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Fama e dinheiro dão só alegria? Veja atletas que surtaram por tristeza

José Ricardo Leite e Vanderlei Lima

Do UOL, em São Paulo

03/02/2014 06h00

Conhecidos, muito bem remunerados, exaltados por fãs e com sucesso em uma profissão que pode ser considerada a dos sonhos para o brasileiro. Títulos, participação em programas de TV, comerciais e realização do sonho de criança. Isso tudo garante a felicidade? Os que acham que ser jogador de futebol significa só alegria e farra estão enganados. Há vários casos de atletas que surtaram por diferentes motivos e necessitaram de ajuda psicológica.

Adriano é o caso mais emblemático em função de seus problemas com o álcool. Muitos dizem que jogou fora uma carreira de atleta top do futebol mundial por não curar a tristeza da morte do pai e saudades dos amigos da favela.

Outro homem gol que teve problemas psicológicos sérios foi Jardel. Em 2002, não conseguiu se recuperar da separação da então mulher, Karen Ribeiro, que ficou com a guarda dos dois filhos do casal. Com 28 anos, ele chegou a pedir afastamento do Sporting (POR) por dizer que não tinha forças para atuar. “Onde quer que eu vá, só penso na minha família”, falou na época. Depois disso, sua carreira foi descendente e ele admitiu ter usado cocaína como forma de evitar uma pena mental.

“Houve um desgosto porque ela (ex-mulher) não segurou a bronca. Não me ajudou e fugiu. Os meus amigos também fugiram todos. Gastei muito dinheiro, você vale o que você tem e demorou muito pra minha ficha cair. Na época eu procurei um médico, um psiquiatra que me ajudou muito. Hoje me sinto muito bem”, falou Jardel ao UOL Esporte. "Fiquei muito chocado na época. Comecei a usar droga na Europa e nas férias quando vinha ao Brasil. O que eu fazia dava muito desgosto para a minha família e tanta gente. Quando isso acontece, você tem que se afastar das amizades ruins e procurar ajuda, um psiquiatra. E eu nunca fui baladeiro, recaí por depressão própria", lembrou.

Alguns jogadores também ficaram mal por ficar afastado do que mais gosta de fazer e pela incerteza do trabalho. Um desses casos foi do ex-meia Robert, campeão brasileiro com o Santos em 2002. No final da década de 90, foi contratado pelo Grêmio como grande esperança. Mas uma grave lesão o fez ficar afastado dos gramados por mais de seis meses, e ele precisou de acompanhamento psicológico em uma clínica para superar a depressão. Passou por cima da crise, ganhou títulos e chegou até a seleção brasileira.


“A lesão começou a me trazer dúvidas naquela época. Vieram alguns medos e uma depressão. Afetou demais a minha parte psicológica e fiquei depressivo, pensava que não jogaria mais futebol. O Grêmio me colocou em uma clínica de recuperação e fiquei lá por uns dez dias. Me recuperei, fui emprestado ao Atlético-MG e depois deslanchei”, falou.

O mesmo ocorreu com o ex-meia Pedrinho. O jogador sofreu uma série lesão no Vasco, em 1998, na mesma semana que foi convocado pela primeira vez para a seleção brasileira. Depois, sofreu com várias outros problemas físicos ao longo da carreira. E admite que é uma situação muito difícil para o jogador ouvir críticas como a de que nunca joga. Não há como não se abalar.

“Às vezes eu até escondia lesão [leve] porque senão todo mundo ia começar a falar. Eu acordava cedo, me tratava, fazia gelo em casa, dormia cedo. Queria recuperar. É um conflito muito grande na cabeça do atleta.”

Em um episódio dos mais graves, o goleiro alemão Robert Enke se suicidou em 2009 depois de uma grave crise de depressão.

Baiano tentou se jogar na frente de um ônibus

Uma história que chama a atenção é a do ex-lateral da seleção brasileira Baiano. Ele ainda não era um jogador consagrado e nem ganhava dinheiro. Ralava como camelô enquanto atuava na base do Santos. Mas não conseguiu superar a morte dos pais e ser despejado do cortiço de onde morava e se abalou. Contou que tentou se jogar na frente de um ônibus.

"Me joguei na frente de um ônibus e tentei suicídio. Foi na época que eu estava como juvenil do Santos. Acabei sendo até despejado de onde eu morava. Foi um baque muito grande, eu era o caçula de seis irmãos e foi muito duro pra mim", contou.

Psicólogo

O psicólogo Paulo Ribeiro tem a experiência de 29 anos em assistência a jogadores e clubes de futebol. Trabalhou no Vasco e Flamengo. Diz não ter identificado nenhuma resistência maior ou fraqueza na classe jogador de futebol quanto ao lado psicológico. Diz apenas que as facilidades do meio, quando o jogador se torna famoso, lhe trazem algumas experiências que podem lhe trazer mudanças de comportamento. Varia. Mas endossa que é mito achar que fama traz felicidade.

“Quando se cria o mito de que aquele cara é um herói e ele tem muitos poderes que não tem, eles acabam tentando sentir isso. Como exemplo a fama ou sucesso. O que eles fazem com isso? Vão pra um baile funk ou samba pra se sentirem conhecidos, respeitados, para ratificar essa ideia”, falou.

“Eles são seres humanos como outros quaisquer. E ganhar R$ 200 mil por mês não significa não ter crise alguma. Não existe diagnóstico diferente para jogador de futebol, mas sim algumas facilitações a determinadas situações, apenas isso.”