamburgo. Mas o primeiro ano de uso passou longe da 'nova Era' prometida. Sem lotar uma vez sequer e ainda sob desconfiança do torcedor, a nova casa azul, branca e preta precisa cair de vez nas graças do povo.

Muitos motivos podem ser citados para a não lotação da Arena. A localização, na zona norte de Porto Alegre, o tamanho do estádio R$ 55,5 mil lugares, os altos preços dos ingressos, que variam normalmente de R$ 40 a R$ 160. Mas independente da razão, fato é que o estádio jamais recebeu sua capacidade máxima. Nem perto disso. Os dois maiores públicos em jogos oficiais pouco passaram dos 40 mil. Foram 43.899 em Grêmio e Atlético-PR e 41.461 em Grêmio e LDU.

A média de público no ano ficou em 25 mil, pouco perto dos 40 mil por jogo projetados anteriormente. E a renda não entrou para os cofres gremistas. Como previsto em contrato, quem lucrou com o estádio foi a OAS, responsável por construir o local.

Contrato, aliás, que foi discutido durante todo o ano. Cláusulas consideradas nocivas ao clube foram revistas pelo presidente Fábio Koff, que ocupou seu primeiro ano de mandato principalmente com a análise desta questão. Após 12 meses, a revisão nas cláusulas está prestes a ser assinada e a mudança definitiva também se aproxima.

Enquanto isso, os negócios que alavancariam a 'nova Era' proposta pela Arena não aconteceram. O Naming Rights não foi comercializado, não foram instaladas lojas, não houve avanço real no museu do clube e não há o pretendido restaurante que funcionaria independente de jogos marcados. As salas de escritórios também prometidas antes da conclusão da obra não foram instaladas e o dinheiro que se previa, não foi obtido. Além disso, tal negociação não cabe ao clube. O Grêmio, também, não obtém o lucro total com isso.

Com tudo isso, o clube entrou em uma grave crise financeira e o que parecia ser a salvação para os cofres do Grêmio virou responsável direto pelo atraso nos pagamentos de jogadores e funcionários.

"O Grêmio tem várias frentes para entrada de verbas. O fluxo de caixa como está hoje acarretou este atraso. O Grêmio não tem recursos devido ao modelo de gestão. Não temos bilheteria, como sempre houve no dia a dia em outros tempos. Isso levou a este momento. Mas logo vamos acertar isso", disse o assessor de futebol Marcos Chitolina na última semana.

Com tantos problemas no primeiro ano de uso, a Arena não caiu totalmente nas graças dos gremistas. Não é raro ver torcedores admitindo que se sentiam mais à vontade no Olímpico. O próprio presidente Fábio Koff já reclamou publicamente da relação com a administração do estádio. E tudo isso chega até o torcedor.

Problemas no gramado e o fim da Avalanche

A Arena do Grêmio teve uma marca em sua trajetória logo nos primeiros meses de uso. Em janeiro, no jogo de volta da fase preliminar da Libertadores, torcedores fizeram a comemoração tradicional do Grêmio, chamada Avalanche, que consistia na descida rápida das arquibancadas resultando em uma bonita imagem, eternizada atrás de uma das metas do Olímpico.

Porém, a divisória entre a arquibancada e o campo do novo estádio não resistiu e rompeu levando oito torcedores a caírem no fosso. Começou ali uma polêmica gigantesca que resultou na proibição da comemoração, na interdição da arquibancada do estádio por alguns meses e ainda na redução da capacidade máxima da Arena para 55,5 mil aficionados [antes eram 60 mil]. Após várias reuniões, os órgãos competentes liberaram o espaço, com a colocação de barreiras metálicas impedindo a descida. Morreu a celebração.

Além disso, o campo de jogo da Arena oscilou bons e maus momentos. Na inauguração, foi chamado de 'deserto' e 'plantação de batatas' pelos alemães do Hamburgo. Depois, o clube não pôde começar o Gauchão jogando ali sob alegação de que a grama precisava de mais tempo para crescer. Quando voltou a atuar na nova casa, perdeu para o Huachipato, do Chile, e o culpado novamente foi o gramado.

Tudo se acalmou com o tempo e a melhora nas condições do piso de jogo. Até a chegada do verão. A troca da grama ocasionou nova queda de qualidade e um aspecto de 'queimado'. Foi a vez de adversários, como o centroavante Walter, do Goiás, reclamar. Segundo o 'gordinho', ele nunca havia jogado em um campo tão ruim.

Futuro promissor

Mas se no primeiro ano a Arena conviveu com problemas repetidos, o futuro é promissor. Finalmente o contrato foi refeito e deve ser assinado nos próximos dias. Com isso, restarão 90 dias para a mudança nos departamentos do clube para Arena e Centro de Treinamentos. O prazo será o mesmo para implosão do Olímpico. Talvez sem a 'sombra' da casa de tantas glórias, a Arena seja aceita de vez pela torcida.

Além disso, a direção gremista acredita que a partir da celebração do novo contrato possa passar a conseguir novas fontes de renda com o estádio, como a instalação de lojas e restaurantes, algo que pode já estar pronto para o ano que vem.

A Arena do Grêmio fecha seu primeiro ano de uso tendo recebido 31 jogos, com 18 vitórias, 8 empates e 5 derrotas, que gera aproveitamento de 66%. Com sete gols marcados, Barcos e Kleber dividem a artilharia nas redes do moderno estádio. Não houve títulos ou ao menos finais, algo que tanto o clube quanto sua casa ainda devem aos gremistas.