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Sem certeza de inocência, movimento pró-Portuguesa evita contato com clube

Guilherme Costa

Do UOL, em São Paulo

15/01/2014 06h01

Eles são torcedores da Portuguesa e compraram brigas judiciais para tentar mudar uma decisão judicial que rebaixou o clube à segunda divisão do Campeonato Brasileiro. Ainda assim, não querem se aproximar da equipe rubro-verde. Sem convicção de inocência da diretoria em episódio que fez com que o time do Canindé fosse punido pelo STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva), o movimento “Todos vamos à luta” decidiu manter distância.

A Portuguesa foi punida pela escalação irregular do jogador Heverton na última rodada do Campeonato Brasileiro de 2013, em empate sem gols com o Grêmio. O STJD retirou quatro pontos do time do Canindé, que acabou relegado à Série B da competição nacional.

Heverton havia sido expulso contra o Bahia e cumprido suspensão automática diante da Ponte Preta. Na sexta-feira antes do confronto com o Grêmio, o STJD julgou o atleta e deu a ele uma punição de dois jogos.

No entanto, Heverton substituiu Wanderson aos 32min do segundo tempo. A entrada dele fez com que a equipe rubro-verde fosse punida por ter infringido o artigo 133 do CBJD (Código Brasileiro de Justiça Desportiva).

Inicialmente, o “Todos vamos à luta” reuniu torcedores insatisfeitos com essa decisão. O movimento apresentou mais de 600 ações em diferentes foros para tentar derrubar a punição.

Na última sexta-feira, um torcedor da Portuguesa teve sucesso pela primeira vez. A 42ª Vara Cível de São Paulo concedeu liminar e obrigou a CBF a devolver os quatro pontos retirados da equipe.

O entendimento do juiz Marcello do Amaral Perino, responsável pela sentença, é que o artigo 133 do CBJD foi revogado em 2010 pelo Estatuto do Torcedor, que contradiz o dispositivo e é hierarquicamente superior. Nesta semana, o movimento “Todos vamos à luta” apresentou mais uma leva de ações à 42ª Vara Cível.

Toda a articulação dos torcedores, porém, tem sido feita à margem do clube. O movimento já passou de 5 mil adesões, mas não chegou a conversar com a diretoria rubro-verde.

“Temos tido o mínimo contato possível. Até porque não sabemos se a Portuguesa foi vítima ou parte de algo realmente muito sujo”, disse Daniel Freitas, porta-voz do “Todos vamos à luta”.

A despeito de a CBF ter publicado a punição a Heverton apenas na segunda-feira, a Portuguesa foi representada pelo advogado Osvaldo Sestário no julgamento de sexta, realizado no Rio de Janeiro. Portanto, ao menos um representante da equipe ficou sabendo da sentença.

A partir daí, as versões são conflitantes. Sestário diz ter comunicado a punição à diretoria da Portuguesa. A cúpula rubro-verde assegura que ele afirmou que Heverton foi punido por um jogo.

“Nós temos ficado longe da diretoria, mas também não queremos saber se a Portuguesa é parte ou vítima. Não estamos discutindo o erro, mas o uso de um artigo que contraria uma lei federal”, completou Freitas.

Além da dúvida sobre responsabilidade, o afastamento entre o movimento e a diretoria rubro-verde é uma tentativa de os torcedores manterem alguma autonomia. “Em 2006, por exemplo, o Internacional pediu que o público parasse de entrar com ações judiciais e tirasse as que estavam em curso. As pessoas obedeceram. Nós vamos até o fim”, finalizou o porta-voz do “Todos vamos à luta”.