Corintiano que infartou no Mundial vê jogo perto de casa e médico vai junto
O coração corintiano de Luís Camargo resistiu aos trancos da última quarta-feira, quando o time que ele ama foi jogar a poucas centenas de metros da casa dele, em Cuiabá-MT. O funcionário da prefeitura local sente no peito os dissabores de ter um coração alvinegro. No dia 16 de dezembro de 2012, o dia em que o Corinthians ganhou o mundo, Luís perdeu a festa.
“Minha nuca começou a ficar quente, o corpo todo ficou quente, as pernas pegaram uma tremedeira, as coisas começaram a escurecer, o jogo acabou, todo mundo gritou, pulou e só deu tempo de falar ao meu irmão: ‘Não estou passando bem...’” Depois disso, apagou.
Tinha 41 anos e um amor incondicional pelo Corinthians. Era hipertenso e sedentário. Fazia tratamento para uma coisa, mas não para a outra. Inundado pela onda de otimismo que assaltou os corintianos em 2012, chegou a comprar passagens ao Japão. Mas desistiu da viagem, não se sentia muito bem para uma volta ao mundo. Hoje, diz que não ter ido salvou a sua vida. “Teria voltado em um caixão”, palpita.
Quando a palpitação no peito de Luís se calou naquele 16 de dezembro, ele deu outra sorte. Estava em um bar a apenas cinco minutos da melhor clínica cardiológica da cidade. E ainda mais sorte: tudo aconteceu logo que o jogo acabou, e quase não havia carros na rua. Em Cuiabá, costuma-se fazer carreatas quando o Corinthians vence. Naquele dia, teve carreata, mas só quando Luís já estava no hospital.
Se tivesse infartado alguns minutos depois, talvez ficasse preso no engarrafamento. Para corintianos, tudo é mais sofrido, mas para Luis, aquele foi um infarto “tranquilo”.
Ele ficou 24 horas internado, foi medicado, passou a controlar melhor sua dieta e ir regularmente à academia. Sua vida mudou. Só o fanatismo pelo Corinthians permaneceu o mesmo. Ele continuou viajando a São Paulo para ver o time, continuou comprando apenas camisas oficiais e continuou gastando até R$ 2 mil por fim de semana de futebol.
Esteve, por exemplo, na abertura do Itaquerão, contra o Figueirense, quando o time jogou (e perdeu) a primeira partida em sua nova casa. Luís ficou triste, claro, mas ao mesmo tempo feliz porque seu coração resistiu bem e ele tinha finalmente um estádio para chamar de seu.
O Corinthians em casa
O Itaquerão foi construído para a Copa do Mundo, assim como a Arena Pantanal, erguida sobre as ruínas do antigo estádio Verdão, cuja fachada já foi azul — o estádio tem esse nome em referência ao apelido de Cuiabá, “a cidade verde”.
Na quarta-feira, o local se vestiu de preto e branco para ver Corinthians e Bragantino pela Copa do Brasil. Luís, que mora ao lado, esteve lá. O problema é que duas semanas antes do jogo, o coração dele vacilara de novo: mais um infarto, o segundo infarto em menos de dois anos.
Dessa vez a culpa não foi do Corinthians, pondera Luís. Foi um problema de “15 centímetros de veia entupida”. O corintianismo, mesmo inocentado, virou tópico nas consultas com seu cardiologista. Os dois discutiram sobre a fragilidade do coração convalescente e hipertenso do alvinegro.
Mas o médico acabou não o vetando do jogo, longe disso. “Ele sabe que ficar em casa sozinho é muito mais sofrimento do que estar no estádio”, argumenta o cardíaco.
Além disso, o doutor Jarbas Ferrari também é corintiano. E seria mais um no bando de loucos na Arena Pantanal. “Com você lá, eu posso passar mal à vontade”, os dois brincaram antes de ir ao estádio.
O Corinthians perdeu, reclamou muito da arbitragem e jogou pouco futebol. Vai ter que vencer no jogo de volta para sobreviver na Copa do Brasil. Médico e paciente se separaram na arquibancada. O doutor acabou indo para os camarotes; Luís ficou no setor popular. Mas ele não precisou de ajuda clínica. “O coração está firme e forte, só um pouco triste”, confessou depois do jogo, já no conforto do lar.
No estádio, alguns corintianos tentaram invadir o vestiário para tirar satisfação com os jogadores, e um deles precisou ser contido pela polícia. Luís reprova esse tipo de pressão. “Eu sou fanático pelo Corinthians, mas nunca fiz nada para me prejudicar ou à minha família. Somos loucos, mas sempre com um pé no chão.”
Ele pode ser ruim do coração, mas parece ser bom da cabeça.
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