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Articulador da CBF nos clubes diz que só nova lei não resolve futebol do BR

Presidente do Coritiba, Vilson Ribeiro de Andrade, recebe troféu de campeão do returno do Brasileirão 2012  - Divulgação/Coritiba
Presidente do Coritiba, Vilson Ribeiro de Andrade, recebe troféu de campeão do returno do Brasileirão 2012 Imagem: Divulgação/Coritiba

Pedro Lopes

Do UOL, em São Paulo

06/08/2014 06h00

Presidente do Coritiba, Vilson Ribeiro de Andrade é um dos dirigentes brasileiros com melhor trânsito na CBF. Considerado o principal elo entre os clubes e a entidade, foi o representante da confederação nas conversas com o Bom Senso FC, e chefe da delegação brasileira na Copa do Mundo. Participou de todo o processo de criação da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRFE), desenvolvida para refinanciar as dívidas dos clubes.

Ao UOL Esporte, Vilson disse que o adiamento da votação do projeto na Câmara dos Deputados – estava prevista para esta terça-feira, mas ficou para outubro, após as eleições, devido a descacordo na base governista sobre detalhes do texto – não surpreendeu em nada os clubes. Também falou que a LFRE, embora tenha um papel importante, sozinha, não irá resolver os problemas do futebol brasileiro, e que a Copa do Mundo teve impacto negativo sobre os clubes do país.

UOL Esporte: O adiamento da votação surpreendeu os clubes? A atuação do Bom Senso FC, que foi ao plenário pedir emendas ao projeto, foi decisiva para que ele não tenha entrado em pauta?
Vilson: Não, os clubes já tinham certeza que não seria votado. A votação dependia de uma definição junto ao Ministério da Fazenda sobre o modelo do alongamento da dívida. Essa definição não ocorreu, não houve nenhum reflexo. Não foi o Bom Senso que barrou, eles tem as reinvidicações deles, justas, sentaram e colocaram. Mas sem o modelo de alongamento, não há como votar.

UOL Esporte: Mas os clubes brasileiros enfrentam graves problemas financeiros. Por que?
Vilson: Isso é fruto do modelo que está aí, que está equivocado. Quando saiu a Timemania, vários clubes confessaram suas dívidas, até algumas que discutiam na justiça e tinham condição de ganhar. Ela prometia R$ 740 milhões por ano, e não rendeu nada perto disso.

UOL Esporte: Existem clubes que podem não conseguir sobreviver até a votação, após as eleições?
Vilson: Não sei, eu não conheço os detalhes de cada um, mas sei que tem alguns com extreme dificuldades no fluxo de caixa diário, enfrentando muitas dificuldades. Na realidade, a Copa do Mundo foi excelente enquanto evento, para o país. Para os clubes, porém, foi um desastre: foram 40 dias sem nada, sem arrecadação. Os investimentos no futebol também migraram para a Copa; na Copa das Confederações, isso já tinha ocorrido, mas na Copa, foi maior. Por isso, você vê muitos clubes com dificuldades para conseguir patrocínio. E nesses casos, quanto maior o clube, maior o custo, maior o problema.

UOL Esporte: Existe solução de curto prazo?
Vilson: A Lei de Responsabilidade Fiscal é um passo importante, mas, sozinha, não vai resolver o futebol brasileiro. Precisamos investir na base, na formação de jogadores. Também precisamos mudar algumas na Lei Pelé – que não faz jus à grandeza de quem lhe dá o nome. Hoje, existe muita gente ganhando dinheiro com futebol, e os clubes são os que menos ganham. Não é só a Lei.

Divergências

A principal discordância entre os deputados e a base governista diz respeito à taxa de juros que será utilizada nas dívidas dos clubes. O texto atual da LRFE, relatada pelo deputado Otávio Leite (PSDB), utiliza a Taxa de Juros de Longo Prazo – TJLP – que é de cerca de 5% ao ano. O Ministério da Fazenda, porém, quer a utilização da taxa Selic, que pode chegar a 12%.

Além disso, o prazo previsto para pagamento, atualmente, é de 25 anos. Não há consenso, e há várias vozes na base governista que preferem um prazo menor. Além disso, o Bom Senso FC defende que dirigentes sejam probidos de antecipar receitas e responsabilizados por endividamento dos clubes. Além disso, pede mecanismos mais rígidos de fiscalização das finanças das equipes.