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Preso por atirar privada participava de brigas e chamava amigos de "cães"

Foto do suspeito, publicada na internet: "Se aqueles garis aparacer aew ñ tem como segurar os cães" - Reprodução
Foto do suspeito, publicada na internet: "Se aqueles garis aparacer aew ñ tem como segurar os cães" Imagem: Reprodução

Vinícius Segalla

Do UOL, em São Paulo

06/05/2014 06h00

Everton Felipe Santiago de Santana, preso na segunda-feira como suspeito de ter atirado o vaso sanitário que matou o metalúrgico Paulo Ricardo Gomes da Silva na saída do estádio Arruda, em Recife, na última sexta-feira, mantinha uma conta em uma rede social de fotos na internet em que publicava imagens de si mesmo e de seus colegas segurando paus e pedras, e simulando formações de grupos de combate. 

Membro da torcida organizada Inferno Coral, do Santa Cruz, Everton, 23, é conhecido pelo apelido de Ronaldinho, e chama seu grupo de amigos torcedores organizados de "bonde dos cães".

Em uma das imagens publicadas (ver acima), do ano de 2010, Everton e seus amigos estão reunidos para ir a um jogo contra o rival Sport. Ele e um colega seguram mastros de madeira. Um garoto posa com duas pedras na mão. A legenda da foto, que contém erros de ortografia, anuncia: "eita que quarta só vai dar noix da toic (Torcida Organizada Inferno Coral) aqui em ouro preto vai sair um bonde massa dos cães da toic pra ir pra esse classico daquele geito maes com muita paz maes se aqueles garis aparacer aew ñ tem como segurar os cães ñ kkkkkkkkkkkkk".

Em outra imagem em que Everton aparece ao lado de seus amigos uniformizados, ele registra: "eita que esse (campeonato) pernambucano vai gerar. se cuidem alemões que o bonde dos cães tah vino".

Assim como o torcedor do Sport morto na última sexta-feira, que fora ao estádio Arruda para assistir ao jogo do rival Santa Cruz contra o Paraná, Everton também tinha o hábito de frequentar estádios de futebol junto com torcidas "aliadas" da Inferno Coral. No dia 28 de maio de 2009, Everton publicou uma foto junto a colegas da torcida Galoucura, do Atlético Mineiro, que tinha ido a Recife jogar contra o Sport, na Ilha do Retiro. 

Na imagem, cerca de 35 torcedores posam em tom ameaçador, alguns com os punhos cerrados. Na legenda, Everton escreveu: "UNIÃO SINISTRA QUE NIGUEM ATURA INFERNO E GALOUCURA. É NOIX BONDE DOS 35 LÁR NA ILHA FOI TUDO NOSSO NO DUMINGO NOIX QUEBROU FOI TUDO. HUM ESSA JOVEM GAY NUNCA VAI APRENDER".

A julgar pelas imagens e textos publicados pelo suspeito que está detido, sua paixão pelo Santa Cruz e pela Inferno Coral são elementos preponderantes de sua vida. Em mais da metade das 229 fotografias que Everton publicou na rede social, ele está vestindo roupas da torcida organizada.

Em uma imagem datada de 2008, o suspeito preso exibe uma tatuagem que acabara de fazer na perna, de uma cobra coral segurando dois revólveres, símbolo da torcida organizada. A legenda: "minha tato tah feita agora é ater minha morte inferno coral sempre" 

Já em outra foto em que Everton aparece no estádio Arruda junto com mais dois colegas, de dezembro de 2009, ele escreveu: "ESTOU MUITO TREISTE PELO TIME QUE AMO. NO ME ARREMPENDO DENADA QUE EU FIZ POR ELE NESSE ANO DE 2009 PQ AMO MUITO MESMO E MINHA TORCIDA QUE É A MELHOR DO BRASIL A MAES APAIXONADA ESTAR DE PARABÉN MAES INFELISMENTE DEU TUDO ERRADO PRA NOIX NÉ AGORA ME DIGA MEU DEUS PQ ISSO ESTÁR ACONTECENDO COM NOIX?Ñ MERECEMOS ISSO. PERDIR MEU EMPREGO POR CAUSA DO SANTA CRUZ DEI MAES VALOR A ELE DO QUEM MINHA FAMILIA E NADA ADIANTOU MAES REPITO DENOVO NUM ME ARREMPEDO DE MANEIRA NENHUMA PQ SEMPRE SEREI TRICOLOR ATER MINHA MORTE. TE AMO SANTA E ATE AMO AMANDA BJS PAIXÃO."
 
De acordo com Carmela Galindo, superintendente do Disque Denúncia de Pernambuco, Everton Felipe Santiago de Santana foi detido nesta segunda-feira depois do serviço receber a informação da participação do torcedor no incidente. Segundo ela, a prisão aconteceu em menos de 48 horas, a prisão mais rápida do Disque Denúncia do Recife, em 14 anos da história. Uma recompensa de R$ 5.000 foi oferecida ao denunciante. Seu anonimato é garantido pelo Disque Denúncia.
 
O vaso sanitário jogado de dentro do estádio Arruda atingiu a cabeça de Paulo Ricardo Gomes da Silva, torcedor do Sport, que acompanhou a partida na torcida do Paraná.  A privada foi jogada de uma distância de aproximadamente 15 metros de altura.
 
Pela atitude da torcida, o Santa Cruz foi punido pela CBF e terá de atuar em seus dois próximos jogos sem fãs nas arquibancadas. A pena será cumprida contra o Lagarto, pela Copa do Brasil, e Luverdense, pela Série B.
 
Depois de ser preso, Everton confessou a participação no crime. Ele continua detido e poderá responder a processo penal por homicídio doloso, quando há a intenção de matar. A pena pode chegar a 30 anos de prisão.
 

Veja o momento em que vaso sanitário é atirado do estádio Arruda e atinge Paulo Ricardo