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Gobbi parabeniza Corinthians por Itaquerão e justifica: "Estamos no Brasil"

Gustavo Franceschini

Do UOL, em São Paulo

30/04/2014 06h00

O Itaquerão será inaugurado em menos de 20 dias com bastante festa, mas também cercado de desconfiança, acabado às pressas e criticado pela Fifa pelo atraso nas obras. Para Mário Gobbi, presidente do Corinthians, porém, o clube e a construtora Odebrecht estão de parabéns. Em entrevista exclusiva ao UOL Esporte, o cartola disse que os obstáculos enfrentados pelo estádio são comuns a qualquer obra, especialmente uma no Brasil.

“Não conheço nenhuma reforma ou construção que sejam, primeiro, entregues no prazo. Segundo, que não haja um acidente de trabalho. Terceiro, que não haja um estouro do orçamento. Quarto, estamos no Brasil, e o brasileiro termina tudo em cima da hora. Ele licencia o carro no último dia, entrega o imposto de renda no último dia. É uma cultura nossa”, disse o presidente corintiano.

A nova casa corintiana foi só um dos vários temas tratados pelo presidente ao longo de quase uma hora de conversa em sua sala no Parque São Jorge. Gobbi avaliou o processo de reformulação da equipe, falou sobre a sua postura na eleição da CBF e a relação com Andrés Sanchez. Questionado sobre o assunto, também saiu em defesa de Mano Menezes, que teve seu caráter questionado pelo atacante Emerson Sheik.

“Acho que não havia nenhuma necessidade desse assunto ser colocado da forma como foi, até porque o Mano é um homem de muito caráter, de princípios. É um homem sério, tem uma honra ilibada e eu conheço muito bem ele”, disse Gobbi.

Leia abaixo, na íntegra, a conversa com o presidente do Corinthians:

UOL Esporte: Presidente, o que você está achando do time atualmente?
Mário Gobbi:
O time está em franca reformulação. O grupo está sendo reestruturado, isso é um trabalho que demora. Já fizemos isso em 2008, montamos uma base sólida que resultou nos campeonatos que ganhamos. Tivemos um começo difícil, mas o time está crescendo jogo a jogo. É o que eu tenho reparado nitidamente jogo a jogo.

UOL Esporte: Em 2011, vocês ganharam o Brasileiro após a derrota contra o Tolima na Libertadores. É possível fazer igual esse ano, depois de um começo traumático?
Mário Gobbi:
É um pouco diferente porque ali havia um time montado e estamos montando um grupo agora. Mas tenho esperança, o time que está nascendo é um time com potencial. Vamos pôr mais qualidade técnica, o Elias vai entrar, acho que podemos, se conseguirmos trazer mais um ou dois reforços de qualidade, brigar lá na ponta por alguma coisa.

UOL Esporte: O que o torcedor pode esperar em termos de reforços? Um centroavante e um meia?
Mário Gobbi:
Isso. É um atacante e um meia. São os dois setores que a gente está trabalhando.

UOL Esporte: Queria que o senhor falasse sobre Guerrero e Renato Augusto, justamente os dois jogadores que não estão bem e podem ganhar essa concorrência nova.
Mário Gobbi:
O Guerrero é um grande jogador, não precisa provar nada para ninguém. Ele é o único que temos para a posição e não podemos ter um só na posição. O que se tem feito é improvisar jogadores, a forma de jogar, mas o centroavante nato é o Guerrero. Quanto ao Renato, vamos dizer que ele está precisando de um pouco de sorte. Toda vez que ele volta ele sofre uma nova lesão. As lesões que ele sofre não são musculares, são lesões de pancada, batida, joelho, etc. Então acho e espero que agora, sanados todos os problemas, ele definitivamente volte a jogar e mostre o grande potencial que ele tem e carrega com ele. Mas o setor precisa de mais um.

UOL Esporte: No ano passado, em determinado momento do ano o senhor começou a cobrar que o Pato deveria mostrar a que veio. Chegamos a esse momento com o Renato?
Mário Gobbi:
É. É a hora dele começar a jogar. Até agora ele teve uma passagem aqui acidentada. Não é culpa dele, mas temos de andar para frente. Está chegando a hora dele jogar, que é o que todos nós queremos e é o que ele sabe fazer com maestria.

UOL Esporte: A reformulação no elenco aconteceu só em fevereiro. Por que não no fim de 2013?
Mário Gobbi:
Nós pretendíamos ter começado após a Recopa. Até que começamos. O Chicão saiu, o Paulinho foi vendido, o Jorge Henrique já tinha saído. Nós viemos até o final do campeonato e achamos que o ciclo do comando técnico tinha chegado ao fim. Não por falta de capacidade ou competência. Era um comando vencedor, mas tudo tem início, meio e fim. Trocamos o comando e tínhamos um grupo seleto de jogadores. O Corinthians era uma máquina de jogar. [Fizemos uma] pré-temporada firme, pegada, treinamento com todo mundo se condicionando, foi jogar e tivemos a prova dos nove de que não era só o comando. Realmente não dava para adiar mais e precisava de uma reformulação. Isso já era meados de fevereiro. Sentamos, conversamos com a comissão técnica e falamos: ‘Vamos enfrentar de frente, de peito aberto, fazer a reformulação’. É difícil, não é gostoso, não é prazeroso. Você contrata e o que acha que vai dar certo não acontece. Até montar o grupo vai um ano, praticamente, mas nós já caminhamos bastante. Do que começamos para hoje já melhoramos bastante. A tendência é evoluir mais. Por isso que começou em fevereiro.

UOL Esporte: O comando técnico foi trocado no fim de 2013, mas a direção de futebol só foi trocada em janeiro. Isso pesou para que a reformulação acontecesse esse ano, já durante a temporada?
Mário Gobbi:
Não, havia um entendimento. Aqui somos todos do mesmo grupo. Quem assumiu foi meu secretário, que acompanhava as coisas muito de perto. Achávamos que bastava uma troca de comando. Tanto é que o professor [Mano] também queria manter o mesmo grupo para ver e nos pediu apenas três reforços, que vieram. Só que quando foi para a arena jogar, nós constatamos que o grupo precisava ser trocado, tinha vencido o prazo, era hora de mudança e fizemos. Não teria mudado esse ciclo.

Nota da Redação: Em dezembro, Roberto de Andrade e Duílio Monteiro Alves tocavam o dia-a-dia do futebol do Corinthians. Em janeiro, alegando desgaste natural, a dupla de cartolas entregou os cargos e deu lugar a Ronaldo Ximenes, ex-secretário-geral de Mário Gobbi, que entrou e logo em seguida fez as modificações no elenco.

UOL Esporte: Dessas mudanças do elenco, a mais significativa foi a saída do Emerson Sheik. O que mais pesou para que isso acontecesse?
Mário Gobbi:
O Emerson começou a nova fase este ano como titular absoluto do time. Se você voltar no tempo vai ver que ele que começava jogando, entrava e tal. Com o passar do tempo ele perdeu essa condição. O Emerson já foi campeão de tudo. Um jogador nessa condição, para ele é insatisfatória a situação. Então vamos tentar deixar as partes felizes. Surgiu o Atlético-MG, nós não fizemos. Depois veio o Botafogo, aí o Sheik quis, o Corinthians quis, o Botafogo quis e nós emprestamos ele até dezembro. Ele é jogador do Corinthians e tem seis meses pra cumprir aqui até 2015. Eu quero que o Sheik seja muito feliz. Tudo que tinha de agradecer, acarinhá-lo, reconhecer, o Corinthians fez. Ele foi tratado aqui com a honra de um atleta laureado. Só que a vida nos leva, não somos nós que levamos a vida. E a vida levou o Sheik ao Botafogo. O Sheik tem de jogar e ser feliz lá. Nós queremos que o Sheik volte a jogar o que ele jogou na Libertadores. Esse é o potencial e a capacidade dele, e ele não vinha jogando. Um dia numa conversa ele disse: ‘Presidente, o senhor está conversando comigo, não acho justo só um ser cobrado’. Eu disse: ‘Não, eu falei com mais seis e agora com você, mas você tem de saber que Deus lhe deu o talento de jogar futebol. E a quem mais foi dado, mais será cobrado. Eu não estaria aqui se você não tivesse mais para dar. Por isso você é mais cobrado’. Que ele seja feliz, volte a ser o Sheik que nós conhecemos, que fez a torcida do Corinthians gostar dele e termine aqui conosco os últimos seis meses do contrato.

UOL Esporte: O senhor fala com carinho do Sheik, mas também tem ótima relação com o Mano Menezes. Dói ver o que ele falou do treinador nos últimos dias, questionando o caráter?
Mário Gobbi:
Primeiro que acho que não havia nenhuma necessidade desse assunto ser colocado da forma como foi, até porque o Mano é um homem de muito caráter, de princípios, um homem sério, tem uma honra ilibada e eu o conheço muito bem. Sobre as questões técnicas é natural que o técnico tenha preferência por um ou outro, achar que nesse momento um jogador não está em boa fase. Não passou do campo profissional, isso não tenho a menor dúvida. Acho que o Sheik fez um desabafo, mas acho que ele jamais sairia daqui se ele estivesse jogando o que ele sabe. É isso, ele precisa voltar a jogar o futebol que o consagrou na Libertadores. Você pode ter certeza que o técnico teria colocado ele até hoje como titular do time.

UOL Esporte: Mas o Sheik saiu daqui em baixa com a torcida, imagina-se que muito por conta da polêmica do selinho. O senhor acha que aquele beijo o atrapalhou no Corinthians?
Mário Gobbi:
Não acho, tanto é que ele continuou jogando. Ele jogou depois da história do selinho em todas as partidas, esse ano também. O que fez a torcida se desanimar com ele foi que ele caiu de rendimento e não jogava mais o que ele podia. Quando você tem muito para dar e dá só uma parte, não adianta que se contente. Quem viu o potencial dele como nós vimos, não adianta dizer que ele estava jogando tudo não convence. A questão se reside nisso. Não existe selinho, nada disso. A torcida silenciou, calou. Nós temos respeito pelo Sheik, gratidão, as portas estão abertas para ele. Talvez ele tivesse perdido um pouco a motivação, precisasse respirar novos ares, fica difícil saber. A única coisa que queremos é que ele produza dentro do campo. O que ele faz fora é problema dele e não temos nada com isso. As opções dele só dizem respeito a ele. E foi pela produção dele em campo que a torcida, como você disse, apagou.

UOL Esporte: Nesse caso do selinho não houve violência nos protestos da torcida, mas em outros aconteceu, como na invasão ao CT. A torcida gay do Corinthians, a “Gaivotas Fiéis”, também disse ter sido ameaçada. A intolerância da torcida te preocupa?
Mário Gobbi:
Me preocupa muito. Eu falo muito disso, luto muito contra isso, peço que todos tenham uma conduta de colaboração para inibir a violência. Cobro dos dirigentes, dos jogadores, da imprensa, de todos. Eu acho que vivemos uma intolerância geral, não só disso. Das opções sexuais ao futebol, de ter ou não ter Copa do Mundo. Vivemos num tumulto, o país vive um puxa para lá e outro para cá. Não estamos vivendo um momento de paz, essa é a verdade. Me preocupa e quero dizer que todo dia vou à igreja nossa Sra. de Fátima. Vou lá para rezar pelos jogadores, pela comissão técnica, pelos funcionários, pelos torcedores e pelos dirigentes, para que Deus nos dê sabedoria e humildade. Que a torcida tenha paz, enxergue o futebol da maneira como ele é e não faça do futebol a vida dela. A vida só está boa se o time vai bem. Se o time não vai bem, a vida é uma desgraceira. Só sabe ganhar, e não perder. Faz dez meses que o Corinthians não ganha um título e parece que são dez anos. Essa intolerância, essa impaciência... Nós estamos em um processo de montagem do time, montar uma estrutura. É muito difícil de segurar, não sei aonde vamos chegar, temo muito pelo futuro. Meu mandato termina daqui a nove meses e uma das coisas que me dá um alívio grande é essa questão, porque o futebol se tornou assim, ou você ganha ou você vive numa rebelião, num turbilhão, como se isso fosse algo comum. Nós temos que educar. Não é português, matemática... É dizer o que é o futebol, como se monta um time, como se encarra derrotas e vitórias.

UOL Esporte: Nesse contexto, o senhor acha que fez sua parte durante o seu mandato?
Mário Gobbi:
Vamos começar, nós vivíamos um ranço insuportável com o São Paulo. A minha conduta fez acabar com isso. Estão querendo ressuscitar, e isso é um perigo. No futebol não se brinca, o futebol não é brincadeira. Para nós a brincadeira é recebida de uma forma, mas para o torcedor que faz do futebol a vida dele é de outra forma. E depois não dá para conter uma massa, você vai jogar e seu ônibus é apedrejado. Segundo, vamos analisar, porque cada caso é um caso. A morte de Oruro. A prisão dos 12 torcedores foi uma violência aos direitos do ser humano. Ali tinha uns seis que foram ver os colegas presos, saber como estavam, e prenderam eles também. É inadmissível que eu, como homem do direito, aceite isso, desculpa. Pode ser que dos 12 algum, como depois se confirmou, praticou atos de vandalismo. Tinham de ser punidos e presos, isso é outra coisa. Oruro até hoje não se sabe quem soltou o luminoso. Tanto estavam lá injustamente que a Justiça local os liberou. Depois tem a briga em Brasília. As imagens estavam todas claras, as pessoas foram reconhecidas. Lamento que a polícia de Brasília não tenha instaurado inquérito. Depois teve o episódio da invasão do CT. Eu juntei todas as provas que nós tínhamos, fiz um requerimento pedindo abertura de inquérito policial, avisei que parte das câmeras não filmou e pedi perícia para saber se foi fraude ou falha de sistema. Entreguei tudo para o MP e a Polícia Civil. Não vou passar a mão na cabeça de torcedores que praticam o vandalismo. O inquérito foi feito. Não tenho culpa se o juiz de direito decidiu que aquilo é uma manifestação lícita da liberdade de manifestação. O que eu posso dizer diante de uma loucura que o magistrado cometeu? O que eu posso falar diante disso? A minha parte eu fiz.

UOL Esporte: Como o senhor avalia o processo de construção do novo estádio? Ele está quase pronto, mas custou mais caro, passou por acidentes fatais, está atrasado...
Mário Gobbi:
Eu já fiz reforma na minha casa e foi pior que a Arena Corinthians. Não conheço nenhuma reforma e nenhuma construção que, primeiro, sejam entregues no prazo. Segundo, que não haja um acidente de trabalho. Terceiro, que não haja um estouro do orçamento. Quarto, estamos no Brasil, e o brasileiro termina tudo em cima da hora. Ele licencia o carro no último dia, entrega o imposto de renda no último dia. É uma cultura nossa. O estádio vai sair. O que atrasou a Arena foram os dois acidentes fatais que tiveram lá. O do guindaste e o daquele trabalhador que caiu de lá de cima. Isso atrasou. Fora que todo mundo quis criar um problema na Arena para aparecer. Demorou-se muito para aprovar leis e etc. A burocracia da máquina pública, foi um contexto de coisas. Meu balanço, para finalizar, é que, entre mortos e feridos, todos se salvaram. E o Corinthians e a Odebrecht estão de parabéns. O estádio está pronto, podemos dizer assim, e vai ser a abertura da Copa.

UOL Esporte: Como está a sua relação com o Andrés, que é o representante do Corinthians na obra?
Mário Gobbi:
Eu e o Andrés temos uma história que poucos têm aqui no clube. Começamos tudo isso junto, em cinco pessoas. Temos uma história aqui dentro de luta, de ideais, de abertura democrática. De tirar a ditadura que estava aqui, de fazer o voto direto dos sócios, de fazer estatuto novo, de mil conquistas que o Corinthians teve. Nós fomos os baluartes disso daí, nós cinco, que fundamos esse grupo. Eu, Andrés, Manoel [Evangelista], André [Luiz Oliveira]e Elie [Werdo]. O Andrés pediu para eu ser diretor de futebol dele. Nos três anos que ocupei o cargo, quantas vezes você acha que eu discordei dele e ele de mim? Isso não é rachar, são maneiras distintas de pensar. Os dois têm personalidades firmes. Ele acha isso numa situação, eu acho aquilo, mas em 80% delas nós convergimos, não divergimos. Só que o que aflora é o que diverge. Mas isso não é pessoal. Ele é um idealista, um espanhol de sangue quente, eu um italiano. É um debate de ideias. Vou deixar a política do Corinthians daqui a nove meses. A minha missão no Corinthians está encerrada politicamente. Quero curtir o clube como eu sempre curti, tomar o aperitivo com os amigos, como quem foi presidente e não tem mais a intenção de seguir nada no futebol, como é o meu caso. Eu quero encerrar minha carreira fora, me aposentar. A minha vida política de Corinthians acabou. Junto com ele [Andrés], o candidato nosso é um só. Vamos unidos e fechados para as eleições.

UOL Esporte: E quem é o candidato?
Mário Gobbi:
É muito cedo para falar de candidato, política. Um dos problemas da minha gestão foi que, com seis meses de mandato, deflagraram o processo de sucessão. Isso é um desrespeito não ao Mário, porque o Mário não é nada, é só a pessoa física, mas ao presidente, que é o pavilhão maior de um clube. Isso é um desserviço ao clube. Política se faz nos últimos três, quatro meses antes das eleições, como aconteceu na minha vez. O Andrés conduziu ali com maestria e nós vamos conseguir fazer isso novamente esse ano.

UOL Esporte: O senhor conseguirá conduzir a sucessão como gostaria? Porque um dos que deflagraram o processo foi o André Luiz, aliado do Andrés.
Mário Gobbi:
Não foi só o André, foram outros tantos. O André é o menos ofensivo, vamos chamar assim. Ele brinca no Twitter dele. Ele acorda, põe uma bomba no Twitter e vai trabalhar. No dia seguinte ele faz a mesma coisa, e todo mundo corre atrás das informações. Não tema esse tipo de conduta. Tema aquele que faz na surdina e trabalha nos bastidores sorrateiramente. Como segurar isso? Como segurar a língua de uma pessoa? Cada um tem sua liberdade, você não tem como segurar.

UOL Esporte: O senhor votará em quem para deputado federal?
Mário Gobbi:
Andrés. Votar não, vou trabalhar e votar pra ele, é lógico. Somos parceiros e vamos juntos.

UOL Esporte: Um dos projetos pessoais do Andrés era a eleição da CBF. O senhor, sem uma chapa de oposição, decidiu dar seu voto à chapa única que elegeu Marco Polo del Nero. Como é sua relação com o futuro presidente da CBF?
Mário Gobbi:
O Andrés propôs uma chapa de oposição. Quando começou isso eu estava no conselho arbitral da FPF do Paulista que nós ganhamos. Quando o arbitral terminou eu falei com o presidente Marin e o presidente Marco Polo que iria apoiar o Andrés, por motivos óbvios. Eles falaram: ‘Mario, nem precisa se explicar’. Eu apoiei a candidatura dele publicamente desde o começo, só que ninguém é candidato de si mesmo. O grupo não viabilizou a candidatura. Ele tinha o Corinthians e mais duas federações. Ele abriu mão para o [Francisco, presidente da federação gaúcha] Noveletto, que não conseguiu ser candidato. Se a chapa é única, não tem nexo eu não votar na chapa única e não dizer que apoio. Vamos todo mundo votar em branco? E aí quem é o presidente? Se tivesse saído um candidato, teria meu apoio e meu voto.

UOL Esporte: Hoje o novo presidente da CBF é conselheiro do Palmeiras, o presidente do São Paulo é advogado da CBF e o ex-presidente do Corinthians é um desafeto declarado dele. O senhor teme que o Corinthians fique prejudicado politicamente com esse cenário?
Mário Gobbi:
Eu estou há dois anos e três, quatro meses aqui. A minha relação com Marco Polo e Marin é a melhor possível. O Corinthians sempre teve todo o respaldo que precisou, da federação ou da CBF. Nunca misturamos estações. É uma relação de lealdade, de sinceridade e franqueza, olhos nos olhos. E nos damos muito bem. Eles separam muito bem uma coisa da outra. E não é só o presidente deste ou daquele clube que é ligado a eles. Todos são ligados, todos têm uma história. Não tenho motivo nenhum para temer qualquer tipo de prejuízo ao Corinthians. Pela conduta deles até agora, não tenho do que me queixar.

Nota da Redação: Marco Polo del Nero, novo presidente da CBF, é conselheiro do Palmeiras. Carlos Miguel Aidar, novo presidente do São Paulo, é advogado da CBF. Andrés Sanchez, ex-presidente e cartola mais forte da política corintiana, ainda é desafeto declarado de Del Nero.

UOL Esporte: O senhor falou em lealdade e franqueza, mas o Andrés, candidato que apoiava, chamava o Marco Polo de câncer e dizia que ele era o pior para o futebol brasileiro. Isso não é contraditório?
Mário Gobbi:
O Andrés era postulante a candidato a presidente da CBF. Eu sou presidente do Corinthians, tenho de cuidar dos interesses do Corinthians. Isso é uma coisa inviolável, intocável e inatingível. Foi o que eu disse ao Marco Polo e Marin. Meu voto é no Andrés, apoio a candidatura, mas o Corinthians está fora desse processo de sucessão. Eu apoio porque o Andrés é meu parceiro, meu companheiro, meu amigo. Acho ele uma pessoa muito capaz, que tem muito a contribuir, mas eu não vou jogar sujo, não vou fazer nada. Apenas apoiá-lo e votar nele. Ao Corinthians eu quero respeito como um clube de tradição, como um filiado da FPF e da CBF. E sempre foi feito dessa forma. O Corinthians foi campeão paulista ano passado, dentro da Vila Belmiro, com o Andrés tendo todas as divergências públicas com o Del Nero. A instituição está acima do Mário, do Andrés. O Corinthians vem em primeiro lugar. O Andrés nem permitiria, face o corintianismo dele, que o clube fosse prejudicado por uma candidatura. A relação foi e é excelente.

UOL Esporte: O senhor citou que estão tentando fazer o ranço com o São Paulo voltar. Queria que falasse da sua relação com o Carlos Miguel Aidar e se te preocupa o tom que ele tem adotado para falar dos rivais.
Mário Gobbi:
Quando eu assumi existia uma rivalidade muito acentuada entre São Paulo e Corinthians, e sempre tive a postura de não falar de outros clubes. Muita gente acha que estou errado, mas tenho de fazer aquilo que me convenço que está certo e que entendo que é melhor para o Corinthians. Entendo que na violência que vivemos é uma forma de acalmar os ânimos. Nunca fiz brincadeira com time grande. Quando ganhei, e ganhamos, desculpa dizer. Como diretor e presidente, ganhamos 90% de todos os clássicos que disputamos com relação aos três grandes. Pode puxar na estatística e vai ver que é um marco histórico. Nós ganhamos tudo, nunca disse que o Corinthians era o supra sumo. Tudo isso é conduta que colabora com a não-violência. Eu quando ponho minha cabeça no travesseiro eu deito e durmo. Eu não quero, por conduta minha, causar a ira ou ódio maior numa massa de pessoas que tem dificuldade de lidar como se deve lidar com o futebol.

UOL Esporte: No episódio do Alan Kardec, o Corinthians preferiu esperar o Palmeiras encerrar a negociação antes de tentar o jogador, ao contrário do São Paulo. O senhor entende, como disse o presidente Paulo Nobre, que o São Paulo foi antiético?
Mário Gobbi:
Eu não sou juiz para julgar a postura de ninguém e também não me cabe fazer isso porque estaria falando de outro clube. Eu defendo meu jeito de ser. Se eu ajo dessa forma é porque acredito nisso. E nem tinha porque entrar no Kardec, já que nós não temos os 4 milhões de euros para pagar ao Benfica. Se tem uma coisa que eu não suporto é fazer fumaça e vender uma esperança. Eu fui torcedor de esperar o jornal na grade da minha casa para saber se o Corinthians tinha contratado o jogador. Não posso vender uma fumaça para o torcedor. A maioria dessa massa é assim. Não posso entrar em uma disputa sabendo que eu não tenho a menor chance de levar. Se eu tivesse, eu ligaria para o presidente Paulo Nobre, porque tivemos casos em que ele já me ligou. Tive casos com o Santos que o Santos me ligou. Temos essa relação. E temos o caso do São Paulo com Jadson e Pato, com muita ética. Não vou entrar em uma coisa que eu não estou. No Elias, por exemplo, o Sporting achou que era um blefe. O Sporting trucou, ouviu um 12 e eu grudei um zap na minha testa para ele nunca mais duvidar do Corinthians. Se eu disse que quero e tenho uma proposta, é porque eu quero e tenho uma proposta.