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Agradecendo a Alá, Ribery sonha com zebra em Zurique

Fernando Duarte

Do UOL, em Zurique (SUI)

13/01/2014 06h00

Apontado até meados de novembro como o favorito para a conquista da Bola de Ouro de 2013, incluindo por diversas casas de apostas na Europa e na Ásia, Franck Ribery parece ter perdido terreno a ‘’atropelada’’ proporcionada por Cristiano Ronaldo no final das eliminatórias europeias para a Copa do Mundo. No entanto, o atacante do Bayern de Munique chega à cerimônia desta segunda-feira, em Zurique, como bem mais que apenas um contrapeso para uma disputa entre Ronaldo e Lionel Messi.

Uma situação que por si já é uma vitória diante do domínio que  o português e o argentino vêm exercendo no mundo do futebol. Diferentemente de ambos, Ribery não é uma mina de ouro comercial. Aos dois anos de idade, um grave acidente de carro deixou seu rosto coberto por cicatrizes e durante anos o expôs à zombaria das crianças com que cresceu na cidade portuária francesa de Boulogne.

“Tive que aprender a usar minhas cicatrizes para me fortalecer”, conta o jogador.

Aos 20 anos, uma idade em que tanto Ronaldo quanto Messi já eram nomes estabelecidos no futebol mundial, Ribery ainda trabalhava ao lado do pai, François, como ajudante de pedreiro, já que ele ainda não estava certo de que vingaria como jogador profissional. Três temporadas depois, porém, ele reforçou a seleção francesa no Mundial da Alemanha, destacando-se como um dos principais jogadores do torneio e colocando um vice-campeonato mundial no currículo.

Mas 2010 foi um ano para esquecer: além de ser apontado como um dos principais participantes do motim de jogadores que resultou numa pífia campanha dos Les Bleus na Copa da África do Sul – o time caiu na primeira fase, Ribery foi o pivô de um escândalo de prostituição envolvendo uma menor de idade. Respondeu a processo, e embora tenha sido inocentado nos tribunais da acusação de sexo com menores, o escândalo ajudou manchar sua imagem.

O francês já era na época um dos jogadores mais caros da história do Bayern de Munique, que pagou 25 milhões de euros ao Olympique de Marselha, em 2007. O ano de 2010 teve ainda uma expulsão por falta violenta que o privou de jogar pelo Bayern a final (perdida) da Liga dos Campeões.

E se transformou num dos segredos do sucesso da equipe alemã nos últimos anos e que até agora teve com auge um 2013 com uma tríplice coroa e o Mundial Interclubes na sala de troféus da Allianz Arena.

- Foi um ano inesquecível para o Bayern e para os jogadores. E agora eu ainda tenho essa grande chance. Vamos esperar para ver – disse Ribery, na semana passada, ao falar das expectativas para a Bola de Ouro.

Convertido ao islamismo desde 2008 para casar com sua namorada de infância, Wahiba, o francês poderá se tornar um curioso primeiro caso de jogador muçulmano eleito melhor do mundo – ainda que as casas de apostas agora já apontem para uma ‘’segunda vinda’’ de Ronaldo. Mas a presença na festa de gala da Fifa já promete ser uma bela risada para um jogador que, além do bullying na infância, precisou lidar com o desdém do lado mais vaidoso do futebol-negócio.