Tradutor do Kashiwa perde Réveillon e cabula emprego em telemarketing
“Bom dia. Obrigado por seu telefonema. Aqui quem fala é o operador Takimoto”. É com essa frase que Motoharu Takimoto exerce seu trabalho diariamente atendendo centenas de clientes em um telemarketing. O emprego parece normal se não fosse um detalhe. Ele fala todo o tempo em japonês com pessoas que estão do outro lado do mundo.
Mas o desafio de Motoharu agora é maior, e ele nunca usou tanto seu domínio do idioma oriental como agora. Se tornou tradutor do Kashiwa Reysol na Copa São Paulo de futebol júnior. Sua nova função é ‘se virar’ para tornar todos os pedidos de jogadores e comissão técnica bem compreensíveis aos ouvidos brasileiros.
Filho de pais japoneses, nascido do outro lado do mundo e criado no Brasil, ele confessa que tem mais facilidade com o português. Mas isso pouco importa para os japoneses. Motoharu é uma espécie de anjo de guarda do Kashiwa no Brasil e resolve de tudo.
Manda consertar ar condicionado quebrado, faz pedido de leite quente à noite e até arranja um campo para o time treinar de última hora. “É muito mais coisa do que eu esperava. Só não sou babá porque não pego na mão e levo para fazer as coisas”, brinca.
Para aceitar o novo emprego, ele precisou se desfazer de muita coisa importante. Se juntou à delegação japonesa na noite do dia 30 de dezembro e não conseguiu aproveitar o Réveillon com seus familiares e amigos. Passou a virada do ano no hotel em Barueri conversando com os jogadores e quase sem diversão. Foi para a cama nas primeiras horas do dia 1°. Muito trabalho estava por vir.
Com o novo emprego, Motoharu ganhou um problema ainda mais difícil de resolver. Não conseguiu conciliar os dois trabalhos e deu um ‘jeitinho’ para cabular o emprego como operador de telemarketing. Pediu dispensa sob a alegação de problemas pessoais.
Sua ideia é retornar só depois da final da Copinha, que será no dia 25 de janeiro, no Pacaembu. Mas ele nem vai reclamar muito se o time for eliminado e tiver que voltar para casa antes. Admite estar cansado, à beira da exaustão.
“Fico quase 24 horas por dia por conta do time. É legal, mas tem que hora que cansa muito. Eu deito na cama e ainda fico agitado, virando de um lado para o outro. Não consigo dormir direito”, conta.
A recompensa vem no bolso, com um salário maior que ele não quer revelar. Porque, de fato, sua rotina tem sido desgastante. De manhã, acorda cedo para chegar ao restaurante antes dos jogadores e do início do café da manhã, às 8 h. Depois, precisa ajudar a comissão técnica a mandar as roupas dos atletas, uniformes e roupa de cama para a lavanderia. A prefeitura de Barueri recolhe toda a rouparia pela manhã para ser lavada.
Durante o dia ainda acompanha visitas pela cidade, treinamentos, jogos, palestras, jantares, reuniões com jogadores e, claro, entrevistas. Muitas entrevistas. “Eu que tenho que intermediar tudo. Eu não queria aparecer muito para o pessoal do meu trabalho não me reconhecer. Mas tem hora que não tem jeito, a câmera acaba me pegando”.
Sem Motoharu, a comunicação seria impossível. Seja com a prefeitura de Barueri, com os funcionários do estádio, com a camareira do hotel ou com a imprensa. Por isso, ele já se sente importante na boa campanha do time que vem surpreendendo na Copinha.
O Kashiwa já conquistou duas vitórias sobre o Grêmio Barueri e o Auto Esporte, e um heroico empate por 1 a 1 com o São Paulo. Agora, tem boas chances de se classificar para a próxima fase como um dos seis melhores segundos colocados. Mais trabalho para Motoharu.
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