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Times de SP contratam atacantes renomados, mas foco nem sempre é lucro

Bruno Thadeu e Guilherme Costa

Do UOL, em São Paulo

20/03/2014 06h00

O anúncio da contratação do centroavante Ronaldo, em dezembro de 2008, mudou todas as diretrizes do departamento de marketing do Corinthians. Não é sempre, contudo, que um jogador renomado causa um impacto dessa proporção nas receitas de um clube. Em patamares radicalmente diferentes, o interior de São Paulo tem exemplos disso.

O Tanabi, por exemplo, anunciou nesta semana a contratação do paraguaio Salvador Cabañas. O jogador assinou contrato para disputar três jogos pela equipe na quarta divisão do Campeonato Paulista.

“Eu vi na TV uma reportagem com ele, que pedia uma oportunidade, e isso me sensibilizou a ir buscá-lo. Nem tive oportunidade de ver a parte financeira porque não tinha nada definido. A partir de segunda-feira é que eu vou atrás de um parceiro que ajude a pagar”, admitiu Irineu Alves, presidente do Tanabi.

Inicialmente, o Tanabi pensa em dois caminhos para lucrar com a presença de Cabañas: patrocínios e bilheteria. “Acredito que vai ter um grande número de pessoas querendo ver os nossos jogos, principalmente na estreia dele. Nossa cidade fica na região de São José do Rio Preto, que tem 500 mil habitantes. Podemos levar um bom público, mas o foco nem é esse. Eu pensei em ajudar uma pessoa que estava precisando. Se não ganharmos nada, vamos honrar o que foi prometido e pagar a parte dele”, completou o mandatário da equipe.

Cabañas, 33, chegou a ser um dos principais jogadores da seleção paraguaia. Há quatro anos, porém, ele levou um tiro em uma boate na Cidade do México. Após a interrupção abrupta na carreira, ele trabalha na padaria da família.

O custo de manutenção de todo o Tanabi gira em torno de R$ 220 mil por temporada. Cabañas é um jogador que a própria diretoria considera estar fora da realidade do clube, a despeito de o valor do salário dele não ter sido revelado.

“Hoje ele estaria enquadrado no patamar de um jogador da Série A2, mais ou menos. Para a nossa divisão ele está totalmente acima. Mas eu estou tendo o prazer de colaborar com uma pessoa em busca de um reinício”, finalizou o presidente do Tanabi.

Antes de Cabañas, o Tanabi já investiu em um centroavante renomado. O time contratou Túlio Maravilha, que na época estava em busca do milésimo gol (segundo as contas dele). A presença do jogador rendeu um patrocínio de uma empresa de automóveis, e isso bastou para cobrir os custos. Mas a passagem dele pela equipe também não gerou nenhum lucro.

Só que o Tanabi não é um exemplo isolado. O São Carlos, da terceira divisão do Campeonato Paulista, contratou neste ano o centroavante Rodrigão, que já passou por clubes como Internacional, Palmeiras e Santos. E a parte financeira não fez parte desse projeto.

“Diferentemente de clubes que fazem contratações para gerar repercussão, nós o contratamos pela pessoa. É um jogador que se cuida, tem uma carreira vitoriosa e é positivo dentro e fora de campo”, afirmou Rodrigo Rosa, supervisor de futebol do São Carlos.

A folha salarial da equipe gira em torno de R$ 120 mil por mês. Rodrigão receberá um salário condizente com a realidade do clube, e a diretoria do São Carlos não tem nenhum plano especial para aproveitar a presença dele no elenco.

“Para nós a contratação é interessante. Quanto mais visibilidade, melhor. Fica mais fácil buscar empresários para ajudar, por exemplo. Mas esse não era o foco, e até agora não tivemos nada concreto”, completou Rosa.

Na segunda divisão do futebol paulista, outro jogador renomado transformou o Estadual em um projeto pessoal. Finazzi assinou contrato com o Itapirense – a ideia inicial era jogar a Série A2 pelo clube e depois se aposentar.

“O Itapirense fez uma oferta no início do ano e eu vim já pensando em encerrar a minha carreira quando terminar o campeonato. Quero virar treinador. Mas se eu fizer muitos gols e ajudar o Itapirense a escapar [do rebaixamento], pode ser que eu adie o plano”, disse o jogador.

Entre a ajuda a Cabañas, a valorização do perfil pessoal de Rodrigão e o projeto de fim de carreira de Finazzi, times do interior de São Paulo mostram que atletas renomados nem sempre são contratados por um mesmo motivo. Ainda mais se o motivo for financeiro.