Ala racista do Atlético de Madri defende D.Costa e o trata como espanhol
Ídolo no Atlético de Madri, Diego Costa tem apoio para defender a seleção da Espanha até de uma torcida organizada racista. A Frente Atlético, conhecida por recorrentes manifestações preconceituosas nos estádios pela Europa, trata o atacante nascido em Lagarto, no Sergipe, como espanhol e considera “inveja” o repúdio ao brasileiro por parte de grupos que possuem a mesma ideologia e são ligados a outros clubes espanhóis.
O UOL Esporte foi aos bares de concentração da Frente Atlético em Madri após o duelo contra o Barcelona, na noite do último sábado. Por lá, o discurso de defesa dos torcedores a Diego Costa era curto, direto e na mesma intensidade dos gritos das arquibancadas.
“Você me pergunta por me ver como nazista, fascista ou o quê? A Frente tem respeito por quem nos respeita e não me importa o que acha. O [Diego] Costa é espanhol para todos os [torcedores] do Atlético. Tenha certeza disso. O teu racismo é o de considerar o meu julgamento errado”, avalia Josep Ponpe, 47 anos e há quase 30 anos como associado da Frente Atlético.
O bar de maior concentração do grupo organizado é o bar da Frente, localizado ao lado do Vicente Calderón, estádio do Atlético de Madri. O estabelecimento leva diversas flâmulas da torcida, bandeiras do clube, uma da Espanha e outra da Castilha, região autônoma situada ao lado de Madri.
“Qualquer espanhol é patriota, e aqui é um orgulho sermos considerados radicais por sermos espanhóis. Vá a Catalunha, País Basco, e vai entender o que é rejeitar o Diego Costa. O cara é espanhol hoje e só se incomoda quem odeia o Atlético, por isso também encontra rejeição no Real [Madrid]. Já viu como ele joga como espanhol? Marca zagueiro, tem força? Você encontra isso no Brasil?”, afirma o garçom do estabelecimento, Fernando Gutierrez.
ATLÉTICO JÁ FOI MULTADO POR RACISMO E R. CARLOS FOI OFENDIDO
O lateral brasileiro Roberto Carlos foi um que sofreram com racismo da torcida do Atlético de Madrid. Na vitória do Real por 3 a 0 em 2005, o defensor ouviu imitações de macaco por conta dos torcedores rivais. No mesmo ano, o Atlético foi multado em seis mil euros por cantos racistas de sua torcida contra o goleiro camaronês Kameni, do Espanyol
O nervosismo com a indagação sobre a escolha de Diego Costa é perceptível em todos os frequentadores do bar. Respostas são rebatidas quase sempre com questionamento: “Sangue espanhol? Que besteira está falando. Somos julgados por julgarmos e não me importa o que os brasileiros pensam. Incomoda ver o Diego Costa na Espanha pelo jogador que é. O local de nascimento não forma um caráter”, afirma Pedro Martin.
Em outros bares ao redor do estádio, o discurso de defesa a Diego Costa também é feito. Sem torcedores ligados a grupos radicais, é mais fácil encontrar aceitação ao fato de o atacante ser brasileiro e ter escolhido a naturalização espanhola por consideração ao país que o projetou no futebol.
“Donato, Marcos Sena, entre vários outros. A Espanha já provou que não é contra a naturalização e quem pensa o contrário é racista. Eu sei que o Diego Costa é brasileiro. Conheço toda a história. É de Lagarto, no Sergipe, que é uma região pobre e aqui fez a fortuna. É uma maneira que encontrou de nos retribuir. Se você vai ali na Frente Atlético, vai encontrar a ala radical dos torcedores. Mas experimente perguntar lá quem é contra o Diego. Duvido encontrar alguém. Só que sei reconhecer que é uma opinião originada pelo fanatismo, pois não tem coerência”, destacou Vitor Madril.
O Atlético de Madri já levou diversas punições da Uefa (União Europeia de Futebol) por conta do comportamento da torcida organizada com manifestações racistas e violência em dias de jogos do time. Um caso mais famoso foi sofrido pelo brasileiro Roberto Carlos, em 2005. Então no Real Madrid, o brasileiro ouviu gritos de “olé, olé, olé, Roberto Carlos é um chimpanzé” de membros da Frente Atlético.
O Atlético é o único clube espanhol que distribui entradas para as partidas no Vicente Calderón a uma ala declarada racista. O Barcelona excluiu há 10 anos a entrada da torcida radical Boixos Nois no Camp Nou. Em dezembro último, o Real Madrid vetou parceria com a Ultra Sur, formada por diversos seguidores do nazismo, por sucessivos casos de violência.
A torcida do Real também possui, em grande maioria, uma aceitação a Diego Costa como espanhol. Em bares por Madri com reunião de torcedores do clube em dia de jogo, a rejeição atrelada ao fato do atacante ser jogador do Atlético é admitida.
“Eu não quero o Diego Costa na seleção da Espanha. Não sou a favor de naturalização de nenhum jogador, seja qual for o motivo. Só que não sou da Ultra (Sur) para ficar ofendendo o jogador. Mas jogue aqui no Real e eu mudo de opinião”, brincou Oscar Guerrero.
Em outras regiões da Espanha, encontrar repúdio a Diego Costa é mais fácil. Foi na partida do Atlético de Madri fora de casa diante do Valencia, semana passada, pela Copa do Rei, que ele ouviu gritos de “Costa, canalha, você não é espanhol".
Na Catalunha, região que se prepara para passar por um referendo sobre a independência, em novembro este ano, é mais fácil encontrar radicais contra a naturalização do brasileiro.
“Ou nasce catalão ou não é catalão. Se fosse aqui duvido que seria aceito pela maioria. Tendo essa opinião, claro que também não o aceito como espanhol. O interesse do futebol não pode estar acima da honra de uma nação”, discursa o torcedor do Barcelona, David Muñoz.
Diego Costa obteve a nacionalidade espanhola em 2013 por estar há seis anos trabalhando no país europeu. Atualmente é o principal nome do ataque do Atlético de Madri, sensação do Campeonato Espanhol. As boas atuações do jogador artilheiro do time na temporada fizeram com que o treinador da Espanha, Vicente del Bosque, mostrasse interesse em convocá-lo para a “Fúria” na Copa do Mundo.
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