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Sem time, Gilberto Silva estuda futebol para fazer bonito na TV

Bernardo Lacerda

Do UOL, em Belo Horizonte

19/02/2014 06h00

Sem clube desde janeiro último, quando o Atlético-MG o informou que não renovaria seu contrato, Gilberto Silva vem aproveitando o período longe dos gramados para organizar a vida profissional do lado de fora dos campos. O experiente atleta se prepara para ser comentarista de um canal de televisão durante a Copa do Mundo e segue participando como um dos líderes do movimento Bom Senso, que busca melhorias para o futebol brasileiro.

Em entrevista ao UOL Esporte, o experiente zagueiro comenta sobre a nova “profissão” que exercerá durante a Copa do Mundo, nos meses de junho e julho, quando será comentarista da ESPN Internacional. Ele atuará direto do Rio de Janeiro, ao lado de ex-jogadores de futebol bem conhecidos, como o alemão Balack e o atacante holandês Van Nisteroy.

Sem a rotina corrida de jogador, já que ainda não acertou com uma nova equipe, Gilberto Silva aproveita o tempo para estudar mais intensamente o futebol mundial, passar mais tempo com a família e, mesmo com planos de seguir por mais um ano como atleta profissional, já pensa no futuro ligado ao esporte. Ele já recebeu convites de clubes de fora do Brasil para trabalhar na área de gestão do futebol.

“Estou me programando, me preparando de alguma forma, não vou ter nenhum preparo jornalístico, é uma análise dos jogos com a visão de atleta, que é bem diferente”, salientou Gilberto Silva, que se considera em condições de jogar em alto nível pelo menos até o final desta temporada.

Pentacampeão do mundo com a seleção brasileira, Gilberto Silva avalia que o Bom Senso já está fortalecido e seguirá atuante no cenário nacional, independente dos nomes e do número de atletas participantes. Ele lamenta a saída de um dos principais “cabeças” do movimento, Paulo André, que se transferiu do Corinthians para o Shandong Luneng, da China. “A gente perde uma pessoa importante para o movimento, mas o movimento não vai parar”, destacou.

UOL: Como será a sua participação como comentarista durante a Copa do Mundo?

Bernardo Lacerda/UOL
Ficar longe do futebol é difícil, são muitos anos dedicados ao futebol, você abre mão de muita coisa, é muita dedicação e esforço. Tenho vários convites para, após o futebol, seguir em uma parte de gestão, fora do país e também dentro do país.

Gilberto Silva: Vai ser em um estúdio no Rio, fazer comentários dos jogos. Experiência nova, bem diferente, mas vai ser bacana, fico feliz de ter recebido este convite. Importante, um processo diferente, novo para mim, um desafio diferente. Estou correndo atrás, para me preparar, dentro do que acho que posso trazer.  Estou me programando, me preparando de alguma forma, não vou ter nenhum preparo jornalístico, é uma análise dos jogos com a visão de atleta, que é bem diferente.

UOL: Você pensa em continuar no futebol após se aposentar?

 

Gilberto Silva: Ficar longe do futebol é difícil, são muitos anos dedicados ao futebol, você abre mão de muita coisa, é muita dedicação e esforço. Tenho vários convites para, após o futebol, seguir em uma parte de gestão, fora do país e também dentro do país. Quando definir que parei com o futebol , quero me preparar bem, nesta questão de gestão, fazer curso de treinador, não que eu pense em ser treinador, mas quero fazer algo que pode ser importante para mim.

UOL: Trabalhar na área de gestão já é uma decisão tomada por você?

Gilberto Silva: Seria algo interessante para ser feito. Hoje, na minha cabeça, pode ser que eu mude, não passa na minha cabeça ser treinador, posso mudar depois. Mas creio que tenho perfil para esta parte de gestão, mas preciso me preparar bem para isso.

UOL: A saída do Paulo André (zagueiro, ex-Corinthians) que se transferiu para a China (Shandong Luneng) é uma baixa grande para o Bom Senso?

Gilberto Silva: A gente perde uma pessoa importante para o movimento, mas o movimento não vai parar, isso foi um dos pontos conversados na última reunião, o Bom Senso está andando por si só, independente de quem entra e quem sai, o movimento tomou corpo, está alinhado, bem trabalhado, é um movimento bem pensado. É uma perda sentida, grande, mas ele não vai deixar de fazer parte, só não vai estar aqui, mas a gente vai continuar o mesmo processo, os mesmos objetivos que já foram traçados, para a gente ser ouvido, pois até agora nada.

UOL: O Paulo André conviveu com momentos de grande pressão por ser um dos líderes do Bom Senso, você acredita que isso possa ocorrer com outros jogadores?

Gilberto Silva: Espero que não, se isso acontecer voltaremos a época da repressão. Para todo mundo, todos afirmam que o Brasil é um país democrático, fugiria disso, espero que não venha acontecer.

UOL: Como você vê o movimento hoje? Todos estão participando juntos?

Gilberto Silva:Todo mundo se fala, a grande parte do grupo conversa, quem não se manifesta dentro do grupo, dando opinião, está atento ao que está acontecendo. O movimento está se fortalecendo, espero que quando tiver uma postura diferente todo mundo mantenha o mesmo discurso, a mesma firmeza que apresentou até agora.

Bruno Cantini/Site do Atlético-MG
É um passo que quando se chega a isso é porque não há diálogo e isso é péssimo. Se chegar a isso (greve de jogadores) é sinal que o futebol brasileiro está no fundo do poço. Ninguém está preocupado em sugar do futebol. Espero que isso não aconteça, que haja diálogo, a gente quer soluções importantes sobre isso.

UOL: Você tem a mesma visão de outros líderes do Bom Senso e acredita que o caminho a ser seguido é uma greve geral no futebol brasileiro?

Gilberto Silva: É um passo que quando se chega a isso é porque não há diálogo e isso é péssimo. Se chegar a isso é sinal que o futebol brasileiro está no fundo do poço. Ninguém está preocupado em sugar do futebol. Espero que isso não aconteça, que haja diálogo, a gente quer soluções importantes sobre isso. Temos assuntos importantes a conversar. O que está acontecendo tem reflexo no nosso futebol, na seleção brasileira, não estou falando que ela é a culpada, mas está sofrendo este reflexo, nosso público hoje está atrás de Austrália, Estados Unidos, nada contra, mas não pode, tem de saber a causa. Muita gente criticou que não poderia acabar o campeonato Estadual, o interesse do Bom Senso não era este, agora vejo dirigentes dos clubes falando que o Estadual gera prejuízo, é estranho que os clubes não querem se posicionar, não se manifestam a favor do movimento, mas todos sabem que são ações importantes.

UOL: Você considera que poderia ser importante para o futebol brasileiro um ex-jogador se candidatar e ser eleito para a Presidência da CBF?

Gilberto Silva: Difícil falar, mas a visão é outra, você esteve lá dentro, viveu isso, é uma visão diferente, conhece os mínimos detalhes, mas é diferente de como administrar. Quem administra sabe do lado de fora, mas não sabe do que acontece lá dentro. O atleta sabe o que acontece, como administrar lá dentro. Mas o importante, o que a gente quer, é que todos comecem a se conscientizar sobre o que a gente defende. Não estamos contra os clubes, contra os dirigentes, contra a CBF, a gente quer ajudar, quer melhoras que sabemos que são importantes.

 UOL: Você considera sua saída do Atlético uma decisão correta?

Gilberto Silva: Não sei, não me questiono se foi certo ou errado, até porque o clube tem as diretrizes, é parte da decisão deles. Eu tinha uma expectativa de ter renovado, não aconteceu, entendo como parte do processo do futebol, mesmo tendo criado expectativa, mas é vida que segue. Daqui a pouco as coisas acontecem, estou aproveitando para organizar a minha vida, ficar com a família, dar uma atenção para os familiares.

UOL: Você pretende continuar como atleta profissional?

Gilberto Silva: Vou continuar, já recebi algumas propostas, estou aguardando as coisas se ajeitarem, coisas que foram pontuadas para chegar a um acordo, vamos ver os próximos dias.