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Shakhtar espera brasileiros: "Está tranquilo aqui", diz Antonio Carlos

Antonio Carlos Zago assinou contrato com o Shakhtar Donetsk no fim de 2013 - Divulgação/Shakhtar Donetsk
Antonio Carlos Zago assinou contrato com o Shakhtar Donetsk no fim de 2013 Imagem: Divulgação/Shakhtar Donetsk

Guilherme Costa e Vanderlei Lima

Do UOL, em São Paulo

25/07/2014 10h00

A despeito de toda instabilidade política do país e da crise criada depois que um grupo de jogadores brasileiros se recusou a voltar para a Ucrânia, a diretoria do Shakhtar Donetsk ainda pretende contar com Alex Teixeira, Dentinho e Douglas Costa, jogadores que nasceram no país sul-americano e ainda não se apresentaram ao clube. A postura conciliatória foi assegurada na última quinta-feira (24) por Antonio Carlos Zago, que atualmente trabalha como auxiliar-técnico do romeno Mircea Lucescu.

“Nós estamos em Kiev, e a situação aqui está tranquila. O problema é na região de Donetsk, mas o time está a 800 quilômetros de lá. O que foi passado para nós é que vamos ficar aqui até dezembro ou até as coisas se resolverem. Lá eu ficava um pouco ansioso para saber o que ia acontecer, mas aqui não tem isso”, relatou o ex-zagueiro brasileiro em conversa por telefone com o UOL Esporte.

Segundo Zago, a reação dos brasileiros gerou insatisfação no clube ucraniano. “O Lucescu está chateado. Ele tem um carinho especial pelos jogadores brasileiros, e o presidente mais ainda. Eles ainda estão tentando acertar esse problema na base da conversa. Estão esperando que os jogadores voltem, e eu acredito que o clube só vai tomar uma atitude diferente se isso não acontecer”, explicou Zago.

A crise na Ucrânia

A Ucrânia vive forte clima de tensão por causa de uma divisão política e ideológica no país – egressa da União Soviética, a nação tem uma porção pró-Rússia e outro grupo a favor de uma aproximação da União Europeia. O clima entre os dois lados tornou-se mais conturbado em novembro de 2013, quando o presidente Viktor Yanukovych se recusou a assinar um acordo de aproximação com o bloco continental – o tratado vinha sendo alinhavado havia três anos – e se aproximou dos russos.

Naquela ocasião, o governo ucraniano chegou a admitir que tomou a decisão por pressão oriunda de Moscou. Os russos teriam ameaçado cortar algumas relações com a Ucrânia – o fornecimento de gás, por exemplo.

A decisão do presidente e essa revelação do governo acirraram um clima que já não era tranquilo e levaram muita gente às ruas. Houve protestos, e cinco manifestantes morreram em confrontos com a polícia no fim de janeiro. A partir do mês seguinte, as manifestações – e as consequências – ficaram ainda mais violentas.

Em 22 de fevereiro, os protestos causaram a destituição de Yankukovych. Novas eleições foram marcadas para 25 de maio, e o opositor Oleksander Turchynov, presidente do Parlamento, assumiu provisoriamente o comando do país. Ele estabeleceu como prioridade a conversa com a União Europeia, e o grupo pró-Rússia viu em todo o movimento um golpe de Estado.

Esse cenário criou nova onda de protestos. No meio da crise política, um Boeing 777 da Malaysia Airlines caiu na Ucrânia em 17 de julho, a 215 de Donetsk, e matou 298 pessoas. Segundo o governo dos Estados Unidos, o bólido foi atingido por um míssil disparado por rebeldes pró-Moscou. Os norte-americanos ainda usaram imagens de satélites e outras provas para dizer que os terroristas foram treinados por militares russos.

Como a crise afeta o futebol

No futebol, a crise política afetou diretamente o Campeonato Ucraniano. Sevastopol e Tavriya, times da região da Crimeia, anexada ao território russo após referendo popular, decidiram fechar as portas. Ambos serão renomeados e inscritos na Liga Russa.

Nesta sexta-feira, o Dnipro abre o Campeonato Ucraniano contra o Metalurg, que é de Donetsk. O jogo deveria ser em Donetsk, mas a crise política levou o duelo a ser transferido para Lviv.

O Shakhtar tem jogo marcado para 27 de julho, contra o Metalurg Zaporozhye. A comissão técnica ainda não sabe quais jogadores estarão disponíveis até lá. Cinco brasileiros e o argentino Facundo Ferreyra se recusaram a se apresentar ao clube, mas os meio-campistas Ismaily e Fred já aceitaram voltar.

“Pelo que eu fiquei sabendo, estão tentando conversar numa boa para que eles voltem. Parece que a lei é toda a favor do clube porque não existe nenhum problema em Kiev. A Fifa autorizou a realização de jogos aqui e autorizou o começo do Campeonato Ucraniano. Faltam o Dentinho, o Douglas Costa e o Alex Teixeira, mas o clube ainda não falou nada para mim sobre essas situações. Eu também não conversei com eles”, explicou Zago.

Acusações a Kia Joorabchian

Assim como Lucescu havia feito, Zago apontou ação do empresário iraniano Kia Joorabchian na revolta dos jogadores brasileiros: “Não sei baseado em quê, mas ele tirou os atletas da concentração”.

Na segunda-feira, Lucescu disse que Kia apareceu horas antes de um jogo amistoso contra o Lyon. Depois da partida, às 2h, levou os jogadores embora. “Ele tentou fazer o mesmo com [os brasileiros] Luiz Adriano, Ilsinho, Marlos e Taison, que recusaram”, disse o treinador.