Sumiço de motorista dá prejuízo de R$ 20 mil em chuteiras a time do DF
O Formosa entra em campo na manhã deste sábado (24) pela primeira vez desde que o motorista do ônibus que transportava os jogadores sumiu com o veículo e todas as chuteiras da equipe dentro, na semana passada no Distrito Federal. O time, que agora pega o Brasiliense pela segunda rodada do Campeonato Brasiliense de Futebol, estima um prejuízo de pelo menos R$ 10 mil com o episódio -- além dos três pontos perdidos por não ter jogado contra o Brasília no último fim de semana.
De acordo com Manuel Gonçalves, um dos dirigentes do clube, quase deu tempo de entrar em campo no sábado passado (dia 18) e assim evitar o "W.O.". "Saímos correndo até o centro da cidade e gastamos uns R$ 2 mil em chuteiras para os atletas na primeira loja de material esportivo que achamos, mas quando chegamos de volta ao estádio o juiz já havia decretado o final do jogo oficialmente", lamenta o cartola.
A partida estava marcada para começar às 10h, mas como às 11h os jogadores do Formosa continuavam descalços ou de chinelos na beira do gramado, o árbitro desistiu de realizar o jogo e deu os pontos do confronto para o Brasiliense. "Chegamos lá com as chuteiras às 11h05, mas não teve jeito", diz Gonçalves. Pior, ele explica que os calçados comprados na ocasião eram "meio vagabundos", só para tapar o buraco mesmo, e não serão utilizados pelo time na temporada. Eles ainda não decidiram o que fazer com o material esportivo.
"No final, também o time não tinha mais condições de jogo. Os atletas estavam sem comer desde às 7h, sem beber água e abalados emocionalmente, acho que foi melhor assim", diz Gonçalves.
Dessa forma, na segunda-feira (20) o Formosa gastou mais cerca de R$ 8 mil para comprar novas 18 chuteiras para os jogadores. O clube não conta com patrocínio de nenhuma marca de material esportivo para chuteiras, equipamentos e vestuário. Gonçalves jura que os R$ 10 mil fazem falta no orçamento deles, que seria apertado.
O dirigente não se conforma com a falta de sorte do time, que está em último lugar na tabela do campeonato. "Parece piada, mas é só com o Formosa que acontece esse tipo de coisa. Na temporada de 2011, estávamos quase levando a taça e o mais importante, a classificação para a Copa do Brasil, quando o time deixou escapar o título com três derrotas seguidas nas rodadas finais, a última delas para um time que já estava praticamente extinto, desmontado", lembra ele.
Os dirigentes do Formosa decidiram também não usar mais os serviços da empresa que forneceu o ônibus com motorista para o time na ocasião, apesar de o dono ter oferecido o transporte de graça para este final de semana. O time joga às 10h deste sábado no Estádio Serra do Lago, em Luziânia. O Formosa é de uma cidade goiana do mesmo nome, no entorno do DF.
O clube irá recorrer do "W.O." no TJD-DF (Tribunal de Justiça Desportiva do Distrito Federal), que já admite refazer a partida. “Há espaço no calendário, mas será preciso resolver antes do fim da primeira fase. Procurarei a polícia para pedir celeridade na apuração”, afirmou à imprensa local no início da semana José Carlos de Matos, presidente do TJD-DF.
História mal contada
Era a primeira partida do campeonato, em Taguatinga, cidade-satélite de Brasília, mas o jogo entre Formosa e Brasiliense acabou não acontecendo e virou caso de polícia. Como o motorista não apareceu no hotel para buscar a equipe do Formosa, os jogadores e comissão técnica seguiram para o estádio, mas por lá o ônibus deles também não chegou. Como quase todo o material esportivo de viagem do time estava dentro do veículo, inclusive e principalmente todas as chuteiras, os atletas não tiveram como enfrentar os adversários descalços.
O mistério durou até a manhã do dia seguinte. Na madrugada de domingo, Charles Amâncio Vieira, de 34 anos, apareceu com o ônibus em casa -- e sem as chuteiras. Mais tarde naquele dia contou ao presidente do Formosa, Cassildo Cassiano, que havia sido sequestrado. Disse que logo após deixar os jogadores no hotel, no final da noite de sexta-feira (19), foi rendido por homens armados, levado para um local desconhecido e mantido sob cárcere privado por mais de 24 horas.
Vieira contou que também foi obrigado a beber pelo menos um litro de cachaça pelos bandidos, e foi solto durante a madrugada de domingo com o ônibus, mas os criminosos teriam ficado com as chuteiras e outros materiais esportivos do Formosa.
O caso foi registrado na 12° Delegacia de Polícia de Taguatinga. Ainda no domingo, a Divisão Integrada de Operações de Segurança de Águas Lindas de Goiás, município do entorno do DF, recebeu uma denúncia e foi até uma casa, onde encontrou quatro pares de chuteiras, três bolas, 16 camisas de treino, duas bolsas, cinco caneleiras e um cone. Uma senhora viu o caso na TV e, reconhecendo o motorista como o homem que havia estado em sua casa na companhia do genro dela horas antes, chamou a polícia. Quando os policiais chegaram, o genro da idosa já havia fugido -- ele é foragido da Justiça e ainda não foi encontrado.
Desconfiados da história, os investigadores responsáveis pelo caso resolveram ouvir a vizinhança onde as chuteiras foram encontradas no município goiano e ouvir novamente Vieira. "Ele mudou a versão e disse que depois de deixar o time no hotel, resolveu ir beber uma cerveja no centro da cidade, encontrou um conhecido e acabou indo fumar crack com ele", afirma o delegado titular da 12° DP de Taguatinga, Moisés Martins. O motorista disse à polícia que luta para se libertar do vício, e não usava drogas havia mais de um ano.
Bons amigos
"Disse que acabaram circulando com o ônibus para cima e para baixo, inclusive na companhia de uma prostituta, usando drogas e bebendo. Depois que o amigo e a garota de programa foram embora, ele diz que aí sim foi sequestrado, mas que não lembra de nada direito. Nós não acreditamos nessa história", diz o delegado. Segundo testemunhas de Águas Lindas de Goiás, Vieira foi visto andando, no ônibus e a pé, com o suposto sequestrador, e que eles pareciam muito bem juntos. "O que aconteceu foi que o motorista deve ter encontrado com esse sujeito e foi para a casa da sogra dele lá no entorno. O motorista provavelmente trocou as chuteiras que sumiram por drogas, mas ainda estamos atrás deste homem que ele diz que o manteve preso para encerrar o caso", afirma Martins. Caso a suspeita seja confirmada, o motorista do ônibus pode responder por falsa comunicação de crime, além de furto ou apropriação indevida de bens alheios e pegar no mínimo quatro anos de prisão.
De acordo com o ex-patrão de Vieira e dono do ônibus que ficou desaparecido, José França de Oliveira, o motorista é uma pessoa inteligente e nunca havia causado nenhuma dor de cabeça. "O pior é que tinha doado a viagem para o Formosa", afirma ele. "Como no sábado de manhã ele tinha desaparecido com o ônibus, me senti super mal e culpado, apesar de ter prestado o serviço de graça, e arrumei outro ônibus com motorista para ir buscar os jogadores", diz. Segundo Oliveira, a operação custou cerca de R$ 1.000. "Estou chateado né, me deu muita dor de cabeça e prejuízo essa história, perdi vários clientes nesta semana", conta. Além disso, ele diz que após conversas no telefone com dirigentes do clube, está com medo que queiram cobrar dele o prejuízo com as chuteiras. "Eu também não tive culpa".
A reportagem do UOL Esporte não conseguiu localizar o motorista Vieira para contar o que aconteceu. Ele perdeu (ou teve roubado) o celular naquele longo final de semana, e também não foi encontrado em casa.
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