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Dilma recebe Tinga e árbitro, alvos de racismo, e ganha camisa do Cruzeiro

Do UOL, em Belo Horizonte

13/03/2014 19h00

O volante Tinga, do Cruzeiro, e o árbitro gaúcho Márcio Chagas, que foram alvo de ofensas racistas nas últimas semanas durante jogos de futebol, reuniram-se com a presidente Dilma Rousseff nesta quinta-feira, no Palácio do Planalto, em Brasília. A mandatária, que prestou homenagem aos dois, foi presenteada pelo atleta com uma camisa do Cruzeiro, rival de seu time do coração, o Atlético-MG.

Tinga foi vítima de insultos racistas de torcedores peruanos em jogo que marcou a estreia do Cruzeiro na Libertadores, quando o time mineiro perdeu para o Real Garcilaso, por 2 a 1. Sempre que pegava na bola, o meio-campista era alvo da torcida, que fazia gestos e emitia sons imitando macaco.

O volante considerou interessante o encontro com a presidente para mostrar que ela está atenta a situação. Em entrevista, após a audiência, Tinga ressaltou que a educação é a principal forma de se combater não apenas o racismo, mas qualquer tipo de preconceito.

“Educação é uma das coisas que nos faz pensar nos outros. E o que vai acontecer daqui para frente a gente não sabe. O que acredito que é importante é que ela se preocupou com a situação que aconteceu nesse último mês, tanto com a minha situação quanto a do Márcio, a do Arouca, e tive oportunidade de falar que tem outras coisas que acontecem no País em termos de preconceito”, afirmou Tinga. “Espero que a gente possa conscientizar que isso é um fator de educação”, acrescentou.

O árbitro Márcio Chagas foi vítima de racismo no jogo entre Esportivo e Veranópolis, pelo Campeonato Gaúcho, no último dia 6 de março. Depois de ser insultado durante a partida, ele ainda encontrou o seu carro amassado e com várias bananas, o que também gerou comoção e revolta de muitos torcedores.

“O futebol é um agente muito importante no nosso país, as pessoas param para assistir e nada melhor do que ter boas ações no futebol para que a gente consiga plantar e, aos poucos, colher esses frutos aí do convívio harmônio entre o nosso povo” , afirmou Márcio Chagas, em depoimento divulgado pelo site do Palácio do Planalto.

Ele se colocou à disposição para “continuar nessa luta” e destacou que deve envolver todo o povo brasileiro. “Não é uma luta minha somente, mas sim do povo brasileiro com relação ao espírito que a gente merece como cidadão negro, brasileiro, nós contribuímos para o crescimento do país e a gente merece o reconhecimento”, complementou.

Outro convidado para o encontro, o volante Arouca, que recentemente também foi alvo de manifestações racistas durante o Campeonato Paulista, enviou uma carta à presidenta na qual explica a ausência, em função de compromissos no Santos, e parabeniza Dilma pela iniciativa de “debater o racismo”

“Não apenas por nós três, que sofremos isso dentro de um campo de futebol, mas também por outros milhares, que, por falta de orientação - e por não terem a mesma visibilidade que nós temos diante das câmeras e dos microfones que cercam o mundo do futebol -, não se manifestam e não têm seus apelos ouvidos todos os dias”, diz trecho da carta de Arouca.

Ao fim do encontro em Brasília, Tinga e Márcio Chagas posaram para fotos com a presidente, que deixou de lado a rivalidade e exibiu em uma delas a camisa do Cruzeiro dada pelo volante celeste. Dilma Rousseff é torcedora declarada do Atlético-MG.

Apesar do caso envolvendo Tinga ter acontecido há mais de um mês, até hoje a Conmebol não se manifestou sobre a punição que será aplicada ao Real Garcilaso. O regulamento da competição prevê multa em dinheiro até a perda de mando de campo, pontos e exclusão do torneio, o que dificilmente irá acontecer.