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Botafogo se divide entre alívio e preocupação com saída de Seedorf

Bernardo Gentile

Do UOL, em Saquarema (RJ)

15/01/2014 11h00

A aposentadoria de Seedorf marca o fim de um ciclo. Após 18 meses, o craque holandês  deixa o Botafogo longe de ser uma unanimidade. No período, o camisa 10 criou amizades, mas por conta de sua personalidade forte gerou também alguns focos de insatisfação no clube. Além disso, o apoiador deixa o Alvinegro em um momento importante, já que o time volta a disputar uma Libertadores após 18 anos e perdeu um dos principais líderes dentro de campo.

Seedorf não tem o perfil do jogador brasileiro, que se preocupa mais com o que ocorre dentro de campo. Pelo contrário. O jogo dentro das quatro linhas é apenas a cereja do bolo. Por trás das câmeras, o holandês detectou situações que poderiam atrapalhar o desempenho do time ao longo da temporada.

Com temperamento forte, Seedorf comprou a briga e decidiu mudar o Botafogo. Bateu de frente com jogadores que, em sua opinião, precisavam mudar de atitude e se indispôs com alguns deles. Atletas mais experientes, caso de Antônio Carlos, não aceitaram a nova liderança com naturalidade. Após um jogo do Carioca os dois discutiram e foram contidos por companheiros. O zagueiro, inclusive, já deixou o clube.

E o relacionamento com alguns jogadores esteve longe de ser harminioso. Se no início as críticas feitas por Seedorf eram encaradas como um ensinamento, depois de um tempo as palavras do holandês passaram a ser um fardo. Neste cenário, alguns atletas com o temperamento mais explosivo discutiram asperamente com o camisa 10, além de dar início a uma 'fritura' com o restante do elenco.

Neste ponto, Bolívar foi determinante para que Seedorf não ficasse com um clima insustentável em General Severiano. O zagueiro usou sua liderança para fazer uma reunião e externou a situação. O holandês ficou chateado com toda a situação e disse que ficaria mais quieto a partir de então. Porém, a mudança de postura coincidiu com a queda do time no Brasileiro.

Assim, os atletas pediram para Seedorf voltar a ser o 'pai chato', mas o holandês se disse magoado para voltar a ser como antes. Parte do elenco entendeu, mas outros acharam frescura, por se tratar de um jogador de 37 anos. Aos poucos ele se soltou novamente, mas longe de ser a unanimidade que era em sua chegada. Por causa disso, a saída do apoiador é encarada com um alívio por alguns companheiros.

“No começo, eu não entendi muito bem o jeito dele lidar. Às vezes ele era um pouco mais severo, mas durante o ano a gente foi convivendo, aprendendo a lidar com ele e ele conosco. Fizemos uma boa sintonia. A forma como ele mexia com o grupo, deixava  a gente ligado no jogo. É um cara que venceu de tudo no futebol e sempre queria mais”, disse Dória, que teve uma pequena discussão com Seedorf na temporada passada, mas que estreitou sua relação com o holandês após o entrevero.

Por outro lado, Seedorf demonstrava uma atenção especial com os jovens do elenco do Botafogo. Até por isso, teve participação decisiva para os sucessos de Gabriel, Dória, Jadson e Vitinho, que se firmaram no time titular ou transferiram-se para a Europa. Além disso, seu desempenho dentro de campo e, principalmente, sua experiência e liderança eram vistas como fundamental para o sucesso do Alvinegro na Libertadores.

“Seedorf é um cara que estava sempre botando a gente [jovens atletas] em alta, deixando a gente na ativa com vontade de vencer, de trabalhar. Nunca deixou ninguém se acomodar e passava muita experiência, dava tranquilidade pra trabalhar. Foi um cara que me ajudou bastante. Sempre conversava comigo até mesmo no posicionamento do meu corpo”, afirmou o jovem defensor de 19 anos.

Porém, a repentina saída de Seedorf abre um buraco no elenco do Botafogo no quesito técnico. Sem seu maior líder dentro das quatro linhas, o Alvinegro terá que apostar em outros atletas para dar sequência ao bom desempenho do time na temporada passada. Jorge Wagner, pela experiência, é o primeiro nome e terá Lodeiro e companhia como seus coadjuvantes.

Seedorf disputou 81 jogos e marcou 24 gols com a camisa do Botafogo. Pelo clube de General Severiano, conquistou apenas o Campeonato Carioca de 2013. Porém, a vaga na Libertadores, algo que não ocorria desde 1996, foi mais uma conquista na carreira do holandês, que faturou quatro vezes a Liga dos Campeões.

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