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Fossati não abre mão do processo. Mas vai dar uma trégua no Beira-Rio

Técnico cobra na Justiça multa rescisória, mas domingo comanda o Peñarol em amistoso no Beira-Rio - Alexandre Lops/AI Inter
Técnico cobra na Justiça multa rescisória, mas domingo comanda o Peñarol em amistoso no Beira-Rio Imagem: Alexandre Lops/AI Inter

Jeremias Wernek

Do UOL, em Porto Alegre

02/04/2014 06h00

Quase quatro anos depois, Jorge Fossati voltará ao Beira-Rio. Demitido em maio de 2010, o uruguaio retorna como técnico do Peñarol e entrará para a história por ser o primeiro visitante do estádio reformado do Internacional. No domingo, ele participa do jogo amistoso que marca a reinauguração oficial do local.

O reencontro não deixa de ser uma ironia do destino, pois o treinador cobra na Justiça a multa rescisória do Colorado. A ação, ganha em primeira instância, determina que o clube gaúcho pague mais de R$ 1,9 milhão.

Fossati, no entanto, promete deixar de lado a briga judicial. Garante que não irá tocar no assunto com os dirigentes do Internacional. O que, mesmo sem confirmação dele, soa como um tapa de luvas.

“Uma coisa é o relacionamento humano e outra coisa é a parte do dinheiro. Não vou a Porto Alegre pensando na dívida. Se eu ver as pessoas responsáveis pela dívida, nem vou falar deste assunto. Vou falar normalmente e até dar um abraço neles”, disse Jorge Fossati ao UOL Esporte.

Sétimo colocado no Campeonato Uruguaio, o Peñarol foi convidado antes de Fossati assumir o posto de técnico. O ex-comandante da LDU, aliás, ficou sabendo do amistoso no Beira-Rio depois de assinar contrato.

"Esta história [do amistoso de reinauguração do Beira-Rio] não estava circulando aqui no Uruguai. Fiquei sabendo depois", contou. "Se eu tivesse que jogar um jogo oficial contra o Inter, eu iria me sentir bem esquisito pela situação. Mas agora, em uma partida festiva e amistosa, de jeito nenhum", resumiu. Confira a entrevista.

UOL Esporte: Você busca na Justiça o pagamento da multa rescisória, mas vai participar da reinauguração do Beira-Rio como técnico visitante. E o convite ao Peñarol aconteceu antes da sua contratação. É uma grande ironia do destino, não?

Jorge Fossati: Sinceramente, a primeira coisa que penso é no privilegio de estar lá em uma data importante na história do Internacional. E da própria cidade. Talvez muitos outros que passaram pelo Inter, com muito mais sucesso que a gente e mais tempo que eu, não vão ter esta oportunidade. Eu vejo assim, como um privilégio. Como treinador é um jogo amistoso, vale até para dar entrosamento ao time. A gente está em uma correria de jogos aqui, então vamos botar para jogar quem vem com menos tempo de jogo.

Quando você aceitou a proposta do Peñarol já sabia do amistoso com o Inter? Isto pesou de alguma forma?

Não, não sabia. Esta história não estava circulando aqui no Uruguai. Peguei o time após o chamado da diretoria depois uma situação difícil do clube. É o meu décimo segundo ano no clube, juntando a passagem como jogador e treinador. Peguei o time pensando em como solucionar um grave problema do momento.

Quando você ficou sabendo do jogo, então? E isto mudou seus planos de trabalho?

Eu fiquei sabendo quando a direção me passou a programação. E alguém, inclusive aí do Brasil, tinha dito que eu seria convidado para a festa. Mas aí entendi que era por isto, que eu ia treinar o Peñarol. Vai ser um dia de festa, um dia especial para a cidade e para o país. Este estádio vai receber a Copa do Mundo. O jogo será mais uma coisa dentro do espetáculo. Se eu tivesse que jogar um jogo oficial contra o Inter, eu iria me sentir bem esquisito pela situação. Mas agora de jeito nenhum, não me sinto diminuído. Eu sempre torci para o clube ir bem e continuo com esta ideia. Aconteceram coisas ruins, principalmente a saída, foi um fato que eu não entendo até hoje. Mas a frustração por este fato não me faz esquecer tudo de bom que vivi em Porto Alegre.

UOL Esporte: Mas ao mesmo tempo você tem um processo na Justiça, que cobra R$ 1,9 milhão pela rescisão contratual, do Inter. Não fica uma situação embaraçosa?

Jorge Fossati: Uma coisa é o relacionamento humano e outra coisa é a parte do dinheiro. Eu tentei receber aquilo que tínhamos acordado e infelizmente não aconteceu. Eu fui até o clube um ano depois, tive uma reunião com o presidente Giovanni Luigi. Fui à Rodoviária [Luigi é o administrador do terminal da cidade de Porto Alegre]. Ele me deu um panorama que o clube tinha problemas econômicos, falou muito sobre isto. Mas o clube tinha negociado vários jogadores neste período e até já tinha contratado dois treinadores [Celso Roth e Paulo Roberto Falcão]. E outros vários jogadores. Falei para o Luigi que não podia ir e voltar toda hora, esperando algo. Além do que, não era dinheiro só meu. Era de toda a comissão técnica. Tenho que dar uma resposta para eles, era minha obrigação. Falei que ia deixar as coisas com um advogado e esperei um acordo. E falei que lá no fim teria um caminho, que eu nunca gostaria de entrar. Não é bom para nenhuma das partes, mas tive que entrar. Mas ainda existe uma possibilidade de acordo fora da Justiça. Os advogados estão se falando para encontrar uma saída quatro anos depois. Tomara que eu não tenha que chegar às instâncias finais. Seria justo o Inter pagar sem ser mandado pela Justiça, ele sabe que não estamos mentindo. Mas quem decide se paga ou não são três ou quatro, os que dirigem as finanças, e não a torcida e o clube inteiro. De jeito nenhum eu vou colocar a dívida acima dos bons momentos.

A presença na reabertura, com um novo encontro, pode facilitar um acordo extrajudicial, portanto.

Eu não penso nesta possibilidade de voltar a Porto Alegre pensando na dívida. Eu vou para desfrutar da festa, desfrutar da cidade e do clube. Posso dizer com total sinceridade: se eu ver as pessoas responsáveis pela dívida, nem vou falar deste assunto. Vou falar normalmente e dar um abraço. Eu nunca liguei para xingar ninguém, nunca liguei cobrando deles. Cada um sabe o que está fazendo. Eu tentei, mas quando se entra neste caminho da discussão eu já não quero discutir mais.

UOL Esporte: A Associação Uruguaia de Futebol passa por um momento de turbulência. Jogos do campeonato nacional foram cancelados e alguns sequer foram remarcados ainda. Isto afeta a viagem para o jogo no Beira-Rio?

Jorge Fossati: Nós estamos esperando uma confirmação do nosso próximo jogo. Primeiro iríamos jogar no final de semana contra o Miramar, mas a partida foi cancelada. Ficamos sabendo no sábado, às 13h30, que não jogaríamos mais no domingo, às 16h. Aí falaram que o jogo seria na terça-feira, então lá fomos nós para a concentração de novo. Mas outra vez avisaram do adiamento, às 20h de segunda-feira. Agora, a informação que o clube tem, é que jogaremos na sexta-feira contra [outra partida, contra o Sud América] e este jogo atrasado ficará para depois. No futuro, em outra semana.

Que tipo de time o Peñarol vai levar a campo no domingo, contra o Inter? Força máxima, misto ou reserva?

A ideia original é jogar com aqueles jogadores que vem voltando de lesão ou estão sem jogar. Para mim será uma grande oportunidade para recuperar eles. São nomes importantes, que estão fora. Se estivessem conosco a situação na Libertadores, por exemplo, poderia ser diferente.