Vadão revela que levou um susto com convite para comandar seleção feminina
No início da semana a CBF confirmou que Oswaldo Alvarez, o Vadão, é o novo técnico da seleção feminina de futebol. A decisão pegou o treinador de surpresa. “Tomei um susto com o convite, eu nem sonhava com isso", contou o treinador, em entrevista exclusiva ao UOL Esporte.
Vadão chega para substituir Márcio Oliveira, que havia assumido a seleção em 2012, após os Jogos Olímpicos de Londres. O período corresponde a um momento de baixa do futebol feminino no país, com pouco interesse de clubes em investir na modalidade e campeonatos nacionais que penam para chamar a atenção do público.
Nesta “entressafra”, o papel de Vadão é usar a experiência para levantar novamente a seleção e, ao melhorar o desempenho do time nacional, colaborar para trazer de volta o interesse pelo futebol feminino. O primeiro grande desafio é a Copa América Feminina deste ano, prevista para setembro.
UOL Esporte: Quer dizer então que você tomou um susto com o convite?
Vadão: Sim, assustei e ao mesmo tempo fiquei satisfeito porque, independentemente de ser futebol feminino, trabalhar na CBF é um sonho de qualquer treinador ou esportista. E é curioso porque atingi o objetivo num momento inesperado. A grande diferença é que as coisas no futebol masculino são mais fáceis porque é mais profissionalizado. No futebol feminino sabemos que o incentivo é menor. Não digo por parte da CBF, mas dos próprios clubes. O Santos, por exemplo, teve um time muito forte por alguns anos, que depois foi desmontado. O futebol feminino cresceu muito, caiu e estagnou novamente.
UOL Esporte: Nos últimos anos, as seleções femininas no Brasil enfrentaram desconfiança em relação às convocações já que alguns treinadores tinham ligação muito forte com clubes [Kleiton Lima treinava o Santos-SP e a seleção; Márcio Oliveira, o São José-SP]. Como você pretende se posicionar diante disso?
Vadão: Isso aí é muito polêmico. Às vezes, o cara leva uma jogadora que está com ele [no clube] porque confia, e isso acontece no masculino também. Um exemplo: eu trabalhei com o Kaká no São Paulo e, amanhã, vou para a seleção. Como eu conheço o Kaká, acabo levando, mas não é de nenhuma maneira para beneficiar o clube. De qualquer forma, estou isento. Meu vínculo com a CBF é fixo, não vou trabalhar em lugar nenhum a não ser na seleção, até para poder entender o funcionamento de tudo. Não tem possibilidade nenhuma de eu trabalhar fora da CBF enquanto estiver no comando da seleção.
UOL Esporte: Além da falta de incentivo que você mencionou, o futebol feminino ainda enfrenta, no Brasil, muito preconceito. Há quem diga inclusive que “não é esporte”.
Vadão: O preconceito é uma coisa muito séria. Está havendo mais punições agora para o racismo, por exemplo, mas infelizmente preconceito não é uma coisa com a qual a gente consegue acabar da noite para o dia. É algo enraizado. E tem isso no futebol feminino também. Mas nós temos que passar por cima de tudo. Todos têm o direito de praticar esporte independentemente do gênero. Em outros países, nós não vemos este preconceito que ainda há aqui, como na Alemanha e nos Estados Unidos, onde as seleções são bem treinadas e o futebol feminino é levado a sério desde a prática nos colégios e universidades.
UOL Esporte: E de que forma você pretende tratar o trabalho com a seleção feminina?
Vadão: Olho para o feminino da mesma forma que para o masculino: são atletas. Na verdade, são seres humanos em primeiro lugar, que é uma visão que sempre balizou meu trabalho no masculino também. Digo que sempre vejo primeiro a pessoa e depois o atleta. Tenho que saber do que aquelas pessoas que estão ali necessitam para render mais. O atleta é um ser humano que está, naquele momento, exercendo uma profissão. E isso independe do gênero.
UOL Esporte: Assim como Renê Simões, você chega à seleção feminina sem ter trabalhado com mulheres.
Vadão: Entendo que vou ter que respeitar uma série de coisas que são características do feminino, como os ciclos do corpo, o ritmo de treinamento. Mas quando você entra para trabalhar com sinceridade e com franqueza, você supera os obstáculos, vai construindo o trabalho aos poucos. Não posso criar um fantasma em cima disso. A diferença é que eu sempre tive duas mulheres [esposa e filha] em casa e agora terei umas trinta.
UOL Esporte: Quais jogadoras da seleção você já conheceu pessoalmente?
Vadão: Por enquanto, só fui apresentado à Marta, em 2012 quando recebi o prêmio de melhor treinador do Campeonato Paulista. Naquela época, só não a levei para o futebol masculino porque não podia.
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