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Valdo conta fuga da água "batizada" de Maradona e drama por morte da filha

José Ricardo Leite e Vanderlei Lima

Do UOL, em São Paulo

17/12/2013 06h00

A Copa do Mundo de 1990 não é das mais lembradas pelo torcedor brasileiro por marcar, entre outras coisas, a única eliminação da seleção para sua arquirrival Argentina, nas oitavas de final. A derrota de 1 a 0 é amarga não só pela rivalidade, mas também por uma trapaça dos Hermanos com os jogadores canarinhos pelo caso da “água batizada”.

No episódio em questão, o lateral brasileiro Branco saiu de sintonia em campo após pedir para beber água de uma das garrafas que o massagista argentino carregava. Anos depois, Maradona admitiu sem constrangimento a trapaça, em aparição na TV de seu país. De fato Branco foi baqueado por substâncias misteriosas preparadas premeditadamente para pegar os adversários desprevenidos [em detalhes no vídeo acima, em espanhol].

Curioso é que Maradona admitiu em entrevista que um dos brasileiros que os argentinos queriam que tomasse a água era Valdo, meia de armação e principal responsável pela criação de jogadas para o ataque. Mas o ex-meio-campista de Benfica, Paris Saint-Germain, Grêmio, Cruzeiro e Botafogo, entre outros, por sorte não gostava de beber água nas partidas e recusou a “gentileza” ao ser chamado pelo camisa 10 argentino para se refrescar com a água rival.

“Eu sou assim, raramente eu tomo água nos jogos. Até hoje eu sei que é um erro, mas até hoje eu não bebo água. Meu negócio nos jogos era tomar um cafezinho no intervalo e estava tudo certo. Anos depois fiquei sabendo que o Maradona queria que eu bebesse a água. Ele me chamava de ´Baldo´. Ele me chamava ´Baldo, baldo´, só que eu não era de beber água”, lembrou.

“Teve essa água batizada e realmente os brasileiros beberam. Foi uma ingenuidade, sobretudo vindo dos nossos hermanos. E o Maradona disse ainda depois que a água estava batizada mesmo e que não era para o Branco, e sim para o Baldo.”

Além da eliminação para a Argentina, o time de 1990 ficou marcado por ter supostamente um clima ruim em função do descontentamento dos atletas por falta de acerto com a CBF na questão da premiação do time. Existe até uma famosa foto em que o elenco tapa com as mãos o patrocinador como símbolo de protesto.

Mas Valdo nega que existisse grupo rachado e diz que o ambiente era saudável. "Não, não teve nada disso (desavenças). Isso (a foto) começou na Granja Comary, mas não teve nada a ver o problema. É que quando você não ganha, todo mundo procura uma razão pra derrota, e quando você ganha é muito mais simples”, falou.


“Em 94 houve muita confusão, mas ganhou. Então ficou marcado como? O lado bom da coisa, os gols do Romário e o balancinho do Bebeto para o filho. Então, a história vai ter sempre os dois lados, vai ter o bom, e vai ter o ruim. Infelizmente em 90 o que aconteceu? Para a grande infelicidade nossa, foi que o gênio (Maradona) acordou 30 segundos e fez a diferença.”

Valdo atualmente mora em Lisboa e trabalha como manager de um time chamado Lusitanos, da região de Saint-Mau-des-Fossés, na França, próxima a Paris. “Peguei o clube na oitava divisão e hoje ele está na quarta. O objetivo é chegar na segunda, porque depois é mais complicado”, falou.

Superação de drama pessoal

Valdo viveu um drama em sua vida pessoal em 1997, quando jogava no Nagoya Grampus Eight, do Japão. No momento em que seu time fazia pré-temporada, na Austrália, o meio-campista foi informado da morte de sua filha, Thatielle, então com 13 anos.

A jovem sofreu um acidente de carro no Brasil, mas ainda assim Valdo conseguiu manter o profissionalismo e continuou a jogar semanas depois que superou o baque. Disse que usou o esporte como maneira de manter a cabeça longe da tristeza.

“Foi um momento na vida muito difícil, porque entendo que na vida é o filho que enterra os pais. Foi duro porque ela não estava doente, foi por um acidente. Você fica perdido por um tempo e pergunta porque aquilo acontece com você, sendo que na sua cabeça é a melhor pessoa do mundo e não deveria acontecer. Mas nós não estamos aqui para julgar, mas sim para encarar as coisas como elas são. É muito triste, não desejo isso pra ninguém”, recordou.

“Quando o Alexandre Torres (ex-companheiro de time) me falou ´tem telefone pra você, é sua esposa´, eu vi ele pálido. Logo depois peguei minha bolsa e fui para o aeroporto. Mas quando perdi minha filha amada não quis ficar muito tempo sem jogar bola, pois jogando eu estava em um outro mundo. Fui sempre 100% e não me poupei pra nada. Era a maneira de amenizar a dor que eu estava sentindo”, contou.

Mas se ficou uma lacuna pela fatalidade com Tathielle, Valdo tem outros motivos para  ter alegria em sua vida. “Hoje tenho uma filha Yara de 20 anos, ela vai se formar em administração é cantora e compositora a minha esposa é pós graduada  e doutorada em MKT e Propaganda”, contou, orgulhoso.