Como o porco deixou o periquito para trás para ser o mascote do centenário
Muitos clubes grandes enfrentam a viagem através da história revendo de tempos em tempos a sua identidade. Por exemplo, o Barcelona abandonou recentemente uma tradição de décadas para estampar pela primeira vez um patrocínio na camisa. Com o Palmeiras não é diferente. Na chegada ao aniversário de 100 anos, o clube paulistano vê o mascote dos seus primórdios quase esquecido. O periquito entra no segundo século palmeirense ofuscado pelo porco, o preferido da torcida há quase 30 anos.
A história oficial do Palmeiras indica que a figura do periquito surgiu em 1917, quando o Palestra Itália passou a jogar todo de verde. Mas o mascote ganhou popularidade a partir da mudança de nome do clube, no início dos anos 40, durante a Segunda Guerra, após pressões para que o vínculo italiano do clube fosse "suavizado".
Foi com o periquito que o Palmeiras decorou faixas de campeão e flâmulas ao longo dos anos 60 e 70, período vencedor da Academia de Ademir da Guia, Dudu e companhia. Mas a torcida se viu diante de uma troca de identidade pouco tempo depois, em mudança incitada pelos maiores rivais.
Inicialmente a figura do porco surgiu presente em ofensas vindas de corintianos, de forma pejorativa. Em 1969, dois jogadores do time rival morreram em um acidente de carro. O Corinthians então precisava inscrever novos atletas no Campeonato Paulista, mas, pelo regulamento, precisava do aval unânime de todos os outros clubes participantes. No entanto, os palmeirenses acabaram vetando a filiação dos adversários.
Desta forma, com a rivalidade apimentada, os corintianos chamaram os rivais de "sujos" no clássico seguinte entre as duas equipes e soltaram um porco no gramado do Morumbi antes do jogo. A partir daí a pecha incômoda acompanhou os alviverdes por alguns anos.
Mas, durante a década de 80, João Roberto Gobbato, então diretor de marketing do clube, lançou a ideia de assumir o porco. A medida visava desarmar os rivais e também esfriar o clima de violência entre as torcidas.
A sacada demorou a ser aceita totalmente pelas arquibancadas, mas em 1986 o porco já havia se tornado popular entre os palmeirenses. Em novembro deste ano, o meia Jorginho posou na capa da revista Placar segurando um pouco, em uma espécie de gesto de oficialização do novo mascote.
"A diretoria do Palmeiras me chamou, disse que eu era querido pela torcida e que iria aderir ao ‘dá-lhe, porco’. Então foi como surgiu a capa da Placar", relata o ex-meia Jorginho, ídolo alviverde na década de 80.
"O difícil foi segurar o leitãozinho dentro do estúdio para tirar foto. O bicho berrava pra caramba, não dava pra segurar", recorda o ex-palmeirense, que hoje trabalha com venda de embalagens no interior de São Paulo.
Antes disso, no dia 27 de agosto daquela temporada, um dia após o aniversário de 72 anos, o Palmeiras entrou em campo para enfrentar o Corinthians ouvindo sua torcida assumir de vez o mascote: "dá-lhe porco, dá-lhe porco". O animal acabaria sendo "pé quente", com a vitória sobre o rival e a classificação para a final.
"Eu peguei a fase quando a gente jogava no Pacaembu ou no Morumbi. Antes de o Palmeiras aceitar o porco a torcida do Corinthians jogava uns leitões e às vezes soltava no campo. A torcida do Palmeiras não aceitava isso, tinha a rivalidade. A torcida do Palmeiras queria soltar gambá também, mas não dava por causa do cheiro. Então a torcida do Palmeiras na época sempre questionava a questão do porco", recorda Jorginho.
A figura do porco seguiu pautando a rivalidade Palmeiras x Corinthians na década seguinte, quando o rival Viola imitou o animal na comemoração de um gol na final do Paulista. No entanto, os palmeirenses ficaram com a taça, findando um jejum de 16 anos sem títulos.
Mais adiante na mesma década o atacante Paulo Nunes levou o porco para dentro de campo, usando uma máscara que representava o animal para usar em uma comemoração de gol.
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