Livro conta como torcida gay do Grêmio ajudou o Corinthians a sair da fila
Ainda há muitas histórias para serem contadas no futebol. Mais uma prova disso é o recente lançamento do livro "Coligay, tricolor e de todas as cores", escrito pelo jornalista gaúcho (e gremista) Léo Gerchmann. Antes do livro de Gerchmann, era praticamente impossível encontrar registros organizados daquela que é considerada a primeira torcida gay do Brasil, seja em livros e jornais ou na internet.
No livro, Gerchmann entremeia histórias sobre a trajetória da Coligay com capítulos sobre o time e as conquistas do Grêmio à época. A Coligay foi fundada em plena ditadura, em 1977, por iniciativa de Volmar Santos, que era gerente de uma famosa boate gay em Porto Alegre, a Coliseu. A torcida terminou seis anos depois, quando Volmar voltou para sua cidade natal, Passo Fundo.
Há muitos que dizem que o Grêmio de 1977, de Telê Santanta, foi o melhor que já viram jogar. E foi nesse cenário que torcedores apaixonados decidiram expressar seu amor pelo time assumindo a homoafetividade ao mesmo tempo, ganhando fama de pé-quente. A fama foi tão grande que atravessou as fronteiras do Rio Grande do Sul. A Coligay foi convidada pelo presidente do Corinthians na época, o lendário Vicente Matheus, para assistir no Morumbi à final do Campeonato Paulista de 1977. E o convite deu certo: com um gol de Basílio o time venceu o campeonato e encerrou um jejum de 23 anos sem títulos.
"Pagaram a nossa passagem e tudo mais. Fomos muito bem recebidos pelo próprio Vicente Matheus. Éramos umas 20 bichas subindo as escadarias do avião. Aquilo foi um escândalo", lembra Volmar.
Mas o começo da torcida gay gremista não foi fácil: "No primeiro jogo em que fomos ao Olímpico, a surpresa e o desespero dos torcedores foi geral, tanto que queriam brigar e surrar os componentes da torcida por não aceitarem aqueles gays cantando, rebolando", disse Volmar Santos em trecho publicado por Gerchmann no livro. No entanto, o tempo e a dedicação ao Grêmio desta nova turma de torcedores organizados foram tornando comum aquilo que antes parecia anormal, e a Coligay conquistou seu espaço nas arquibancadas do Olímpico, assim como a simpatia dos que amavam o Grêmio tanto quanto eles.
Numa era em que o movimento anti-homofobia no futebol começa a ganhar força, registrar a história da Coligay, primeira torcida LGBT do Brasil, é uma considerável contribuição de Léo Gerchmann ao futebol.
O livro, lançado pela editora Libretos, tem 192 páginas e preço sugerido de R$ 35,00.
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